Segundo governo, iniciativa garante que consumidores possam optar por artigos têxteis produzidos respeitando padrões sociais e ambientais. Mas críticos afirmam que medida é fraca e acrescenta pouco a selos já existentes.
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A Alemanha lançou nesta segunda-feira (09/09) um selo para têxteis fabricados de forma sustentável. Batizado de Botão Verde, o novo carimbo estatal visa fornecer uma garantia aos consumidores para roupas cuja produção atende a certos padrões sociais e ambientais, incluindo salário mínimo para trabalhadores, proibição de trabalho infantil e o uso de certos produtos químicos e poluentes.
"Todo mundo dizia que não havia como certificar uma cadeia de suprimentos inteira até a loja", afirmou o ministro alemão do Desenvolvimento, Gerd Müller, ao jornal Augsburger Allgemeine. "Mas mostramos agora que isso é realmente possível com o exemplo dos têxteis."
Müller disse que a vontade de lançar um selo para garantir a responsabilidade social e a segurança da indústria de roupas foi impulsionada pelo desabamento, em 2013, do edifício Rana Plaza, prédio que abrigava fábricas têxteis na periferia de Daca, em Bangladesh. Mais de 1.130 pessoas morreram e quase 2.500 funcionários ficaram feridos no edifício, onde eram produzidas roupas para grandes cadeias, como Benetton, Primark, Walmart e Mango.
O selo já foi aplicado a produtos de algumas marcas alemãs menores, mas também para produtos de grandes cadeias, como a rede de supermercados Lidl e de lojas Tchibo.
Críticas ao selo
A iniciativa, contudo, foi bastante criticada pela indústria têxtil, que argumenta que o selo é supérfluo e cria estruturas duplicadas para aquelas já existentes. Críticos também afirmam que, se apenas a Alemanha participar, não haverá uma diferença real diante de um setor globalizado. "A iniciativa é boa, mas a implementação não é", avalia Uwe Wötzel, do braço alemão da aliança internacional Campanha por Roupas Limpas (Clean Clothes Campaign).
Wötzel afirma que "os critérios são simplesmente muito fracos" para fazer a diferença, no que diz respeito à sustentabilidade e à garantia de que os trabalhadores têxteis sejam empregados em condições justas e seguras. "Por exemplo, o salário mínimo estabelecido pelo selo é tão baixo que ninguém poderia viver com isso", ressalta.
Ele também critica que empresas que produzem na União Europeia recebem carta branca: elas podem obter o selo do governo alemão sem precisar provar que respeitam os direitos humanos e trabalhistas. No entanto, estudos mostram que há violações maciças a direitos trabalhistas em países do bloco, como Bulgária e Romênia.
A federação alemã de centrais de defesa do consumidor informou que prefere esperar algum tempo para ver se haverá efeitos reais do novo selo na indústria de vestuário do país.
De onde vêm as peças baratas que custam apenas alguns euros? O fotógrafo esloveno Jost Franko documentou a jornada dos têxteis baratos desde os campos de algodão até os shoppings ocidentais.
Foto: Jost Franko
Suar pelos ricos
Issa Gira, de 67 anos, planta algodão há vários anos em Burkina Faso, mas continua lucrando menos de um dólar por dia. Toda a família tem de ajudá-lo na lavoura, inclusive o garoto da foto. O consumidor final nem toma conhecimento das precárias condições em que vivem essas pessoas.
Foto: Jost Franko
Controle do peso
Após a colheita, os agricultores de Burkina Faso trazem o produto para os postos de coleta na vila mais próxima. Antes disso, uns ajudam os outros a comprimir o algodão em grandes fardos, para pesá-lo. "Ninguém se preocupa com o cultivo, o primeiro elo da cadeia de produção de roupas", adverte o fotógrafo.
Foto: Jost Franko
Quase tão valioso quanto ouro
Mais de quatro milhões de pessoas trabalham na produção de algodão em Burkina Faso. O algodão é a segunda matéria-prima burquinense mais valiosa, depois do ouro. A Sofitex é uma das três empresas no país que compram o algodão dos agricultores e lhes dá empréstimos. A Sofitex exporta cerca de 540 mil toneladas de algodão por ano. Na foto, agricultores em cima de um contêiner da empresa.
Foto: Jost Franko
Colonialismo moderno
"Os subsídios do Ocidente para a produção de algodão levam a dumping nos preços, causando altos prejuízos aos países pobres", afirma Franko. Para ele, a produção de algodão e de roupas nos países pobres é só outra forma de colonialismo. "As pequenas empresas muitas vezes trabalham como contratadas de empresas maiores. O aluguel é caro para os trabalhadores, por isso eles também dormem no local."
Foto: Jost Franko
Costureiras em Daca
Trabalhadoras cortam tecido em uma fábrica em Daca, Bangladesh, coração mundial da indústria têxtil barata, onde elas ganham em média 2,20 euros por dia. Empresas como H&M, Walt Disney e Lidl têm seus produtos fabricados aqui. A região foi manchete em 24 de abril de 2013, quando o prédio Rana Plaza desabou, causando a morte de 1.129 pessoas.
Foto: Jost Franko
O outro lado da União Europeia
"É difícil falar de condições justas de produção mesmo em marcas caras", diz Franko sobre esta foto, que mostra trabalhadores romenos. "As condições de trabalho nas fábricas de roupas da Romênia são muito melhores que na maioria dos países asiáticos e africanos, mas os salários, de no máximo 200 euros, ainda são extremamente baixos, em certos casos menores que na China. E essa é a União Europeia!"
Foto: Jost Franko
Curta vida útil
A indústria da moda passa por uma estagnação em termos de tendências. Por isso, muitas peças de roupa podem ser usadas por mais tempo. Mesmo assim, a cada ano são vendidas mais de 80 bilhões de peças em todo o mundo. A má qualidade e o baixo preço facilitam o descarte. Só nos Estados Unidos surgem a cada ano mais de 15 milhões de toneladas de lixo têxtil.
Foto: Jost Franko
De olho só no preço
"O algodão tem uma história obscura, e, na minha opinião, os problemas decorrentes de seu comércio nunca foram resolvidos", lamenta o fotógrafo Jost Franko. Embora se fale muito disso, os consumidores parecem não se preocupar: "Acho que é mais fácil fechar os olhos. Os problemas têm raízes profundas e não são só da indústria têxtil."
Foto: Jost Franko
Movimento global
Fashion Revolution é um movimento global que exige maior transparência, sustentabilidade e ética na indústria da moda. A semana em que se lembra o desabamento do Rana Plaza em Bangladesh foi declarada Semana da Revolução da Moda, com a campanha #whomademyclothes, em que o consumidor é encorajado a questionar "Quem fez minhas roupas" e exigir maior transparência na cadeia de produção de têxteis.