Alemanha não deve alcançar meta de redução de emissões para 2020
25 de julho de 2014O Ministério do Meio Ambiente alemão admitiu nesta semana que o país provavelmente não vai alcançar sua meta de redução de gases do efeito estufa. A ministra da pasta, Barbara Hendricks, afirmou que a Alemanha está em vias de reduzir em 33% essas emissões até 2020, em relação aos níveis de 1990. Tal redução é inferior à meta anteriormente estipulada, de 40%.
Bärbel Höhn, deputada do Partido Verde, alega que a meta não será alcançada, porque o país não fez o suficiente para tornar a proteção climática uma prioridade. "[A chanceler federal] Angela Merkel costumava ser a rainha do clima na Europa. Mas, desde que a Alemanha ocupou a presidência do Conselho da União Europeia [em 2007], não houve avanços suficientes", considera.
A deputada afirma que os planos iniciais para a mudança da matriz energética retrocederam e que a Alemanha continua operando usinas termelétricas movidas a carvão, sem qualquer perspectiva de eliminá-las.
"O país conseguiu muitos avanços na área de proteção climática, mas deixou de ser visto como o principal exemplo nos últimos anos. E o mesmo pode ser dito da União Europeia (UE)", afirma Höhn.
Com relação às últimas estimativas do Ministério do Meio Ambiente, a deputada afirma que o déficit na meta de redução poderia ser ainda maior, considerando que as estimativas do governo alemão foram baseadas numa taxa de crescimento econômico de 1,4%.
"Nos últimos anos, a Alemanha cresceu mais do que 2%. Mesmo que esse crescimento continue a 1,7%, digamos, isso poderia significar que ficaremos a outros 2% de distância das metas de redução de emissões", diz.
Uma pesquisa da organização ambientalista WWF na Alemanha aponta para um quadro ainda pior: o país poderia ficar a 10,7% de atingir os objetivos de redução de emissões previstos para 2020.
Entretatanto, quando comparadas às metas europeias, as alemãs – de 40% até 2020 e 55% até 2030 – são bem mais ambiciosas. A Europa almeja uma redução de apenas 20% até o fim desta década.
Carvão e CO2
A notícia da estimativa deficitária foi revelada pelo Ministério do Meio Ambiente no mesmo dia em que a WWF lançou um relatório sobre as trinta usinas termelétricas movidas a carvão mais poluentes da Europa – intitulado, em inglês, Europe's Dirty 30. Entre as cinco usinas no topo da lista, quatro estão na Alemanha.
Há anos, ambientalistas afirmam que a indústria do carvão é uma pedra no caminho da mudança da matriz energética. Mas para Lothar Lambertz, da RWE Power – uma das maiores produtoras de energia a partir do carvão no país –, não é possível reduzir o problema de emissões de gases do efeito estufa focando somente num setor.
"Eu posso falar somente em nome da RWE, é claro, mas digo que fizemos muito no sentido de reduzir os níveis de CO2 emitidos por nossas usinas", afirma. Lambertz afirma que reformas em suas instalações levaram a RWE a produzir 9 milhões de toneladas de dióxido de carbono a menos por ano.
Ele acrescenta que o carvão é uma opção estável e barata, especialmente depois que a Alemanha decidiu desligar todas as usinas nucleares, após o acidente em Fukushima. "Se 10 mil megawatts são retirados da rede, eles precisam ser substituídos em algum lugar", completa.
Comércio de licenças
Para Juliette de Grandpré, da WWF, o motivo pelo qual a Alemanha e outros países europeus não conseguem uma maior redução das emissões de gases do efeito estufa é o principal instrumento europeu de redução, o Regime Comunitário de Licenças de Emissão (RCLE-UE).
Nesse modelo, poluidores são forçados a comprar licenças para pagar por suas emissões de dióxido de carbono que vão além do limite estipulado pela UE. Normalmente, uma licença custa cerca de 5 euros para cada tonelada de CO2 produzida a mais.
"Temos que tentar reformar o sistema de comércio de emissões. Afinal, ele tem validade até 2050, e nós precisamos dele, pois é o principal instrumento para a redução de CO2", diz Grandpré.
A maioria dos especialistas concorda que, no momento, o preço das licenças é muito baixo para motivar as empresas a realmente reduzirem suas emissões. Esses valores resultam de uma oferta excessiva de licenças, bem como do fato de que algumas empresas compram certificados mais baratos fora da UE, afirma a especialista.
Grandpré e Höhn concordam que estipular um preço mínimo para as licenças, como já acontece no Reino Unido, é o único caminho para tornar o mercado de emissões mais eficiente.
Por sua vez, o Ministério do Meio Ambiente da Alemanha afirma que uma série de medidas precisa ser tomada para que o país tenha chance de alcançar a meta de redução de emissões inicialmente estipulada para 2020.