Berlim enviará desculpas formais ao governo namíbio pelas mortes, mas acrescenta que pedido não acarretará reparações. Entre 1904 e 1908, cerca de 90 mil hereros e namas foram mortos na então colônia alemã na África.
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O governo da Alemanha vai considerar formalmente como sendo um genocídio o massacre dos povos hereros e namas ocorrido na atual Namíbia no início do século 20, quando o país africano era uma colônia alemã.
A porta-voz do Ministério alemão do Exterior, Sawsan Chebli, afirmou nesta quarta-feira (13/07) que Berlim enviará desculpas formais ao governo namíbio pelas mortes, mas acrescentou que o pedido não acarretará obrigações ou reparações.
Entre 1904 e 1908, soldados alemães deslocaram milhares de hereros e namas para o deserto, onde eles foram detidos em campos de concentração. A maioria morreu em consequência dos maus-tratos, de doenças e de desnutrição. O número estimado de mortes é de cerca de 90 mil.
O massacre ocorreu depois de uma revolta em Herero, em 1904, após o general alemão Lothar von Trotha ordenar a destruição da tribo local.
"Trabalhamos numa declaração conjunta dos dois governos com os seguintes elementos: discussões comuns sobre os eventos históricos e um pedido de desculpas da Alemanha pelos atos cometidos na Namíbia", disse Chebli.
Segundo a porta-voz, essa declaração poderá servir de base para uma resolução parlamentar, mas não haverá repercussões legais para a Alemanha.
O jornal alemão Frankfurter Rundschau havia publicado nesta quarta-feira que, pela primeira vez num documento oficial, o governo alemão havia se referido ao massacre como genocídio. O termo consta de uma resposta do governo a um questionamento da bancada parlamentar do partido de oposição A Esquerda.
Até recentemente, o governo alemão defendia que "os eventos históricos" só poderiam ser considerados genocídio depois da entrada em vigor da Convenção da ONU para a Prevenção e Repressão de Genocídios, de 1951. Porém, neste ano, o Bundestag (Parlamento) aprovou uma resolução que classifica como genocídio o massacre de armênios pelo antigo Império Otomano, o que irritou o governo da Turquia.
Segundo o Frankfurter Rundschau, o governo ressaltou que, no contexto de um debate histórico-político, o termo genocídio pode ser empregado no sentido "não jurídico", significando que isso não implicaria consequências legais para a Alemanha.
RC/dw/epd/afp
Namíbia, um olhar pós-colonial e pessoal
País da África foi colônia alemã de 1884 a 1915 e território sul-africano até 1990. Como é a Namíbia após 25 anos de independência? Trabalhadores e estudantes respondem com fotografias.
Foto: baslerafrika.ch/Evelyn Annuss/Marama Kavita
Câmeras descartáveis para todos
Num projeto experimental, em 2007 a pesquisadora de teatro Evelyn Annuss e a artista Barbara Loreck, ambas alemãs, distribuíram câmeras fotográficas descartáveis a centenas de namibianos, com o convite: "Fotografem-se! Como é seu país depois da época colonial alemã, da ocupação e da libertação?" Esta foto é de Paulus Jacobs, da cidade portuária de Lüderitz.
Foto: baslerafrika.ch/Evelyn Annuss/Paulus Jacobs
Mudança de planos
"Nossa intenção, na verdade, era que eles encenassem para a câmera o que consideram 'germanness', ou 'alemãozice'", conta Evelyn Annuss. "Mas o resultado foi totalmente diferente: as pessoas não se interessaram tanto pela história colonial, e sim por encenar o próprio dia a dia diante da câmera." Clemensia Haragaes fotografou o bairro de Katutura, na capital Windhoek.
Como num jogo de telefone sem fio, as câmeras circularam pela Namíbia. O resultado foram mais de 5 mil imagens. Os namibianos mostraram não dar muito valor aos direitos autorais. "Tentamos descobrir quem havia feito quais fotos, mas muitas vezes não foi possível, porque as pessoas não tiveram interesse em se identificar." Para Evelyn Annuss, um projeto artístico no melhor sentido do termo.
Foto: baslerafrika.ch/Evelyn Annuss/Memory Biwa
De Windhoek à Suíça
As fotografias foram expostas pela primeira vez na National Art Gallery de Windhoek, em 2009. Por ocasião dos 25 anos da independência da Namíbia, em 21 de março de 2015, o centro de documentação Basler Afrika Bibliographien e a embaixada namibiana na Suíça voltam a exibi-las na Basileia e em Genebra. Entre elas, esta imagem feita por Memory Biwa.
Foto: baslerafrika.ch/Evelyn Annuss/Memory Biwa
Vida simples em local nobre
Emolduradas e expostas na galeria nacional de arte, as imagens cotidianas ganharam expressão fortemente artística. "Foi extremamente importante para as pessoas conquistar esse local, pois a maioria dos fotógrafos vem de antigas 'townships' ou bairros pobres." Esta foto foi tirada por Marama Kavita.
Foto: baslerafrika.ch/Evelyn Annuss/Marama Kavita
Teatro do cotidiano
Muitos trabalhos evocam instantâneos teatrais ou cenas de filme. "As pessoas se fantasiaram e se encenaram de uma certa maneira", conta a pesquisadora Annuss. Suas fotos diferem muito dos supostamente autênticos motivos de cartão postal ou dos registros de miséria apelativamente compostos, que marcam a imagem da Namíbia na Alemanha. Aqui, Anke Langmaak apresenta o Carnaval em Windhoek.
Foto: baslerafrika.ch/Evelyn Annuss/Anke Langmaak
Multiplicidade namibiana
Um grupo de mulheres da etnia herero se posiciona diante de iglus. Uma jovem fantasiada de turista posa diante da imagem de um veado que ruge. Crianças de olhos azuis festejam o carnaval em Windhoek: cenas cotidianas de pontos de vista sempre novos. Marama Kavita retrata aqui o Dia dos Herreros em Okahandja.
Foto: baslerafrika.ch/Evelyn Annuss/Marama Kavita
"Olha só como tu me vês!"
As autoras do projeto não escondem sua surpresa, pois os fotógrafos contrariaram todas as suas expectativas e projeções sobre a vida na Namíbia, como que dizendo: "Vou te mostrar como tu me vês!" Esta visão é de Cesilie Benjamin. A exposição "Stagings made in Namibia" pode ser também visitada através de um catálogo publicado pela editora B_Books.