Nova terminologia
14 de novembro de 2009Depois do ministro alemão da Defesa, Karl-Theodor zu Guttenberg, foi a vez de a chanceler federal alemã, Angela Merkel, usar a palavra guerra para se referir à missão da Bundeswehr (Forças Armadas da Alemanha) no Afeganistão.
Em entrevista à edição deste sábado (14/11) do jornal Frankfurter Allgemeine Zeitung, Merkel declarou que compartilha a opinião de Guttenberg de que, "do ponto de vista de nossos soldados, há situações semelhantes a uma guerra em partes do Afeganistão, ainda que o conceito 'guerra', segundo o Direito Internacional, não possa ser aplicado".
Antes dela, Guttenberg havia dito à rede de emissoras ARD: "Conforme o Direito Internacional uma guerra, na acepção clássica do termo, acontece entre dois países. Mas eu entendo cada soldado que está no local [Afeganistão] e fala de guerra".
Ao jornal Bild, o ministro declarou: "Vou ser franco: em partes do Afeganistão há, sem dúvida alguma, situações semelhantes a uma guerra. A missão no Afeganistão é há anos também uma missão de combate."
Manter a paz sem participar de combates
Políticos alemães costumam evitar a palavra "guerra" para se referir a missões da Bundeswehr no exterior. O termo encontra repulsa junto à população alemã desde o final da Segunda Guerra Mundial. Ao mesmo tempo em que apoiam missões de paz no exterior, muitos alemães rejeitam a participação de soldados da Bundeswehr em combates.
O antecessor de Guttenberg no Ministério da Defesa, Franz Josef Jung, nunca falou em guerra ao se referir à presença militar alemã no Afeganistão, preferindo o termo "missão de estabilização e promoção da paz".
A Associação das Forças Armadas, que reúne os militares alemães, apoiou as palavras de Guttenberg. "Somos muito gratos ao ministro por ele chamar as coisas pelo nome. Com isso a gravidade da situação fica clara. Nossas mulheres e homens que enfrentam o cotidiano dos combates dizem que isso é guerra."
Ex-chanceler federal questiona presença no Afeganistão
A mudança de discurso adotada por Guttenberg também foi apoiada pelo ex-chanceler federal Helmut Schmidt. "Finalmente alguém falou a verdade, ainda que isso não mude nada por enquanto", declarou em entrevista ao jornal Hamburger Abendblatt.
Schmidt questionou a presença alemã no país asiático. Ele disse ter dúvidas de que a intervenção traga um resultado aceitável. "Essa guerra já dura oito anos – mais do que as duas Guerras Mundiais juntas", lembrou.
Nesta sexta-feira, durante uma visita surpresa ao Afeganistão, Guttenberg disse que enviará mais 120 soldados alemães ao país a partir de janeiro.
AS/dpa/afp
Revisão: Roselaine Wandscheer