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TerrorismoAlemanha

Alemanha quer acelerar deportações após ataque em Solingen

26 de agosto de 2024

Após ataque executado por sírio que tinha deportação pendente, chanceler Olaf Scholz promete reforçar leis de controle de armas e aumentar expulsões de imigrantes irregulares.

Policial ao lado de flores e homenagens às vítimas depositadas no local do ataque
Atentado aumentou a pressão sobre o governo federal, a poucos dias de importantes eleições em dois estados no leste da AlemanhaFoto: Jana Rodenbusch/REUTERS

O chanceler federal alemão, Olaf Scholz, afirmou nesta segunda-feira (26/08) que o governo agirá para reforçar os controles de armas e acelerar as deportações de pessoas que tiveram seus pedidos de asilo negados no país.

As declarações vieram na esteira do ataque terrorista na cidade de Solingen, onde um homem matou três pessoas e feriu outras oito, sendo que quatro delas ficaram em estado grave. O suspeito é de nacionalidade síria e foi identificado como Issa al H., de 26 anos, que teria ligações com o grupo extremista "Estado Islâmico" (EI).

O atentado a faca ocorrido em um festival que comemorava o 650º aniversário da cidade inflamou o debate sobre a imigração e aumentou a pressão sobre Scholz, a poucos dias de importantes eleições em dois estados no leste do país, que ocorrerão no próximo domingo.

"Sentimos profundamente como esse é um crime terrível. Nos emociona a todos, e nenhum de nos esquecerá", disse Scholz. "Isso foi terrorismo, terrorismo contra nós todos", sublinhou o chanceler em visita a Solingen, onde depositou flores em um memorial às vítimas. Ele se disse "furioso com os islamistas que ameaçam nossa coexistência pacífica".

"Teremos agora que reforçar nossas leis de armas", declarou Scholz. "Em particular, quanto ao uso de facas." O chanceler assegurou que as novas regulamentações virão de maneira rápida, e que a Alemanha fará "tudo o que puder para garantir que aqueles não podem e não devem ficar na Alemanha sejam repatriados e deportados".

Refúgio negado

De acordo com a revista Der Spiegel, o suspeito sírio chegou à Alemanha no final de dezembro de 2022 e solicitou refúgio no país. Ele não era conhecido anteriormente pelas autoridades de segurança como um extremista islâmico.

"Isso foi terrorismo, terrorismo contra nós todos", disse o chanceler Olaf Scholz em visita a SolingenFoto: Henning Kaiser/REUTERS

Issa al H. teve seu pedido de refúgio negado e deveria ter sido deportado para a Bulgária (pelas atuais regras, o país seria responsável pelo refúgio, devido ao fato de o sírio ter entrado na UE através dele), mas ele se escondeu e foi dado como desaparecido.

Esse fato provocou um novo debate sobre endurecimento dos regulamentos de migração, com políticos de oposição e de partidos governistas vindo a público pedir mudanças nas atuais regras de concessão de refúgio e de deportação de imigrantes ilegais.

Ligação com "Estado Islâmico" (EI)

Na noite de sábado, o grupo fundamentalista autodenominado "Estado Islâmico" (EI) reivindicou a responsabilidade pelo atentado mortal a faca. Através de sua agência de notícias Amaq, alegou que visou "vingar os muçulmanos na Palestina e em outros lugares". A Faixa de Gaza se encontra sob ofensiva de Israel desde os ataques perpetrados em 7 de outubro pelo Hamas.

O EI publicou um vídeo que supostamente mostra o autor do atentado em Solingen. Ainda não está claro quando o vídeo foi gravado e se o homem mascarado mostrado nele é o suspeito Issa Al H. Nas imagens, o homem se autodenomina Samarkand A. possivelmente um nome de guerra.

O ataque seria uma retaliação à matança de muçulmanos na Síria, no Iraque e na Bósnia e um ato de vingança pelo "povo da Palestina" que teve de "sofrer massacres com o apoio dos sionistas".

Segundo estatísticas da Polícia Federal alemã, 52.976 pessoas deveriam ter sido expulsas do país no ano passado. No entanto, foram realizadas apenas 21.206 deportações – menos da metade do planejado. Com frequência, isso ocorreu em razão de as pessoas não terem sido encontrados pela polícia.

Uso político

O atentado em Solingen ampliou o debate em torno da imigração na Alemanha, o país mais populoso da União Europeia (UE), dias antes das eleições regionais na Turíngia e na Saxônia, onde o partido ultradireitista Alternativa para a Alemanha (AfD) possui grande apoio popular e deverá obter bons resultados.     

Suspeito do atentado, Issa al H. teria ligações com "Estado Islâmico" (EI) Foto: Heiko Becker/REUTERS

A AfD acusa os governos recentes de contribuírem para o "caos" ao permitirem a entrada de um grande número de imigrantes no país, e propõe uma proibição à chegada de mais refugiados.

Friedrich Merz, líder da conservadora União Democrata Cristã (CDU), o maior partido de oposição na Alemanha, afirmou que o governo deve rejeitar a entrada de refugiados do Afeganistão e da Síria.

O governo alemão – formado por uma coalizão entre o Partido Social-Democrata (SPD) de Scholz, o Partido Liberal Democrático e pelos Verdes – já havia anunciado medidas para reforçar as leis de imigração.

Após outro atentado a faca ocorrido em Mannheim, em maio deste ano, quando um afegão de 25 anos atacou um comício anti-Islã e matou um policial, o governo informou que iria reiniciar as deportações para o Afeganistão, que haviam sido suspensas em razão da instabilidade no país da Ásia Central.

A Alemanha está em alerta para ataques terroristas desde o início da guerra entre Israel e o Hamas na Faixa de Gaza, em 7 de outubro do ano passado. O país sofreu uma série de atentados nos últimos anos. O mais grave destes ocorreu em 2016, quando um jovem atirou um caminhão contra um mercado natalino em Berlim, matando 12 pessoas.

rc (AFP, DPA)