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Alemanha faz o suficiente para conter o coronavírus?

Oliver Pieper | Augusto Valente
15 de março de 2020

A vida pública no país vai sendo paralisada: concertos, jogos e feiras são cancelados, escolas ficam fechadas, Berlim proíbe eventos acima de 50 participantes – mas tudo muito gradativamente. As medidas vêm a tempo?

Mulher encapotada fala ao celular em ponto de ônibus diante de imagem de um vírus
Coronavírus vai tomando conta da AlemanhaFoto: picture-alliance/dpa/C. Soeder

Um e-mail vai chegando após o outro: o empregador cancelou todas as reuniões das próximas semanas; o promotor cultural informa que aquele artista favorito não vai dar o show do fim de semana; os avós querem adiar a visita aos netos. O mesmo se vê nos serviços de mensagens instantâneas dos celulares de muitos na Alemanha.

A vida pública no país gradualmente se aproxima da paralisia total. A Bundesliga chuta para arquibancadas vazias, os balanços estão vazios nos playgrounds, nos trens intermunicipais e cantinas de repente há um monte de espaço livre: tudo por medo de contribuir para disseminação do novo coronavírus.

O Senado de Berlim já proibiu eventos com mais de 50 participantes. Parece só uma questão de tempo até universidades, escolas, jardins-de-infância, restaurantes e cinemas serem fechado em todo o país, como já ocorre na Itália.

"Agora sabemos bem exatamente que, na atual fase da pandemia, devemos evitar todos os contatos sociais, se ainda quisermos ter a chance de manter no mínimo possível o número de contaminados", afirma o médico Patrick Larscheid, do Departamento de Saúde de Berlim. No Senado da capital, ele exigiu medidas decididas contra o alastramento do coronavírus, limitando-se ao máximo a vida pública para a proteção da população.

A decisão anterior, de cancelar todos os eventos com mais de mil participantes, lhe parecia insuficiente: seria preciso fechar todos os locais onde as pessoas se reúnem, "senão, não vamos mais poder controlar". Afinal, contato social não é apenas a base da felicidade humana, argumentou Larscheid: proximidade também pode provocar doenças, se vírus passam de pessoa a pessoa.

Borussia Mönchengladbach x FC Köln: partida diante de arquibancadas vaziasFoto: picture-alliance/dpa/RHR-FOTO

Enquanto a Espanha decretou quarentena generalizada, na Itália todos os estabelecimentos, exceto supermercados e farmácias, estão fechados. Bares, restaurantes e até mesmo salões de cabelereiro cerraram as portas. O primeiro-ministro Giuseppe Conte em pessoa anunciou a medida, numa mensagem de vídeo.

"Há apenas poucos dias, lhes pedi para mudarem seus hábitos e permanecerem em casa. Eu estava ciente de que esse era um primeiro passo, e que não seria o último. É tempo de dar mais um passo."

A Alemanha não está muito longe de mais esse passo. Quando, no começo de março, o virologista Alexander Kekulé pleiteou "férias de coronavírus" de duas semanas, para todos, a fim de interromper a cadeia de contágio e sustar a peste no estágio inicial, muitos ainda riram dele.

O secretário da Saúde do estado da Renânia do Norte-Vestfália, Karl-Josef Laumann, respondeu que a política não podia tomar medidas "que sejam desproporcionais e portanto desencadeiem histeria". A partida da Bundesliga entre Borussia Mönchengladbach e Borussia Dortmund transcorreu naquele fim de semana diante de mais de 50 mil espectadores, a apenas 40 quilômetros de Heinsberg, a cidade mais afetada pela covid-19.

Controles sanitários na estação ferroviária central de MilãoFoto: picture-alliance/AA/P.M. Tacca

Apenas alguns dias mais tarde, a situação mudou completamente: jogos de futebol e outros eventos com plateia são praticamente impensáveis. Em 12 de março a Filarmônica de Berlim tocou um sofisticado programa de música moderna para uma sala de concertos de 2.440 assentos totalmente vazia. Como consolo, disponibilizou grátis a transmissão ao vivo em seu Digital Concert Hall.

Em diversos cinemas que vendem lugares marcados, deixa-se agora um assento livre entre os espectadores, e muitos evitam as salas de exibição. Por toda parte, escolas são fechadas; o estado de Baden-Württemberg adiou o início do semestre universitário. Eventos culturais como o tradicional Beethovenfest de Bonn são riscados, assim como numerosas feiras internacionais ou a Semana América Latina-Caribe de Berlim. A vida pública vai sendo gradativamente freada, mas ainda em câmera lenta.

Na última semana de fevereiro, o número de passageiros do Aeroporto de Frankfurt caiu 14,5%. O setor taxista registrou queda de faturamento de até 40%, e propõe que possuidores de assinaturas mensais ou anuais para o transporte público possam viajar de táxi pela metade do preço.

Maestro Simon Rattle e Filarmônica de Berlim: música erudita para cadeiras vaziasFoto: picture-alliance/dpa/S. Hoppe

Quem viaja de ônibus em Berlim, só pode entrar pelas portas traseiras, a fim de não contagiar o motorista. E os trens de longa distância são agora limpos a cada duas horas, em vez das usuais quatro; portas, maçanetas e compartimentos de bagagens são desinfetados.

O diretor da Organização Mundial de Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, acusou recentemente diversos governos nacionais por não tomarem medidas suficientes para conter a pandemia do coronavírus.

"Estamos profundamente apreensivos que alguns países não encarem essa ameaça com o empenho político que seria necessário para controlá-la", declarou em Genebra. Não está claro a que países ele se referia, mas é bem possível que a crítica também incluísse a Alemanha.

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