Alemanha processa mulher de 91 anos por mortes em Auschwitz
22 de setembro de 2015
Tribunal da cidade de Kiel acusa uma ex-operadora de rádio de ser cúmplice no assassinato de 260 mil pessoas no campo de concentração nazista, onde ela trabalhou por quatro meses em 1944.
Anúncio
O tribunal da cidade de Kiel, no norte da Alemanha, acusou formalmente uma mulher de 91 anos por cumplicidade no assassinato de mais de 260 mil confinados no campo de concentração nazista de Auschwitz. A acusada, de nacionalidade alemã, trabalhou como operadora de rádio e telégrafo entre abril e julho de 1944 no local.
As autoridades se recusaram a revelar o nome da mulher e onde ela mora, seguindo as leis de privacidade da Alemanha. O jornal alemão Hamburger Abendblatt, porém, afirma que a mulher vivia em Neumünster, uma cidade de 70 mil habitantes localizada no estado de Schleswig-Holstein.
Segundo o promotor do estado, Heinz Döllel, o tribunal de Kiel ainda não decidiu se realizará o julgamento em 2016, já que a corte levará em consideração as acusações e o estado de saúde da mulher. Ele afirmou que há possibilidade de ela ser julgada em um tribunal juvenil, já que a mulher era menor de idade na época.
A acusada afirma ter feito parte do partido nazista NSDAP, legenda de Hitler, em 1941, e que começou a ser treinada como operadora de rádio em 1943.
A emissora de rádio pública alemã NDR afirma que duas sentenças são possíveis: o máximo de dez anos de prisão se o processo for julgado sob jurisdição juvenil ou uma detenção de pelo menos três anos caso ela ser julgada como adulta.
Döllel afirma que a corte juvenil vai decidir se prossegue com o julgamento após examinar documentos disponibilizados pelo arquivo central alemão para a investigação de crimes nazistas de Ludwigsburg, cidade próxima a Stuttgart.
O processo acontece na esteira dos julgamentos tardios abertos por cumplicidade com o Holocausto. Em 2011, o ucraniano John Demjanjuk, ex-guarda voluntário em Sobibor, foi condenado a cinco anos de prisão.
Em abril deste ano, o ex-membro da Waffen-SS, tropa de elite das Forças Armadas nazistas, Oskar Gröning, de 94 anos – chamado de "Contador de Auschwitz" – foi condenado a quatro anos de prisão por cumplicidade na morte de 300 mil judeus.
FC/dpa/ap/afp/efe
A arte e os horrores de Auschwitz
Exposição em Berlim mostra a obra de artistas que sobreviveram aos campos de concentração nazistas. Além de documentar atrocidades, eles fizeram arte.
Foto: Staatliches Museum Auschwitz-Birkenau in Oœwiêcim
Os artistas esquecidos
Enquanto a chamada "arte degenerada" dos artistas perseguidos pelo nazismo desperta atenção, quase ninguém conhece o trabalho dos artistas que estavam em campos de concentração. Pintores como Waldemar Nowakowski (foto) estão quase esquecidos. Por isso a importância do livro e da exposição "A morte não tem a última palavra", a ser aberta no prédio do Bundestag em Berlim, a partir de 27 de janeiro.
Foto: Staatliches Museum Auschwitz-Birkenau in Oœwiêcim
Horrores de Theresienstadt em gravura
Por mais de 15 anos, o autor, curador e historiador de arte Jürgen Kaumkötter se dedicou à arte dos perseguidos entre 1933 e 1945. Para isso, não considerou apenas quadros que surgiram nessa época, mas também aqueles que tematizaram os acontecimentos em retrospecto. Leo Haas executou esta gravura sobre Theresienstadt em 1947. Mas há também obras feitas no campo de concentração.
Foto: Bürgerstiftung für verfolgte Künste – Else-Lasker-Schüler- Zentrum – Kunstsammlung Gerhard Schneider
Pinturas no "museu do campo"
É sabido que artistas pintaram em Theresienstadt. Mas também em Auschwitz 1 houve um "museu do campo". Lá havia lápis, papel, pincéis à disposição dos artistas, para que executassem encomendas para a SS. Outros motivos surgiram secretamente. Em contrapartida, praticamente não há obras de arte oriundas de Auschwitz 2. Na foto: "Autorretrado de Marian Ruzamski", de 1943/44.
Foto: Staatliches Museum Auschwitz-Birkenau in Oœwiêcim
Imagem de sonhos em Auschwitz
O artista Jan Markiel criou esse retrato, em 1944, sem os materiais que tinha oficialmente à disposição em Auschwitz 1. A filha do padeiro do vilarejo próximo de Jawiszowice ajudou o prisioneiro trazendo pão e intermediando mensagens para a resistência. A têmpera utilizada pelo artista veio de pigmentos raspados da parede. O tecido grosso dos colchões de palha serviu como tela.
Foto: Staatliches Museum Auschwitz-Birkenau in Oœwiêcim
Testemunha dos crematórios
Em 1942, aos 13 anos, Yehuda Bacon (na foto, à dir.) veio para Theresienstadt e, em dezembro de 1943, para Auschwitz-Birkenau. Ele foi utilizado como mensageiro – podendo se aquecer nos fornos dos crematórios no inverno. O que testemunhou, ele relatou não somente durante o célebre Julgamento de Auschwitz em Frankfurt, mas também expressou nos desenhos que executou após a guerra.
Foto: Bürgerstiftung für verfolgte Künste – Else- Lasker-Schüler-Zentrum – Kunstsammlung Gerhard Schneider
Símbolo da morte
Yehuda Bacon mostrou esse desenho aos juízes em Frankfurt, como prova dos crimes cometidos em Auschwitz: chaminés retangulares dos crematórios, um chuveiro, pessoas que são apenas esboços. Para o historiador da arte Kaumkötter, esse desenho é um símbolo da morte nas câmaras de gás e da sepultura nos céus. Trata-se não somente de um testemunho, mas também de uma grande obra de arte.
Foto: Yehuda Bacon
A segunda geração
Michel Kichka é um dos cartunistas mais influentes de Israel. Em 2014, ele publicou a novela gráfica "Segunda geração – o que o meu pai nunca me contou", sobre o menino Kichka e o seu pai, sobrevivente de Auschwitz. Os traumas do pai passaram para o filho. Somente quanto ouve o pai contar piadas sobre o campo, Kichka consegue superar seus pesadelos.
Foto: Egmont Graphic Novel
Metáforas do Holocausto
Também os pais da artista israelense Sigalit Landau são sobreviventes do Holocausto, e o professor de desenho dela foi Yehuda Bacon, que trabalha até hoje como artista e professor de arte em Israel. Os trabalhos de Landau são repletos de alusões metafóricas ao Holocausto, como estes sapatos, que logo lembram a montanha de calçados que ainda hoje pode ser vista na exposição permanente de Auschwitz.
Foto: Sigalit Landau
A morte não tem a última palavra
Sigalit Landau coletou cem pares de sapatos em Israel e os afundou no Mar Morto. O mar os envolveu com uma camada de sal curativa – eles se tornaram símbolo da vida, em vez da morte. O desejo da artista era mostrá-los em Berlim, como sinal de que a esperança derrota o desespero. A mostra "A morte não tem a última palavra" está em cartaz até o dia 27 de fevereiro no prédio do Bundestag, em Berlim.