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Alemanha pode "abrir as portas" da UE para a Ucrânia

Fernando Scheller8 de março de 2005

Em meio ao escândalo dos vistos para imigrantes ucranianos, Viktor Yushchenko faz primeira visita oficial à Alemanha e tenta aproximação com a Europa Ocidental.

Yushchenko (à dir.), com Schröder: prova da ocidentalização ucranianaFoto: dpa

O presidente ucraniano Viktor Yushchenko, que foi eleito para o cargo com propostas de integração com o "mundo ocidental", iniciou nesta terça-feira (08/03) uma visita de dois dias à Alemanha com a difícil missão de conseguir apoio político para a maior de suas metas: incluir a Ucrânia entre os países-membros da União Européia. "Nós não somos vizinhos da Europa, nós somos parte da Europa, nós pertencemos à Europa", disse Yushchenko antes da viagem em entrevista ao jornal alemão Süddeutsche Zeitung.

Fazem parte da agenda do presidente da Ucrânia em Berlim encontros com o ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Joschka Fischer, e com o presidente alemão Horst Köhler. Na quarta-feira, ele se encontra com o chanceler federal Gerhard Schröder e com a presidente da União Democrata Cristã (CDU), Angela Merkel, e faz um pronunciamento no Parlamento.

O presidente ucraniano vê a Alemanha – que foi um dos primeiros países da Europa a levantar a voz contra as fraudes na eleição ucraniana no ano passado e a apoiar um segundo pleito no país com supervisão internacional – como um importante parceiro no objetivo de trazer desenvolvimento econômico para o país. Em várias oportunidades desde a proclamação de sua vitória, em dezembro de 2004, Yushchenko agradeceu o apoio de políticos alemães, com ênfase especial a Fischer.

Parceria enfraquecida

Entretanto, o bom relacionamento entre Ucrânia e Alemanha está enfraquecido pelo atual "escândalos dos vistos", que abalou a posição de Joschka Fischer no governo – houve até boatos de que ele renunciaria ao cargo – e deixou a coalizão entre verdes e social-democratas com menos subsídios para argumentar em favor da entrada no país no bloco econômico ou de políticas mais liberais em relação ao Leste Europeu.

Joschka Fischer: posição enfraquecida com 'escândalo dos vistos'Foto: dpa

O ministro das Relações Exteriores veio a público no fim de fevereiro para pedir desculpas por ter adotado uma política de concessão de vistos "muito relaxada" em relação à Ucrânia. "Eu não reagi [ao problema] com suficiente velocidade ou firmeza, como deveria ter feito. Eu cometi erros", disse ele, em comunicado oficial.

O "escândalo dos vistos" estourou no início deste ano. O governo alemão admitiu não ter feito, nos últimos anos, uma checagem eficiente das verdadeiras razões para a viagem de turistas ucranianos. A falta de cuidado na concessão dos vistos teria permitido que grupos ilegais usassem o país como porta de entrada para trabalhadores ilegais na Europa.

Novas barreiras

Após o problema vir à tona e virar tema de intenso debate no país, a Alemanha aumentou as barreiras para a concessão de vistos a cidadãos ucranianos. Yushchenko vai tentar argumentar a favor da revisão desta nova política, pois, segundo ele, profissionais ucranianos qualificados – professores, pesquisadores e executivos, por exemplo – estariam enfrentando dificuldades para conseguir visto para o país.

O escândalo dos vistos foi um prato cheio para a oposição democrata-cristã, que apontou o crescimento do número de trabalhadores ilegais provenientes do Leste Europeu no país. A economia alemã passa atualmente por uma fase turbulenta, com crescimento baixo e o maior desemprego desde o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945. Cerca de 5,2 milhões de pessoas estão sem trabalho no país.

Conflitos na construção civil: trabalhador ilegal reduz renda média do setorFoto: AP

A presença de operários ucranianos, dispostos a trabalhar por salários mais baixos, teria diminuído as chances dos alemães de conseguir um novo emprego, além de ter puxado a renda geral para baixo. O presidente da Ucrânia admite que o país exportou, desde os anos 90, um grande número de trabalhadores não somente para a Alemanha, mas também para a Hungria, República Tcheca e Polônia.

Cinco milhões de empregos

Yushchenko afirmou ao jornal Frankfurter Allgemeine Zeitung que pretende criar cinco milhões de novos postos de trabalho em seu país, nos próximos anos, para evitar o êxodo de cidadãos para outras nações européias. Para atingir o objetivo, ele aposta numa política "ocidentalizada", com ênfase no livre comércio internacional e na atração de investidores estrangeiros.

A oposição democrata-cristã na Alemanha, apesar das intenções de Yushchenko, diz não acreditar que a Ucrânia esteja preparada para entrar na União Européia. "Esta é uma questão para ser analisada nas próximas décadas", disse o vice-líder da bancada da CDU no Parlamento, Wolfgang Schäuble, à Agência DPA.

De acordo com Schäuble, embora geograficamente tanto a Ucrânia quanto a Turquia pertençam à Europa, esses países precisam adotar uma perspectiva político-econômica correspondente à do continente antes se juntarem à UE.

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