Presidente da Agência Federal do Trabalho adverte para necessidade de trabalhadores no país. "A Alemanha está ficando sem mão de obra."
Anúncio
A Alemanha necessita de mais imigrantes para suprir suas lacunas no mercado de trabalho. São precisos cerca de 400 mil imigrantes por ano, afirmou o presidente da Agência Federal do Trabalho, Detlef Scheele.
"Não se trata de asilo, mas sim de uma imigração direcionada para as lacunas do mercado de trabalho", disse Scheele ao jornal Süddeutsche Zeitung. "Desde cuidadores de doentes a técnicos em ar condicionado, passando por especialistas em logística e acadêmicos: haverá uma escassez de trabalhadores qualificados em todas as áreas."
"Alemanha está ficando sem mão de obra"
Sobre a possível resistência à migração, ele disse: "Você pode se levantar e dizer: não queremos estrangeiros. Mas isso não funciona. Fato é que a Alemanha está ficando sem mão de obra", disse Scheele. Como resultado do desenvolvimento demográfico, o número de trabalhadores potenciais em idade profissional diminuirá em quase 150 mil no ano de 2021, acrescentou.
"A situação irá se agravar nos próximos anos", advertiu Scheele. A única forma de a Alemanha resolver o problema é qualificando os não qualificados e as pessoas cujos empregos estão desaparecendo, e permitir uma jornada de trabalho maior a quem trabalha involuntariamente meio período, E, acima de tudo, trazendo imigrantes para o país. Essas são tarefas do novo governo alemão, a ser eleito em setembro.
Anúncio
Ajuda do exterior, principalmente no setor saúde
A pandemia de coronavírus, entretanto, agravou o problema da imigração insuficiente de trabalhadores qualificados. Em 2020, o número de pedidos de reconhecimento de qualificações profissionais estrangeiras na Alemanha caiu 3%, para 42 mil, conforme o Escritório Federal de Estatísticas informou na terça-feira (24/08). O procedimento havia sido reformado em março de 2020, com a Lei de Imigração de Trabalhadores Qualificados, com o objetivo de acelerar os processos.
Na área médica, faltam profissionais qualificados para hospitais e casas de repouso. Antigamente, o recrutamento acontecia apenas dentro da União Europeia, mas a procura foi expandida também para países da América Latina. Por causa da pandemia do novo coronavírus, faltam cerca de 5 mil profissionais de cuidados intensivos na Alemanha.
Daqueles que trabalham em postos emergenciais, um terço pensa em deixar a função nos próximos cinco anos. Em toda a Alemanha, faltam mais de 100 mil cuidadores e enfermeiros. O número deve dobrar nos próximos 15 anos. A Agência do Trabalho alemã inclusive tem um site em português com informações sobre o recrutamento de profissionais de saúde.
Leve aumento em 2020
Em 2020, 44.800 qualificações estrangeiras foram reconhecidas no país como sendo total ou parcialmente equivalentes às qualificações alemãs. Isso representa 5% a mais que no ano anterior. Dois terços delas (29.900) exercem profissões na área da saúde. Destes, 15.500 eram cuidadores. A maioria vêm da Bósnia e Herzegovina (3.600), seguido da Sérvia (3.400) e da Síria (3.100).
Devido aos números baixos, o porta-voz para a política do mercado de trabalho da bancada do Partido Liberal Democrata no Bundestag, Johannes Vogel, da oposição, criticou como "precária" a lei de imigração de trabalhadores qualificados.
Segundo ele, os partidos no governo, CDU/CSU e SPD, não deram ao assunto a importância que merece. "Finalmente temos que melhorar na competição global por talentos − e para isso precisamos de uma lei de imigração moderna com um sistema de pontuação, como o Canadá e a Nova Zelândia já fazem há muito tempo."
rw (dpa/dw)
Trabalhadores estrangeiros na Alemanha do pós-Guerra
Exposição em Colônia mostra vida sob ponto de vista dos "trabalhadores convidados" vindos da Turquia, Grécia, Itália, Portugal e outros países para suprir demanda por mão de obra na Alemanha após a Segunda Guerra.
Foto: Asimina Paradissa
Asimina Paradissa em Wilhelmshaven
A grega Asimina Paradissa tinha 20 anos quando foi para Wilhelmshaven, no norte alemão. Na foto, ela posa diante do seu prédio-dormitório da fábrica de máquinas de escrever Olympia. Ainda hoje, aos 76 anos, fotografa por paixão. Naquela época, ela documentou casamentos, festas e visitas ao zoológico para colegas e amigos. Nas fotos que tiravam dela, insistia que a foto saísse como ela queria.
Foto: Asimina Paradissa
A caminho de Paris
Assim como Asimina, a então Alemanha Ocidental atraiu muitos jovens nos anos 60, trazidos ao país com acordos de recrutamento. Os chamados trabalhadores convidados vieram principalmente da Grécia, Espanha, Itália e Turquia. Yücel Aşçıoğlu também veio para a Alemanha para trabalhar. Na foto, posa ao lado de amigos a caminho de Paris, onde passaram as férias da Páscoa em 1971.
Foto: Yücel Aşçıoğlu
Chique para o casamento
Inicialmente vieram principalmente homens jovens, como Onur Dulgür. A foto o mostra no dia de seu casamento, em 23 de dezembro de 1965: "Naquele dia, eu estava tão feliz porque Monika e eu finalmente tínhamos conseguido a permissão notarial para nos casarmos", lembra Dulgür. A família alemã de Monika era contra a união. A cerimônia de casamento foi realizada sem familiares.
Foto: Onur Dülger/DOMiD-Archiv, Köln
Hostilidades e extrema direita
Os imigrados tiveram que lutar contra muitos preconceitos na Alemanha. As hostilidades contra eles e o ressurgimento do extremismo de direita também são abordados na exposição, com um olhar sobre a Keupstrasse, em Colônia (foto de 1977). Foi lá que o grupo extremista de direita NSU perpetrou um ataque com bombas de pregos contra donos de estabelecimentos de raízes estrangeiras em 2004.
Foto: Rheinisches Bildarchiv, Köln
"Turcos na Alemanha", 1975
Além das fotografias privadas, a exposição, que acontece de 19 de junho a 3 de outubro de 2021, também apresenta fotos de fotógrafos conhecidos, como esta de Candida Höfer. Mas as fotografias profissionais são apenas "acessórios": pela primeira vez na história do Museu Ludwig de Colônia, fotografias particulares são o foco de uma mostra.
Esta foto mostra a família Spitareli em Colônia por volta de 1967. Nas mãos do pai, um rádio que ele havia comprado para a esposa como consolo para que ela pudesse ouvir programas italianos e se sentisse menos só. Os dois filhos do casal só vieram para a Alemanha mais tarde. Com a ajuda de fotos privadas como esta podem ser contadas muitas histórias, diz a curadora Barbara Engelbach.
Foto: Rosa Spitaleri/DOMiD-Archiv, Köln
Histórias de solidão
As histórias dos migrantes também são histórias de ausência, saudade e solidão. Sofia Zacharaki teve que deixar suas três filhas pequenas para trás na Grécia quando se mudou para Aachen para trabalhar. Nesta foto, ela posa com suas colegas de quarto em frente ao dormitório feminino da empresa Leonard Monheim. As fotografias serviam para mostrar aos entes queridos em casa onde ela morava.
Foto: Sofia Zacharaki/DOMiD-Archiv, Köln
Fotos encenadas
Muitas vezes as fotos foram cuidadosamente encenadas, como esta, que mostra Ali Kanatlı (na frente, à direita) com amigos num lago em Colônia. As fotos "falam de chegar a um novo lugar, de se localizar, perceber e moldar o próprio ambiente de vida", explica a curadora convidada Ela Kaçel, que iniciou a exposição.
Foto: Ali Kanatlı/DOMiD-Archiv, Köln
Viver em pouco espaço
Muitas vezes, as fotos mostram como os imigrantes queriam ser vistos no novo ambiente. Não há nenhum sinal das condições de vida apertadas nesta foto, que mostra as famílias Türköz e Üçgüler em seu primeiro apartamento conjunto em Colônia.
Foto: Alpin Harrenkamp
Foco nos belos momentos
Na verdade, porém, as famílias estrangeiras viviam frequentemente em casas que precisavam de reformas ou em bairros marginais, sendo excluídas do "bom" mercado imobiliário. Para os parentes no exterior, porém, eles preferiam capturar os belos momentos, como aqui, em um passeio da família Türköz às margens do Reno em 1972.
Foto: Alpin Harrenkamp
Nas barricadas
Nos anos 1970, os migrantes começaram a fazer campanha aberta e ativa para a melhoria de suas condições de vida. Por toda a Alemanha, trabalhadores tomaram as ruas e paralisaram fábricas inteiras. Esta foto mostra grevistas na fábrica da Ford, em Colônia, em 1973.
Foto: Gernot Huber
Clima de festa em 1965
Assim, a exposição "Histórias fotográficas da migração" é também uma história de emancipação. Ela mostra pessoas que vieram para um país estranho, que acabaram conhecendo por experiência própria e que se tornou uma nova pátria para muitas delas. Não é apenas uma história de migração, mas também a história da Alemanha.