Alemanha julga processo contra empresa por degelo dos Andes
Gero Rueter md
25 de novembro de 2016
Começa julgamento sobre o caso do peruano que acusa companhia energética alemã de ser responsável pelos efeitos do aquecimento global na região onde vive. Veredicto pode abrir precedente para outros processos.
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Começou nesta quinta-feira (25/11) em um tribunal da cidade de Essen, no oeste da Alemanha, o processo movido por um pequeno agricultor peruano, com auxílio da ONG ambientalista Germanwatch, contra a gigante alemã do setor energético RWE.
Saúl Luciano Lliuya, de 36 anos, acusa a companhia de contribuir para as mudanças climáticas, que causam o degelo de glaciais na Cordilheira dos Andes. Ele diz ser vítima dos efeitos do aquecimento global na região onde vive e pede uma reparação da empresa, considerada a maior emissora individual de gases poluentes da Europa.
O camponês diz que não esperava que sua causa fosse chegar tão longe quando entrou em contato com a Germanwatch durante a Conferência do Clima da ONU (COP20) em dezembro de 2014, em Lima: "Não esperava tanta repercussão, mas as mudanças climáticas interessam a todos."
Lliuya é guia de montanha, vive e trabalha em Huaraz, uma cidade na Cordilheira Branca, no norte dos Andes peruanos, cerca de 450 quilômetros ao norte de Lima. Ele afirma que sua família e grande parte da cidade onde vive estão enfrentando inundações por causa do derretimento de glaciais causado pelas mudanças climáticas globais.
Como resultado, o nível das águas do lago glacial situado perto da sua cidade está subindo. Ele afirma que isso ameaça a casa de sua família de ser atingida por uma enxurrada.
RWE rejeita acusação
A acusação afirma que as emissões produzidas pelas usinas de carvão da RWE contribuem para cerca de 0,5% da mudança climática global, reivindicando que a empresa financie cerca de 0,5% das medidas necessárias para proteger a casa e a área de Lliyua.
Lliyua pede uma contribuição da companhia de cerca de 17 mil euros, para a administração local empregar no financiamento de medidas preventivas necessárias para evitar uma tragédia, assim como 6.300 euros para trabalhos de proteção já realizados em sua própria casa.
A RWE rejeita a acusação, afirmando que a queixa não tem fundamento legal. Segundo a empresa, o suposto perigo de inundação não foi suficientemente comprovado e não há uma conexão direta entre as emissões de CO2 e o perigo de inundação.
Além disso, as emissões de CO2, neste caso, conforme a RWE, não é ilegal, já que a companhia tem autorização conforme leis de comércio internacional de emissões. A RWE afirma que o caso também é injustificado, porque a mudança climática é um problema global que precisa ser resolvido em nível estatal e internacional, não podendo ser imputado a empresas individuais.
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Vitória improvável
Do ponto de vista legal, uma vitória para parece improvável para o camponês. Casos semelhantes fracassaram no passado, em razão da falta de provas mostrando que o réu é especificamente responsável por possíveis danos.
Em 2013, o Supremo Tribunal dos Estados Unidos rejeitou um processo movido pela cidade de Kivalina, no Alasca, contra a ExxonMobil. Os autores da queixa exigiam indenização da petrolífera, alegando que ela era parcialmente responsável pelo aumento do nível do mar e pela ameaça de inundações.
A luta de David e Golias travada por Lliyua ocorre em um momento em que muitos Estados estão tomando uma visão cada vez mais crítica sobre o uso de combustíveis fósseis. Durante a conferência climática em Paris, há um ano, e a última cúpula em Marrakesh, em novembro, a grande maioria dos delegados concordou que o mundo deveria se distanciar do carvão, do petróleo e do gás.
O veredicto é aguardado para o próximo mês. O caso está atraindo interesse considerável da opinião pública, já que pode criar um precedente na Europa. É a primeira vez que um tribunal civil alemão tem que decidir se uma empresa que contribui para a mudança climática pode ser responsabilizada pelos custos relacionados a ela.
Dez ações contra as mudanças climáticas
Três quartos dos gases estufa são produzidos pela combustão de carvão, petróleo e gás natural; o resto, pela agricultura e desmatamento. Como se podem evitar gases poluentes? Veja dez dicas que qualquer um pode seguir.
Foto: picture-alliance/dpa
Usar menos carvão, petróleo e gás
A maioria dos gases estufa provém das usinas de energia, indústria e transportes. O aquecimento de edifícios é responsável por 6% das emissões globais de gases poluentes. Quem utiliza a energia de forma eficiente e economiza carvão, petróleo e gás também protege o clima.
Foto: picture-alliance/dpa
Produzir a própria energia limpa
Hoje, energia não só vem de usinas termelétricas a carvão, óleo combustível e gás natural. Há alternativas, que atualmente são até mesmo mais econômicas. É possível produzir a própria energia e, muitas vezes, mais do que se consome. Os telhados oferecem bastante espaço para painéis solares, uma tecnologia que já está estabelecida.
Foto: Mobisol
Apoiar boas ideias
Cada vez mais municípios, empresas e cooperativas investem em fontes energéticas renováveis e vendem energia limpa. Este parque solar está situado em Saerbeck, município alemão de 7,2 mil habitantes que produz mais energia do que consome. Na foto, a visita de uma delegação americana à cidade.
Foto: Gemeinde Saerbeck/Ulrich Gunka
Não apoiar empresas poluentes
Um número cada vez maior de cidadãos, companhias de seguro, universidades e cidades evita aplicar seu dinheiro em companhias de combustíveis fósseis. Na Alemanha, Münster é a primeira cidade a aderir ao chamado movimento de desinvestimento. Em nível mundial, essa iniciativa abrange dezenas de cidades. Esse movimento global é dinâmico – todos podem participar.
Foto: 350.org/Linda Choritz
Andar de bicicleta, ônibus e trem
Bicicletas, ônibus e trem economizam bastante CO2. Em comparação com o carro, um ônibus é cinco vezes mais ecológico, e um trem elétrico, até 15 vezes mais. Em Amsterdã, a maior parte da população usa a bicicleta. Por meio de largas ciclovias, a prefeitura da cidade garante o bom funcionamento desse sistema.
Foto: DW/G. Rueter
Melhor não voar
Viajar de avião é extremamente prejudicial ao clima. Os fatos demonstram o dilema: para atender às metas climáticas, cada habitante do planeta deveria produzir, em média, no máximo 5,9 toneladas de CO2 anualmente. No entanto, uma viagem de ida e volta entre Berlim e Nova York ocasiona, por passageiro, já 6,5 toneladas de CO2.
Foto: Getty Images/AFP/P. Huguen
Comer menos carne
Para o clima, também a agricultura é um problema. No plantio do arroz ou nos estômagos de bois, vacas, cabras e ovelhas é produzido o gás metano, que é muito prejudicial ao clima. A criação de gado e o aumento mundial de consumo de carne são críticos também devido à crescente demanda de soja para ração animal. Esse cultivo ocasiona o desmatamento de florestas tropicais.
Foto: Getty Images/J. Sullivan
Comprar alimentos orgânicos
O óxido nitroso é particularmente prejudicial ao clima. Sua contribuição para o efeito estufa global gira em torno de 6%. Ele é produzido em usinas de energia e motores, mas principalmente também através do uso de fertilizantes artificiais no agronegócio. Esse tipo de fertilizante é proibido na agricultura ecológica e, por isso, emite-se menos óxido nitroso, o que ajuda a proteger o clima.
Foto: imago/R. Lueger
Sustentabilidade na construção e no consumo
Na produção de aço e cimento emite-se muito CO2, em contrapartida, ele é retirado da atmosfera no processo de crescimento das plantas. A escolha consciente de materiais de construção ajuda o clima. O mesmo vale para o consumo em geral. Para uma massagem, não se precisa de combustível fóssil, mas para copos plásticos, que todo dia acabam no lixo, necessita-se uma grande quantidade dele.
Foto: Oliver Ristau
Assumir responsabilidades
Como evitar gases estufa, para que, em todo mundo, as crianças e os filhos que elas virão a ter possam viver bem sem uma catástrofe do clima? Esses estudantes estão fascinados com a energia mais limpa e veem uma chance para o seu futuro. Todos podem ajudar para que isso possa acontecer.