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Alemanha precisará investir bilhões em novas usinas

Neusa Soliz10 de novembro de 2003

Ao desativar suas usinas atômicas nos próximos 20 anos, a Alemanha terá que redefinir sua política energética. As energias renováveis, fomentadas pelo governo, não conseguirão suprir a demanda.

A maior usina a hulha da Europa está em GelsenkirchenFoto: AP

O país havia apostado ao mesmo tempo em várias fontes, a fim de não se tornar dependente de apenas uma. Agora, terá que procurar uma nova fórmula para o Energie-Mix, como técnicos e políticos costumam chamar a solução alemã.

Carvão x fontes regenerativas

Ao mesmo tempo, a política energética causou grandes controvérsias entre os ministérios do Meio Ambiente e da Economia. Enquanto o primeiro está nas mãos do político verde Jürgen Trittin, defensor das energias renováveis, seu colega social-democrata Wolfgang Clement lutou o quanto pôde para manter as subvenções ao carvão.

São elas que ainda sustentam as minas alemãs, dando emprego a milhares de pessoas. Com o alto custo da mão-de-obra na Alemanha, as minas não são competitivas, uma vez que é mais barato importar carvão da Polônia e outros países. E também há um outro aspecto: por mais modernas que sejam, as usinas de carvão mineral, uma energia fóssil, são poluentes. Por isso, atrapalham as metas climáticas do governo alemão de continuar reduzindo as emissões de CO2.

Cata-ventos em Portugal, construídos com tecnologia alemãFoto: Johannes Beck

Clement, por sua vez, incorporou as críticas das companhias de energia às subvenções à energia eólica - a menina dos olhos de Trittin - criando-se um impasse. Também iniciativas civis e ambientalistas começaram a criticar a presença cada vez mais freqüente dos geradores eólicos em meio à paisagem. Depois de terem sido garantidas as subvenções ao carvão, em menor escala, foi a vez de um entendimento quanto à Lei das Energias Renováveis.

Menos fomento à energia eólica, mais à solar

Uma emenda definida a 5 de novembro decidiu diminuir o preço fixo que as distribuidoras têm que pagar pela energia eólica para 5,5 cents por quilowatt/hora. Já não serão subvencionados cata-ventos de menor rendimento em regiões de pouco vento, privilegiando-se os parques off shore. A meta do governo alemão é aumentar para 12,5% a parcela das energias renováveis no abastecimento total do país.

Hidrelétricas, usinas de biomassa e geotérmicas receberão um fomento maior. E, pela primeira vez, a energia solar capatada por grandes coletores será beneficiada, recebendo uma tarifa especial de 43,4 cents por quilowatt/hora. Trata-se aqui das tarifas especiais que as distribuidoras têm que pagar aos produtores.

As subvenções serão repassadas aos consumidores nos domicílios particulares, que pagarão uma taxa máxima de 1,10 euro. As vantagens de preço para indústrias, a partir de um consumo de 100 gigawatts, agora serão estendidas também a empresas de médio porte com consumo a partir de 10 gigawatts.

O desafio do futuro: luz sem energia nuclear

Por mais que aumente a parcela das energias renováveis no abastecimento do país, elas não conseguirão substituir o vácuo que deixará a desativação das centrais nucleares. A primeira delas será desligada já a 15/11/2003. Em um recente congresso sobre a energia do futuro, Wolfgang Schröppel, da Confederação das Empresas Eletrotécnicas (VDE) expôs o dilema da Alemanha, onde a energia nuclear é responsável por um terço da produção de eletricidade:

"Até 2020 teremos que substituir 25 gigawatts de energia, até agora geradas pelas centrais nucleares. Em segundo lugar, temos que substituir também as velhas usinas a carvão que atingirem seu tempo máximo de funcionamento. Isso representa de 20 a 50 gigawatts de energia. Ou seja, precisamos de novas usinas para a geração de um momentante de 70 a 80 gigawatts."

Investimentos de 80 bilhões de euros

Para se ter uma noção, isso equivale a mais da metade do consumo de eletricidade na Alemanha. O volume de investimentos necessário para a construção de novas usinas foi estimado por engenheiros em até 80 bilhões de euros.

As fontes renováveis não conseguirão, nem a médio nem a longo prazo, suprir uma demanda tão elevada. Especialistas que participaram do congresso em Hamburgo ressaltaram que para se utilizar a energia eólica é preciso haver uma boa reserva de eletricidade produzida em usinas tradicionais para cobrir a demanda em caso de calmaria.

Eficiência poderá acabar

Armin Schnittler, da Universidade Técnica de Aachen, chamou a atenção para o fato de a Alemanha ocupar uma posição internacional de destaque no que se refere à qualidade de seu sistema de eletricidade, pouco afetado por apagões. Um cliente na Alemanha fica sem luz, em média, 15 minutos por ano. Isso poderá piorar, e muito, pois não se está mais investindo em manutenção. Ele previu que, ao se prolongar o uso dos componentes, dentro de 15 anos a média será de 3 a 3 horas e meia.

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