Jovem alemão é primeiro militante jihadista a enfrentar processo criminal no país. Ele teria aderido ao EI em 2013 e participado de combates na Síria. Em troca de confissão e informações, pena deve ser branda.
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Começou nesta segunda-feira (15/09), em Frankfurt, o primeiro processo contra um membro do "Estado Islâmico" (EI) na Alemanha. A procuradoria-geral acusa o jovem Kreshnik B., de 20 anos, de fazer parte de um grupo terrorista internacional e de planejar um crime contra o Estado quando estava na Síria. O alemão com ascendência kosovar foi preso no aeroporto internacional de Frankfurt em dezembro de 2013.
"É uma acusação significativa, não é pouca coisa", afirmou o juiz do Tribunal Superior Regional de Frankfurt, Thomas Sagebiel, antes de propor ao acusado uma pena mais suave em troca de confissão, além de responder a diversas perguntas sobre os motivos de sua passagem pela Síria. Kreshnik poderia então receber uma pena de acordo com o código penal juvenil, de três anos e três meses até quatro anos e três meses de prisão. "Não queremos destruir o seu futuro", explicou o juiz.
No primeiro dia do processo, o acusado não se pronunciou. Mas seu advogado, Mutlu Günal, confirmou que Kreshnik vai depor na sexta-feira. "Nós vamos dar o depoimento juntos", disse Günal, e enfatizou que seu mandante mostrou, com o regresso voluntário da Síria, ter revisto suas decisões. "Ele não é uma pessoa perigosa", concluiu o advogado. Observadores acreditam que o jovem vai dar um depoimento completo e com detalhes.
Após a leitura das acusações, duas gravações de conversas telefônicas foram apresentadas. Nelas, Kreshnik conversa com a família e aparenta insegurança. A irmã tenta convencê-lo a retornar à Alemanha e o acusa: "Você é jovem, burro e ingênuo".
De clube judeu a muçulmano radical
Curioso é o fato de Kreshnik ter atuado por um clube de futebol judeu na adolescência, o Makkabi Frankfurt. Em entrevista a uma rádio, o presidente do clube, Alon Meyer, referiu-se a ele como um "jogador bom e social e que tinha orgulho em carregar a estrela de Davi no peito".
A promotoria parte do princípio que Kreshnik se converteu ao Islã em 2011. Ele teria ido a Istambul em julho de 2013, e de lá seguiu para a província síria de Aleppo. Lá ele teria jurado lealdade a uma unidade de combatentes estrangeiros, adquirido uma arma e participado de treinamentos de tiros. Berisha teria feito serviços médicos e de segurança, cooperado em recrutamentos e participado de alguns combates contra o regime do presidente Bashar al-Assad.
A conduta do jovem não é incomum na Alemanha. O número de jovens que vão à Síria cresce. Desde o início dos conflitos, em 2011, mais de 400 deixaram a Alemanha, segundo dados governamentais. Cerca de cem teriam retornado, e em torno de 25 teriam tido experiências de combate. Também por isso, o ministro do Interior, Thomas de Maizière, proibiu todas as atividades relacionadas ao "Estado Islâmico" na Alemanha, na última sexta-feira.
"Estado Islâmico": de militância sunita a califado
Origens do grupo jihadista remontam à invasão do Iraque, em 2003. Nascido como oposição ao domínio xiita e inicialmente um braço da Al Qaeda, EI passou por mudanças e virou uma ameaça internacional.
Foto: picture-alliance/AP Photo
A origem do "Estado Islâmico"
A trajetória do "Estado Islâmico" (EI) começou em 2003, com a derrubada do ditador iraquiano Saddam Hussein pelos EUA. O grupo sunita surgiu a partir da união de diversas organizações extremistas, leais ao antigo regime, que lutavam contra a ocupação americana e contra a ascensão dos xiitas ao governo iraquiano.
Foto: picture-alliance/AP Photo
Braço da Al Qaeda
A insurreição se tornou cada vez mais radical, à medida que fundamentalistas islâmicos liderados pelo jordaniano Abu Musab al Zarqawi, fundador da Al Qaeda no Iraque (AQI), infiltraram suas alas. Os militantes liderados por Zarqawi eram tão cruéis que tribos sunitas no Iraque ocidental se voltaram contra eles e se aliaram às forças americanas, no que ficou conhecido como "Despertar Sunita".
Foto: AP
Aparente contenção
Em junho de 2006, as Forças Armadas dos EUA mataram Zarqawi numa ofensiva aérea e ele foi sucedido por Abu Ayyub al-Masri e Abu Omar al-Bagdadi. A AQI mudou de nome para Estado Islâmico do Iraque (EII). No ano seguinte, Washington intensificou sua presença militar no país. Masri e Bagdadi foram mortos em 2010.
Foto: AP
Volta dos jihadistas
Após a retirada das tropas dos EUA do Iraque, efetuada entre junho de 2009 e dezembro de 2011, os jihadistas começaram a se reagrupar, tendo como novo líder Abu Bakr al-Bagdadi, que teria convivido e atuado com Zarqawi no Afeganistão. Ele rebatizou o grupo militante sunita como Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL).
Foto: picture alliance/dpa
Ruptura com Al Qaeda
Em 2011, quando a Síria mergulhou na guerra civil, o EIIL atravessou a fronteira para participar da luta contra o presidente Bashar al-Assad. Os jihadistas tentaram se fundir com a Frente Al Nusrah, outro grupo da Síria associado à Al Qaeda. Isso provocou uma ruptura entre o EIIL e a central da Al Qaeda no Paquistão, pois o líder desta, Ayman al-Zawahiri, rejeitou a manobra.
Foto: dapd
Ascensão do "Estado Islâmico"
Apesar do racha com a Al Qaeda, o EIIL fez conquistas significativas na Síria, combatendo tanto as forças de Assad quanto rebeldes moderados. Após estabelecer uma base militar no nordeste do país, lançou uma ofensiva contra o Iraque, tomando sua segunda maior cidade, Mossul, em 10 de junho de 2014. Nesse momento o grupo já havia sido novamente rebatizado, desta vez como "Estado Islâmico".
Foto: picture alliance / AP Photo
Importância de Mossul
A tomada da metrópole iraquiana Mossul foi significativa, tanto do ponto de vista econômico quanto estratégico. Ela é uma importante rota de exportação de petróleo e ponto de convergência dos caminhos para a Síria. Mas a conquista da cidade é vista como apenas uma etapa para os extremistas, que pretenderiam avançar a partir dela.
Foto: Getty Images
Atual abrangência do EI
Além das áreas atingidas pela guerra civil na Síria, o EI avançou continuamente pelo norte e oeste iraquianos, enquanto as forças federais de segurança entravam em colapso. No fim de junho, a organização declarou um "Estado Islâmico" que atravessa a fronteira sírio-iraquiana e tem Abu Bakr al-Bagdadi como "califa".
Foto: Reuters
As leis do "califado"
Abu Bakr al-Bagdadi impôs uma forma implacável da charia, a lei tradicional islâmica, com penas que incluem mutilações e execuções públicas. Membros de minorias religiosas, como cristãos e yazidis, deixaram a região do "califado" após serem colocados diante da opção: converter-se ao islã sunita, pagar um imposto ou serem executados. Os xiitas também eram alvo de perseguição.
Foto: Reuters
Guerra contra o patrimônio histórico
O EI destruiu tesouros arqueológicos milenares em cidades como Palmira (foto), na Síria, ou Mossul, Hatra e Nínive, no Iraque. Eles diziam que esculturas antigas entram em contradição com sua interpretação radical dos princípios do Islã. Especialistas afirmam, porém, que o grupo faturou alto no mercado internacional com a venda ilegal de estátuas menores, enquanto as maiores eram destruídas.
Foto: Fotolia/bbbar
Ameaça terrorista
Durante suas ofensivas armadas, o "Estado Islâmico" saqueou centenas de milhões de dólares em dinheiro e ocupou diversos campos petrolíferos no Iraque e na Síria. Seus militantes também se apossaram do armamento militar de fabricação americana das forças governamentais iraquianas, obtendo, assim, poder de fogo adicional.