Alemanha pede perdão por crimes coloniais na Tanzânia
1 de novembro de 2023
Em visita ao país africano, presidente alemão se desculpa pelos massacres sangrentos que mataram centenas de milhares de tanzanianos durante o período colonial.
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O presidente da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, pediu perdão nesta quarta-feira (01/11) pelos crimes e massacres cometidos na Tanzânia durante o domínio colonial alemão.
"Gostaria de pedir perdão pelo que os alemães fizeram com seus ancestrais aqui", disse Steinmeier durante uma visita ao Museu Maji Maji, na cidade de Songea, no sul da Tanzânia. "Quero assegurar-lhes que nós, alemães, buscaremos com vocês respostas para as perguntas não respondidas que não lhes dão paz."
A parte continental da Tanzânia fazia parte da antiga África Oriental Alemã, colônia no leste do continente africano que foi criada nos anos 1880 e dissolvida durante a Primeira Guerra Mundial, quando foi tomada for forças do Reino Unido.
Nesse período, entre o fim do século 19 e o início do século 20, a Alemanha manteve várias colônias, incluindo territórios na atual Tanzânia, Burundi, Ruanda, Namíbia, Camarões, Togo e Gana.
O passado colonial da Alemanha e seus efeitos no presente
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"História compartilhada"
Especialistas estimam que entre 200 mil e 300 mil indígenas da Tanzânia foram assassinados durante os chamados levantes da Rebelião Maji Maji entre 1905 e 1907.
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Considerada uma das revoltas mais sangrentas da história colonial, as tropas alemãs participaram da destruição sistemática de campos e vilarejos locais.
Falando sobre a "vergonha" sentida em relação aos massacres, Steinmeier disse que a Alemanha está pronta para cooperar com a Tanzânia em um "processamento comunitário" do passado.
O presidente prometeu ainda compartilhar as histórias que aprendeu no Museu Maji Maji com o povo alemão. "O que aconteceu aqui é nossa história compartilhada – a história de seus ancestrais e a história de nossos ancestrais na Alemanha", disse.
Na terça-feira, no segundo dia da viagem de três dias de Steinmeier à Tanzânia, ele afirmou que a Alemanha consideraria "a repatriação de propriedade cultural e restos humanos".
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Governada por uma mulher
Agora, Alemanha e Tanzânia dizem que pretendem fortalecer suas relações. A presidente tanzaniana, Samia Hassan Suluhu, de 63 anos, é a única mulher chefe de Estado com poderes executivos no continente africano atualmente.
Suluhu reverteu muitas das políticas de seu antecessor, inclusive a proibição de manifestações, restaurando as licenças dos jornais e libertando os líderes da oposição presos.
A Anistia Internacional, no entanto, ainda observa que há muitas deficiências de direitos humanos no país, incluindo limitações à imprensa e à liberdade de reunião.
A Tanzânia tem uma das economias mais fortes da África Subsaariana e espera-se que atinja uma taxa de crescimento econômico de 4,9% neste ano, maior do que a prevista para a Alemanha.
ek (DPA, AFP)
Dez fatos sobre a Alemanha colonialista
Os dolorosos legados do passado colonial alemão.
Foto: Jürgen Bätz/dpa/picture alliance
"Nosso futuro está na água"
Sob o chanceler Otto von Bismarck, o Império Alemão estabeleceu colônias nos atuais territórios da Namíbia, Camarões, Togo, partes da Tanzânia e do Quênia. O imperador Guilherme 2°, coroado em 1888, procurou expandir ainda mais as possessões coloniais através da criação de novas frotas de navios. O império queria seu "lugar ao Sol", declarou Bernhard von Bülow, um chanceler posterior, em 1897.
Foto: picture alliance/dpa/K-D.Gabbert
Colônias alemãs
Foram adquiridos territórios no Pacífico (Nova Guiné do Norte, Arquipélago de Bismarck, Ilhas Marshall e Ilhas Salomão, Samoa) e na China (Qingdao). Em 1890, uma conferência em Bruxelas determinou que o Império Alemão obtivesse os reinos de Ruanda e Burundi, unindo-os à África Oriental Alemã. Até o final do século 19, as conquistas coloniais da Alemanha estavam praticamente concluídas.
Foto: picture-alliance / akg-images
Um sistema de desigualdade
Nas colônias, a população branca formava uma minoria pequena e altamente privilegiada – raramente mais de 1% da população. Em 1914, por volta de 25 mil alemães moravam nas colônias. Desses, pouco menos da metade vivia no Sudeste Africano Alemão. Os 13 milhões de nativos nas colônias germânicas eram vistos como subordinados, sem acesso a nenhum recurso da lei.
Foto: picture-alliance/dpa/arkivi
O primeiro genocídio do século 20
O genocídio praticado contra os hereros e os namas no Sudeste Africano Alemão, hoje Namíbia, foi o crime mais grave da história colonial da Alemanha. Durante a Batalha de Waterberg, em 1904, a maioria dos rebeldes hereros fugiu para o deserto, com as tropas alemãs bloqueando sistematicamente seu acesso à água. Estima-se que mais de 60 mil hereros morreram na ocasião.
Foto: public domain
Crime alemão
Somente 16 mil hereros sobreviveram à campanha de extermínio. Eles foram aprisionados em campos de concentração, onde muitos morreram. O número exato de vítimas nunca foi constatado e continua a ser um ponto de controvérsia. Quanto tempo esses hereros debilitados sobreviveram no deserto? De qualquer forma, eles perderam todos os seus bens, seu estilo de vida e suas perspectivas futuras.
Foto: public domain
Guerra colonial de longo alcance
De 1905 a 1907, uma ampla aliança de grupos étnicos se rebelou contra o domínio colonialista na África Oriental Alemã. Por volta de 100 mil locais morreram na revolta de Maji-Maji. Embora tenha sido, posteriormente, um tema pouco discutido na Alemanha, este capítulo permanece importante na história da Tanzânia.
Foto: Downluke
Reformas em 1907
Na sequência das guerras coloniais, a administração nos territórios alemães foi reestruturada com o objetivo de melhorar as condições de vida ali. Bernhard Dernburg, um empresário bem-sucedido (na foto sendo carregado na África Oriental Alemã), foi nomeado secretário de Estado para Assuntos Coloniais em 1907 e introduziu reformas nas políticas do Império Alemão para seus protetorados.
Foto: picture alliance/akg-images
Ciência e as colônias
Junto às reformas de Dernburg, foram estabelecidas instituições técnicas e científicas para lidar com questões coloniais, criando-se faculdades nas atuais universidades de Hamburgo e Kassel. Em 1906, Robert Koch dirigiu uma longa expedição à África para investigar a transmissão da doença do sono. Na foto, veem-se espécimes microscópicas colhidas ali.
Foto: Deutsches Historisches Museum/T. Bruns
Colônias perdidas
Derrotada na Primeira Guerra Mundial, em 1919, a Alemanha assinou o tratado de paz em Versalhes, especificando que o país renunciaria à soberania sobre suas colônias. Cartazes como o da foto ilustram o medo dos alemães de perder seu poder econômico, como também o temor da pobreza e miséria no país.
Foto: DW/J. Hitz
Ambições do Terceiro Reich
Aspirações coloniais ressurgiram sob Hitler – e não somente aquelas definidas no Plano Geral de Metas para o Leste, que delineou a colonização da Europa Central e Oriental através do genocídio e limpeza étnica. Os nazistas também almejavam recuperar as colônias perdidas na África, como evidencia este mapa escolar de 1938. Elas deveriam fornecer matérias-primas para a Alemanha.