Alemanha ganha primeira cátedra sobre o Holocausto
Dagmar Breitenbach (as)27 de julho de 2015
Disciplina na Universidade Goethe de Frankfurt se volta para os efeitos do assassinato sistemático promovido pelos nazistas. Ainda não está definido quem vai ocupar a cadeira.
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A Universidade Goethe de Frankfurt separou recursos para criar a primeira cátedra sobre o Holocausto. A pesquisa deverá se focar principalmente nos efeitos, ontem e hoje, do assassinato sistemático em larga escala pelo regime nazista. Seis milhões de judeus e integrantes de outros grupos étnicos ou sociais considerados inferiores pelos nazistas foram mortos.
Ainda não está definido quem vai ocupar a catédra, a partir de 2017, mas deverá ser uma personalidade conhecida. "Queremos aproximar o tema das pessoas", explicou o porta-voz da universidade. Além da catédra, o escolhido também assumirá a presidência do Instituto Fritz Bauer, dedicado à pesquisa e à documentação da história dos crimes nazistas.
"Setenta anos depois do fim da Shoá, um passo quem vem tarde", afirmou o secretário da Ciência do estado alemão de Hessen, Boris Rhein. "O esquecimento não deve ter lugar no país dos criminosos", afirmou.
Cátedras, além de programas de pesquisa sobre genocídio e Holocausto para bacharelado e mestrado, já existem há muito tempo nos Estados Unidos e em outros países da Europa. Por isso, o historiador holandês Johannes Houwink ten Cate, que leciona a disciplina desde 2002 em Amsterdã, também considera que esse passo vem tarde na Alemanha, mas que, mesmo assim, ele "é fantástico e extremamente positivo". "Isso combina com o atual destaque que o tema recebe na opinião pública alemã e segue uma tendência internacional", afirma.
Segundo ele, a disciplina é muito procurada pelos estudantes da Universidade de Amsterdã. "É inacreditável como as pessoas se interessam pelo Holocausto."
O vice-presidente da Universidade Goethe, Manfred Schubert-Zsilavecz, afirma que o objetivo não é somente ter uma melhor compreensão do Holocausto. "A cátedra deverá dar importantes impulsos para entender melhor conflitos, discriminações e opressões atuais no mundo a partir da estrutura de domínio nazista", explica.
Segundo ele, a Universidade Goethe é o lugar certo para a primeira cátedra sobre o Holocausto, já que a instituição foi fundada, em 1914, por iniciativa de cidadãos que eram, em sua maioria, judeus.
O Memorial do Holocausto
Artístico, abstrato, imponente. O monumento lembra, desde 10 de maio de 2005, que foi em Berlim que o extermínio dos judeus europeus foi planejado e organizado. Hoje, ele é uma atração turística popular.
Foto: picture-alliance/Wolfram Steinberg
Monumento incomum
Normalmente, monumentos celebram heróis de uma nação. O Memorial do Holocausto de Berlim é exatamente o oposto. Ele é, como afirmou o famoso escritor Martin Walser, em 2011, "o primeiro monumento construído por um povo em memória de seus crimes". A construção recebe diariamente milhares de pessoas e fica 24 por dia aberto ao público.
Foto: picture-alliance/dpa/W. Kumm
Obra de arte imponente
Durante a Segunda Guerra Mundial, os nazistas assassinaram seis milhões de judeus. O genocídio é considerado o maior crime da história. "É um enorme monumento. Ele faz juz ao crime que se destina a lembrar. E o mais incrível é que ele é uma obra de arte", disse Walser. Na foto, é possível ver, ao fundo, a Potsdamer Platz.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Stache
Como um campo ondulado
Em meados de 1998, foi apresentado o modelo para o memorial nas proximidades do Portão de Brandemburgo. Antes, houve uma concorrência. Quatro projetos foram escolhidos. Entre eles, o de um campo repleto de blocos de concreto, do arquiteto americano Peter Eisenman. O então chanceler alemão, Helmut Kohl, achou a ideia a melhor e se empenhou pela sua construção.
Foto: picture-alliance/dpa
O nascimento da ideia
A ideia para o Memorial do Holocausto nasceu em 24 de agosto de 1988, durante um painel de discussão em Berlim Ocidental. A jornalista Lea Rosh reivindicou a construção de um memorial na cidade. Sem a dedicação dela, o monumento não existiria. Ela fez do projeto seu objetivo de vida. Na foto, Rosh faz um discurso durante a inauguração simbólica das obras do monumento, em janeiro de 2000.
Foto: picture-alliance/Berliner_Zeitung
No coração de Berlim
A construção, no centro de Berlim, demorou vários anos. O monumento, de grandes dimensões, entre Reichstag, Portão de Brandenburgo e a Potsdamer Platz, é uma tarefa hercúlea. Ele foi construído em uma área de 19 mil metros quadrados, contendo 2.710 blocos de concreto, dispostos simetricamente. Todos eles ocupam a mesma área, mas têm diferentes alturas. Os custos foi de 27 milhões de euros.
Foto: picture-alliance/dpa
O Stonehenge de Berlim
O monumento se tornou uma atração turística. Todos os anos, centenas de milhares de turistas mergulham no mar de blocos de concreto, muitos deles judeus de diferentes países. O Memorial do Holocausto é um dos lugares mais visitados da capital alemã.
Foto: picture-alliance/Wolfram Steinberg
Detalhes sobre o Holocausto
Sob o campo de blocos de concreto, está um centro de informação. O museu complementa a forma abstrata da lembrança expressada pelo monumento. A exposição permanente dá nomes e rostos às vítimas, mostra destinos individuais e de famílias, suas vidas, sofrimento e morte. Não há imagens dramáticas. O terror se desenrola nas mentes dos visitantes.
Foto: picture-alliance/dpa/P. Grimm
Solidão e desorientação
O quanto mais fundo a pessoa entra no labirinto ondulante, mais aumenta a sensação de desorientação existencial. O visitante perde a noção de lugar. No meio de Berlim, é possível se estar infinitamente longe de tudo. A pessoa pode se sentir solitária, ameaçada, abandonada. É uma tentativa de transmitir a sensação, em escala menor, que a maioria das vítimas do Holocausto experimentou.
Foto: picture-alliance/dpa/O. Spata
O arquiteto
Peter Eisenman (82 anos), autor do memorial, se diz satisfeito que o monumento seja tão bem recebido, que crianças brinquem de se esconder, que jovens façam selfies e casais se beijem. Ele não tinha intenção de criar "um lugar sagrado". Ele também gosta do fato de que o memorial seja tão abstrato. "As pessoas não pensam nem em um campo de concentração ou sequer em algo terrível", ressalta.
Foto: picture-alliance/dpa/B. Pedersen
Convite à reflexão
"Não é possível organizar a forma como as pessoas se lembram do Holocausto", diz Peter Eisenman. Alguns vêm com flores, outros rezam, se sentam nos blocos, brincam, riem ou refletem. Em Berlim, todos são livres para decidir como querem se lembrar do Holocausto. O memorial está sempre aberto e livre. A lembrança também.