Merkel: Alemanha não participará de ação militar na Síria
13 de abril de 2018
Chanceler disse que há “muitos indícios” de que Damasco voltou a usar armas químicas. Casa Branca volta a afirmar que nenhuma decisão final sobre ataque foi tomada.
Anúncio
A chanceler federal Angela Merkel disse nesta quinta-feira (12/04) que a Alemanha não vai tomar parte em uma eventual ação militar contra o regime sírio em resposta ao ataque químico contra uma área rebelde no último final de semana.
Os EUA, a França e o Reino Unido apontaram que o governo de Bashar al-Assad pode ter cometido o ataque e ainda estudam uma possível retaliação militar contra as forças do ditador.
Diante da escalada de tensão na região, Merkel tratou de esclarecer a posição da Alemanha.
"A Alemanha não participará de uma possível – ainda não houve nenhuma decisão, quero enfatizar isso – ação militar”, disse, após reunião com o primeiro-ministro dinamarquês, Lars Lokke Rasmussen, em Berlim.
"Mas, nós apoiamos tudo que está sendo feito para mostrar que o uso de armas químicas não é aceitável”, disse Merkel, acrescentando que, se for necessário, a Alemanha vai procurar ajudar os EUA, a França e o Reino Unido por meio de ajuda que não envolva militares.
No momento, a Alemanha participa na Síria e no Iraque junto com os EUA e outros países dos esforços militares para combater as forças terroristas do Estado Islâmico (EI). A operação foi iniciada em 2015 e desde então a Alemanha vem empregando aviões de reconhecimento e de reabastecimento na região.
Merkel também apontou "há muito indícios de que o regime sírio empregou armas químicas novamente, como já fez há cerca de um ano”.
A chanceler também criticou brevemente a Rússia – aliada do regime sírio –, que nesta semana vetou no Conselho de Segurança uma resolução dos EUA para a formação de uma equipe de inquérito para investigar o ataque químico. Para Merkel, esse tipo de ação "não conta a favor da Rússia”.
Também nesta quinta-feira, o ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Heiko Mass, disse que nem os franceses nem os americanos procuraram os alemães para pedir assistência militar.
Merkel foi questionada por repórteres sobre o que pensava sobre a linguagem belicosa e por vezes contraditória do presidente dos EUA, Donald Trump, que em dado momento pareceu anunciar um ataque iminente contra a Síria e depois moderou o tom. Merkel, no entanto, evitou responder.
Ainda sem uma decisão
Na quarta-feira, Trump disse no Twitter em tom de provocação com os russos que mísseis seriam disparados na Síria. "A Rússia ameaçou derrubar todos os mísseis disparados na Síria. Prepare-se, Rússia, porque eles vão chegar, bonitos, novos e 'smart'. Vocês não deveriam ser parceiros desse animal que mata com gás seu próprio povo e tem prazer nisso", disse o presidente americano.
No mesmo dia, no entanto, assessores de Trump disseram que nenhuma decisão definitiva sobre um ataque contra o regime sírio havia sido tomada. Nesta quinta-feira, o próprio Trump afastou a possibilidade de um ataque iminente.
"Nunca disse quando um ataque à Síria ocorreria. Pode ser logo ou não tão logo assim", disse o presidente por meio do Twitter.
Na noite desta quinta-feira, a Casa Branca mais uma vez reforçou que nenhuma decisão final foi tomada.
"Ainda estamos solicitando relatórios de inteligência e estamos tendo conversas com nossos parceiros e aliados”, informou a porta-voz Casa Branca, Sarah Huckabee Sanders, em comunicado. "Não se chegou a uma decisão final".
Trump mencionou o assunto mais uma vez durante a noite e se limitou a dizer que uma decisão sobre a Síria será tomada "razoavelmente em breve”. Ele acrescentou que está olhando "muito, muito seriamente” para a situação.
Os aliados dos EUA também ainda parecem estar estudando suas opções e indicaram que nenhuma decisão final foi tomada. Os EUA, França e o Reino Unido têm efetuado consultas sobre o lançamento de um ataque militar, mas o momento e a escala de qualquer ação ainda não estão claros.
O gabinete de crise britânico deu hoje "luz verde” à primeira-ministra, Theresa May, para se juntar aos EUA e à França, mas disse que o Reino Unido ainda está na fase de planejamento de um possível resposta militar.
Já Presidente francês, Emmanuel Macron, afirmou hoje que dispõe de "provas" de que o regime de Bashar al-Assad utilizou armas químicas, mas disse que a França tomará decisões "em tempo oportuno".
JPS/rt/afp/lusa
_______________
A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas. Siga-nos noFacebook | Twitter | YouTube | WhatsApp | App
Cronologia da guerra na Síria
O que se iniciou com protestos pacíficos em 2011 virou uma guerra civil brutal que já matou centenas de milhares de pessoas e fez milhões de refugiados. Reveja os principais acontecimentos.
Foto: Reuters/Stringer
2011: O início
Em 15 de março de 2011, protestos pacíficos contra a detenção de jovens acusados de fazer pichações antigoverno em sua escola, na cidade de Daraa, são reprimidos por forças de segurança, que abrem fogo contra manifestantes desarmados, matando quatro. Os protestos continuam por vários dias, fazendo 60 mortos e se espalham por todo o país. Segue-se um período de repressão violenta.
Foto: Anwar Amro/AFP/Getty Images
2011/2012: Isolamento internacional
O ex-presidente Barack Obama insta o presidente Bashar al-Assad a renunciar, e os EUA anunciam sanções a Assad em maio e congelam bens do governo sírio nos EUA em agosto de 2011. A União Europeia também anuncia sanções, em setembro. Em novembro, a Liga Árabe suspende a Síria e impõe sanções ao regime. Também a Turquia anuncia uma série de medidas, incluindo sanções, em dezembro.
Foto: AP
2012: Observadores internacionais desistem
Em dezembro de 2011, a Síria permite a entrada de observadores da Liga Árabe para monitorar a retirada de tropas e armas de áreas civis. A missão é suspensa em janeiro de 2012. Em fevereiro, os EUA fecham sua embaixada em Damasco. Em abril de 2012, chegam observadores da ONU, que partem dois meses depois por falta de segurança.
Foto: REUTERS
2013: Ataque com gás
Em março, um ataque com gás mata 26 pessoas, ao menos a metade deles soldados do governo, na cidade de Khan al-Assal. Investigação da ONU conclui que foi usado gás sarin. Em agosto, outro ataque com gás mata centenas em Ghouta Oriental, um subúrbio de Damasco controlado pelos rebeldes. A ONU afirma que mísseis com gás sarin foram lançados em áreas civis. Os EUA e outros países culpam regime sírio.
Foto: picture-alliance/AP Photo
2013: Destruição de armas químicas
Em agosto, investigadores da ONU chegam à Síria para averiguar o uso de armas químicas, em meio a denúncias de médicos e ativistas. EUA afirmam que 1.429 pessoas morreram num ataque, e Obama pede ao Congresso autorização para ação militar. Em setembro, o Conselho de Segurança da ONU ameaça usar a força e, em outubro, Damasco inicia a destruição de seu arsenal declarado de armas químicas.
Foto: AFP/Getty Images
2014: EUA atacam "Estado Islâmico"
Em setembro, os EUA iniciam ataques aéreos a alvos do "Estado Islâmico" na Síria. Em outubro, o mediador da ONU, Staffan de Mistura, começa a negociar uma trégua ao redor de Aleppo, mas o plano fracassa meses depois.
Foto: picture-alliance/AP Photo/V. Ghirda
2015: Rússia entra no conflito
Em setembro, a Rússia, que desde o início fornecera ajuda militar ao governo sírio nos bastidores, entra ativamente no conflito, bombardeando opositores do regime. A ajuda se mostra decisiva, e a guerra civil passa a pender para o lado de Assad, que nos meses seguintes recupera território perdido para os rebeldes.
Foto: Reuters/Rurtr
2016: Governo controla Aleppo
A ONU e a Opac afirmam que tanto militares sírios quanto o "Estado Islâmico" usaram gás em ataques a opositores. O ano é marcado por várias tentativas de tréguas. Em setembro, a cidade de Aleppo é alvo de 200 ataques aéreos por forças pró-Assad num fim de semana. Em dezembro, as forças governamentais assumem controle de Aleppo, encerrando quatro anos de domínio dos rebeldes.
Foto: Getty Images/AFP/G. Ourfalian
2017: Ataque em Idlib
Em fevereiro, Rússia e China vetam resolução do Conselho de Segurança da ONU pedindo sanções ao governo sírio pelo uso de armas químicas. Em abril, ao menos 58 pessoas morrem na província de Idlib, dominada pelos rebeldes, no que aparenta ser um ataque com gás. Testemunhas afirmam que o ataque foi executado por jatos sírios e russos, mas tanto Moscou quanto Damasco negam bombardeio.
Foto: Getty Images/AFP/O. H. Kadour
2017: Resposta dos EUA
Em abril, os EUA lançam dezenas de mísseis sobre a base militar de onde se acredita ter saído o ataque em Idlib. Em maio, o presidente Donald Trump aprova planos para armar combatentes das milícias curdas YPG na luta contra o "Estado Islâmico". A medida enfurece a Turquia, que vê as YPG como um grupo terrorista. Em outubro, o "Estado Islâmico" perde o controle de Raqqa, sua autoproclamada capital.
Em janeiro, aviões turcos bombardeiam a região curda de Afrin, dando início à operação contra as YPG intitulada "Ramo de Oliveira". A Turquia anuncia a morte de centenas de "terroristas", mas entre os mortos estão dezenas de civis, dizem ativistas. Em fevereiro, as milícias YPG chegam a acordo com o regime sírio para o envio de tropas pró-governo para auxiliar no combate aos turcos em Afrin.
Foto: picture alliance/AA/E. Sansar
2018: Ofensiva em Ghouta Oriental
Em 21 de fevereiro, tropas pró-regime executam ofensiva em larga escala contra enclave rebelde localizado ao leste de Damasco. Em torno de 400 mil civis ficam sitiados, com acesso limitado a alimentos e cuidados médicos. Os ataques matam centenas de pessoas. No dia 24 de fevereiro, o Conselho de Segurança da ONU aprova trégua humanitária de 30 dias vigente em todo o território sírio. Ela fracassa.
Foto: Reuters/B. Khabieh
2018: O bombardeio ocidental
Após dias de ameaça, em 14 de abril Trump anuncia o lançamento de mais de cem mísseis, em conjunto com França e Reino Unido, na Síria. O ataque é uma retaliação ao ataque químico na cidade de Duma, que matou dezenas de civis e que o Ocidente atribui ao regime de Bashar al-Assad.
Foto: picture-alliance/AP Photo/L. Matthews
2019: Estados Unidos começam a se retirar da Síria
Em janeiro de 2019, os Estados Unidos começaram a se retirar da Síria. O presidente americano afirmou que o Estado Islâmico havia sido derrotado e, por isso, a presença dos EUA não seria mais necessária. A decisão foi contestada dentro do próprio governo e também pelas milícias curdas na Síria, aliadas dos EUA, que temiam enfraquecer-se.
Foto: Getty Images/AFP/D. Souleiman
2019: fim do autoproclamado califado do EI
Em março de 2019, as Forças Democráticas Sírias (FDS), aliança liderada por curdos, anunciaram que o autoproclamado califado do Estado Islâmico foi totalmente eliminado, após combates em Baghouz, considerado o último reduto jihadista na Síria. Militantes curdos e árabes das FDS, apoiados pela coalizão internacional liderada pelos EUA, combatiam há várias semanas os jihadistas.