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Pesquisa

10 de abril de 2009

Possibilidades para pesquisa na Alemanha reunidas num mesmo endereço: São Paulo vai ganhar um Centro Alemão de Inovação e Pesquisa, com o objetivo de fomentar o intercâmbio científico entre os dois países.

Bertram Heinze: responsável pela implementação do projeto no BrasilFoto: AHK São Paulo

Em janeiro deste ano, o Ministério alemão das Relações Exteriores lançou as diretrizes de sua política externa no setor científico para 2009. No programa, estava incluída uma novidade orçada em 43 milhões de euros: a inauguração de centros de pesquisa em lugares estratégicos do mundo para promover a Alemanha como pólo de pesquisa e incentivar o intercâmbio científico.

E os primeiros lugares definidos como estratégicos foram Moscou, Nova Délhi, Tóquio e São Paulo. Por abrigar o maior pólo industrial alemão fora do país, a escolha da capital paulista não é difícil de entender.

A largada para a criação do Centro Alemão de Inovação e Pesquisa em São Paulo (DWIH, na sigla em alemão) foi dada em março, quando a ministra alemã de Educação e Pesquisa, Annette Schavan, participou do lançamento do projeto na Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha de São Paulo (AHK). A Câmara vai dirigir o projeto em sua versão brasileira.

Bertram Heinze, que coordena a equipe de implementação do projeto no Brasil, disse à Deutsche Welle que o centro será calcado no tripé "divulgação, formação de rede de pesquisa e serviços": seus principais objetivos serão promover a Alemanha como pólo de excelência científica no Brasil, expondo a diversidade da pesquisa na Alemanha e os incentivos existentes para tal.

Heinze já desenvolveu e implantou um projeto para a construção de um escritório da Associação Helmholtz – a maior organização científica alemã – em Moscou. Depois de passar quatro anos e meio à frente desta associação na Rússia, ele chega a São Paulo para começar do zero um projeto que deverá correr a pleno vapor daqui a dois anos.

Deutsche Welle: São Paulo foi escolhida para sediar um dos quatro centros alemães de inovação e pesquisa no mundo. Qual será a função desse centro no Brasil?

Bertram Heinze: Ao longo dos próximos dois anos, vamos constituir um espaço no qual brasileiros que se interessam pela Alemanha como pólo científico terão acesso a todo tipo de informações – por exemplo, quem são as pessoas certas para falar, onde encontrar bolsas, onde morar, como funciona o sistema de visto... Será um centro para facilitar a vida de quem quer buscar cooperações na Alemanha e evitar entraves ou burocracias que possam desestimulá-lo.

Além disso, queremos representar ativamente o pólo científico alemão em toda sua diversidade no Brasil. Ou seja, vamos organizar eventos em torno de temas específicos de pesquisa e ciência – tanto eventos que reúnam um grande número de pesquisadores, quanto encontros menores onde poderemos informar representantes da política, da ciência e do fomento à pesquisa sobre atividades de pesquisa na Alemanha, para fortalecer a cooperação entre os dois países.

Como será essa fase inicial do projeto?

Em março, foi dada a largada para a constituição do centro, ou seja, o conceito deste centro será desenvolvido nos próximos dois anos. Durante esse período, vamos nos estruturar e perguntar quais organizações científicas gostariam de estar diretamente representadas neste centro no futuro, como por exemplo a Fundação Alemã de Pesquisa (DFG) ou a Associação Helmholtz. Poderia ser interessante para essas organizações ter, no futuro, um representante in loco. E nós seríamos, então, um ponto de apoio para elas. Se contarmos com a presença de representantes de diversas organizações, refletiremos uma gama bastante ampla do pólo científico alemão.

Nessa fase inicial, o comitê constitutivo está funcionando dentro da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha em São Paulo. A ideia é que ele tenha um endereço próprio no futuro?

Ministra Annette Schavan lança o projeto na Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha de São PauloFoto: Cristina Villares/ AHK São Paulo

Vai depender da demanda. Aqui na AHK temos escritórios com espaço para quatro ou seis pessoas por enquanto. Se diversas organizações quiserem ser representadas no futuro, vamos precisar de mais espaço e o local vai depender das dimensões necessárias. E também de avaliarmos onde alcançaremos os melhores resultados.

A partir de 2011, se um estudante quiser informações sobre possíveis bolsas de estudo para complementar sua graduação, ou sobre um doutorado na Alemanha, o centro trará todas as informações para atendê-lo?

Não queremos centralizar. Queremos proporcionar uma oferta da forma mais compacta possível. Mas queremos dar toda a liberdade às organizações de terem seus próprios representantes aqui. Vamos oferecer a elas a infra-estrutura e a plataforma necessárias para isso. E poderemos então criar vantagens para todos, organizando eventos conjuntos e aumentando a visibilidade da Alemanha através disso.

Se um estudante interessado em estudar na Alemanha chegar até nós, poderemos informá-lo a respeito das possibilidades existentes: onde ele poderia estudar, como isso poderia ser financiado, se ele também poderia pedir bolsas para instituições brasileiras ou bolsas mistas etc. É isso que queremos ser: uma espécie de one-stop-shop para estudantes, cientistas, pesquisadores, para responder perguntas e tirar dúvidas da melhor forma possível, para que o interesse em ir para a Alemanha aumente.

O que motivou a criação dos Centros de Inovação e Pesquisa pelo Ministério alemão das Relações Exteriores?

Em Moscou, onde passei quatro anos e meio como diretor do escritório da Associação Helmholtz, há, além dessa representação, uma da DFG, outra do Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico (DAAD) e outra do Instituto Fraunhofer. Ou seja, na mesma cidade, há quatro escritórios diferentes de instituições científicas alemãs.

O mesmo acontece em outras países onde organizações científicas da Alemanha estão representadas. Um exemplo é Pequim, onde várias organizações estão representadas lado a lado no mesmo prédio. A ideia por trás do centro foi que faria muito mais sentido se todos trabalhassem no mesmo endereço e dividissem as mesmas salas de eventos, por exemplo. Assim é possível economizar despesas. Sinergia é a palavra-chave.

Outra coisa é que quem se interessa pelo desenvolvimento científico da Alemanha vai logo perceber que o país tem uma oferta muito diversificada. E, naturalmente, é muito mais fácil poder se informar sobre tudo apenas num lugar do que em cinco – isso implica cinco consultas diferentes, custa tempo, e o tempo é escasso para aqueles que realmente estão empenhados em projetos.

As conversas com as organizações já estão em andamento?

Aos poucos, estamos começando. Mas antes temos que tornar a proposta do centro tão atraente que faça sentido para as organizações se estabelecerem aqui, e fazer com que elas percebam vantagens nessa associação. Mas cada uma delas vai tomar sua decisão individual. E quando essas decisões estiverem tomadas, elas poderão ajudar a definir o perfil da casa.

O centro vai fomentar a ciência e a pesquisa, mas é abrigado pela Câmara de Comércio e Indústria da Alemanha em São Paulo. Há interesses convergentes?

Não queremos apenas promover a ciência e a pesquisa de forma isolada. Uma parte muito importante do nosso trabalho vai ser estabelecer pontes entre a ciência e o empresariado, ajudando empresas e centros de pesquisa a estabelecerem contatos. O empresariado está sempre em busca de produtos inovadores, e muitas firmas não têm recursos ou paciência para realizar as pesquisas que levam a eles. Fortalecer esse contato é muito importante para os dois lados.

Entrevista: Júlia Dias Carneiro

Revisão: Soraia Vilela

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