Alemanha pretendia fechar fronteira em 2015, diz jornal
5 de março de 2017
Segundo reportagem, Merkel e altos funcionários do governo haviam decidido barrar requerentes de asilo na fronteira com a Áustria, mas voltaram atrás. Medida poderia ter alterado curso da crise de refugiados na Europa.
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A Alemanha pretendia fechar sua fronteira com a Áustria e impedir a entrada de requerentes de asilo no país em setembro de 2015, mas acabou desistindo do plano, noticiou o jornal alemão Welt am Sonntag neste domingo (05/03).
A chanceler federal alemã, Angela Merkel, e membros de seu governo teriam tomado a decisão em 12 de setembro de 2015. Participaram da conversa o chefe da Casa Civil, Peter Altmaier, o ministro do Interior, Thomas de Maiziére, o líder da União Social Cristã (CSU), Hoorst Seehofer, o então ministro do Exterior, Frank Walter-Steinmeier, e o líder do Partido Social-Democrata (SPD), Sigmar Gabriel.
Além de intensificar o controle da fronteira ao sul da Alemanha, ficou acordado que migrantes sem os documentos necessários, "inclusive no caso de requerentes de asilo", deveriam ter negada a entrada no país.
No entanto, horas antes de o plano ser implementado, funcionários do governo manifestaram preocupação. Sem a garantia de que o fechamento da fronteira não acarretaria problemas legais, nem a chanceler federal nem o ministro do Interior, Thomas de Maizière, estavam dispostos a ordenar a medida, aponta o jornal. O governo voltou atrás.
A possibilidade de que fossem veiculadas imagens de agentes das Forças Armadas barrando a entrada de migrantes, sem apelo popular, também teriam sido motivo de preocupação.
"A recusa de refugiados não falhou no outono de 2015, como até agora se supunha, por falta de vontade política", aponta o Welt am Sonntag. "No momento decisivo, não houve nenhum líder alemão disposto a assumir a responsabilidade."
As informações divulgadas pelo periódico conservador foram reveladas pelo jornalista Robin Alexander, que publica neste mês um livro sobre a política migratória de Merkel, ao qual o Welt am Sonntag teve acesso.
Possível reviravolta
Se o plano tivesse sido implementado, dezenas de milhares de migrantes que rumavam para a Alemanha provavelmente teriam ficado retidos, já que países ao longo da rota dos refugiados fecharam suas fronteiras para evitar acolhê-los.
O fechamento da fronteira também teria marcado uma reviravolta para Merkel, que em 4 de setembro abrira as fronteiras para milhares de migrantes retidos na Hungria, alegando motivos humanitários. Desde então, sua política de refugiados é altamente controversa.
Mais de meio milhão de migrantes – muitos deles sírios, iraquianos e afegãos fugindo de conflitos em seus países – entraram na Alemanha somente nos últimos três meses de 2015. Só o acordo firmado entre a União Europeia e a Turquia para impedir a chegada de requerentes de asilo ao continente, que entrou em vigor em março de 2016, conseguiu sustar decisivamente o fluxo migratório.
LPF/ap/ots
Viagem à Europa da perspectiva de refugiados
Exposição em Hamburgo mostra longa jornada do ponto de vista dos migrantes, resultado do projeto #RefugeeCameras. Risco, desamparo e raros momentos de alegria permeiam as imagens.
Foto: Kevin McElvaney/ProjectRefugeeCameras
Partida sem volta?
Em dezembro de 2015, o alemão Kevin McElvaney entregou 15 câmeras descartáveis e envelopes pré-selados a migrantes em Izmir, Lesbos, Atenas e Idomeni. Sete retornaram ao jovem fotógrafo e fazem parte do projeto #RefugeeCameras. Zakaria recebeu sua câmera em Izmir. O sírio fugiu do "Estado Islâmico" e do regime Assad. Em seu diário de fuga, ele escreve que só Deus sabe se ele voltará à Síria.
Foto: Kevin McElvaney/ProjectRefugeeCameras
Travessia de bote
Zakaria documentou sua viagem marítima da Turquia até a ilha grega de Chios. Ele ficou sentado na parte de trás do bote. Na exposição em Hamburgo, as imagens feitas por refugiados são complementadas por uma seleção de fotos tiradas por profissionais, que ajudaram a montar a representação das rotas de fuga. Todos eles doaram suas obras para apoiar o projeto.
Foto: Kevin McElvaney/ProjectRefugeeCameras
Chegada perigosa
Hamza e Abdulmonem, ambos da Síria, fotografaram a perigosa chegada de seu barco a uma ilha grega. Não havia voluntários para recebê-los. Foi justamente isso que McElvaney tinha em mente quando lançou a #RefugeeCameras. Segundo o jovem fotógrafo, até agora a mídia proporcionou somente um "vazio visual" a esse respeito.
Foto: Kevin McElvaney/ProjectRefugeeCameras
Sobrevivendo ao mar
Após o desembarque, vê-se um menino com roupas molhadas e colete salva-vidas numa praia. A imagem faz recordar Aylan Kurdi, o pequeno garoto sírio cujo corpo sem vida foi encontrado no litoral turco em setembro de 2015. A criança nesta foto conseguiu chegar viva à Europa. O seu destino é desconhecido.
Foto: Kevin McElvaney/ProjectRefugeeCameras
Sete câmeras
Hamza e Abdulmonem também tiraram esta foto instantânea levemente desfocada de um grupo de refugiados fazendo uma pausa. Das 15 câmeras que McElvaney entregou, sete retornaram, uma foi perdida, duas foram confiscadas, e duas permaneceram em Izmir, onde seus donos ainda estão retidos. As três câmeras restantes estão desaparecidas – assim como seus proprietários.
Foto: Kevin McElvaney/ProjectRefugeeCameras
Família em foco
Dyab, um professor de Matemática sírio, tentou registrar alguns dos melhores momentos de sua viagem até a Alemanha. Na foto, veem-se sua esposa e seu filho pequeno, Kerim, que nos mostra um pacote de biscoito que recebeu num campo de refugiados macedônio. A imagem revela a profunda afeição de Dyab por seu filho, diz McElvaney: "Ele quer cuidar dele, mesmo na árdua viagem que foi forçado a seguir."
Foto: Kevin McElvaney/ProjectRefugeeCameras
Do Irã à Alemanha
A história de Said, do Irã, é diferente. O jovem teve de deixar seu país, depois de ter se convertido ao cristianismo. Ele poderia ter sido preso ou morto. Para ser aceito como refugiado, ele fingiu ser afegão. Após a sua chegada à Alemanha, ele explicou sua situação, para a satisfação das autoridades. Ele vive agora – como iraniano – em Hanau, no estado de Hessen.
Foto: Kevin McElvaney/ProjectRefugeeCameras
Não apenas selfies
Said tirou esta foto de um pai sírio e seu filho num ônibus de Atenas a Idomeni.
Foto: Kevin McElvaney/ProjectRefugeeCameras
Momento de alegria
Em outro registro feito por Said, um voluntário que trabalha num campo de refugiados em algum lugar entre a Croácia e a Eslovênia brinca com um grupo de crianças, que tentam imitar seus truques.