Após Mark Zuckerberg anunciar fim da checagem de fatos nas plataformas da Meta, lideranças alemãs e europeias prometem manter verificação de conteúdo online com base nas leis da UE.
Anúncio
Mark Zuckerberg, o diretor executivo da Meta, uma das empresas de maior êxito mundial na internet, divulgou nesta semana um anúncio que poderá trazer sérias consequências para a Alemanha e a Europa a médio prazo. Em mensagem de vídeo, ele anunciou que no futuro próximo sua empresa vai eliminar a checagem de fatos em suas redes sociais, como Facebook e Instagram, começando pelos Estados Unidos.
Ele deixou claro que a Meta vai revisar significativamente suas políticas de moderação de conteúdo e encerrará seu programa de verificação de fatos através de terceiros. "Chegamos agora a um ponto em que houve erros demais e censura demais. As últimas eleições [nos EUA] foram um ponto de inflexão cultural em direção à liberdade de expressão."
O bilionário afirmou que os verificadores de fatos serão dispensados. A seu ver, eles agiam de forma politicamente tendenciosa e "destruíram mais confiança do que criaram, especialmente nos EUA". Os verificadores eram anteriormente funcionários de agências de notícias renomadas, como a AFP e a Reuters, e analisavam o conteúdo das plataformas em 26 idiomas.
No vídeo de cinco minutos divulgado por Zuckerberg para justificar sua decisão, ele estava, sem dúvida, reagindo às críticas de muitos republicanos nos EUA – incluindo o bilionário Elon Musk, o confidente do presidente eleito dos EUA, Donald Trump – que se queixaram repetidas vezes sobre o controle de conteúdo em suas plataformas.
Anúncio
Lei europeia prevê salvaguardas contra o discurso de ódio e a difamação
Na Europa e na Alemanha, a reação ao anúncio ainda é um tanto cautelosa, o que também pode ter algo a ver com o fato de o fim dos controles – por exemplo sobre conteúdos sexistas ou extremistas de direita – não se aplicar inicialmente aos países europeus. A Lei dos Serviços Digitais (DSA) prevê regulamentações mais rigorosas na UE do que as existentes nos EUA.
Apesar de os verificadores de fatos não serem explicitamente mencionados na diretiva, a DSA exige que as grandes plataformas online adotem medidas contra o discurso de ódio e a difamação, bem como outros conteúdos ilegais na internet. Isso, porém, dificilmente é possível sem a ajuda de especialistas externos. Em caso de violações, as empresas de internet enfrentam penalidades de até seis por cento do seu volume de negócios anual global. A lei está em vigor na Alemanha desde maio de 2024.
"Não permitiremos desafios à nossa democracia"
O ministro alemão dos Assuntos Digitais, Volker Wissing, que está nos EUA, destacou essa diferença entre a UE e os EUA ao comentar o anúncio de Zuckerberg. "Levamos isso muito a sério. Somo capazes de agir de forma decisiva a qualquer momento e adaptar as regulamentações se notarmos que empresas como a Meta não satisfazem nossa necessidade de informação segura e verificada. Não permitiremos que nós mesmos e nossa democracia sejamos desafiados."
Matthias Miersch, secretário-geral do Partido Social Democrata (SPD), sigla que lidera a coalizão de governo alemã, disse que se Zuckerberg não agir contra as notícias falsas, "a questão criminal” também será apurada na Alemanha. Miersch mencionou suspeitas de que plataformas de internet foram usadas para tentar interferir em eleições na UE e enfraquecer "estruturas democráticas fundamentais", como foi o caso da Romênia.
O candidato a chanceler pela conservadora União Democrata Cristã (CDU) e líder nas pesquisas eleitorais, Friedrich Merz, disse que o anúncio de Zuckerberg o preocupa. "Quando se trata da questão do controle democrático, legitimidade e base legal, o mundo digital é analógico", afirmou à DW, explicando que isso quer dizer que as redes não devem ser um espaço para agitação e ódio.
Para especialista, decisão de Zuckerberg é "reverência a Trump"
Especialistas alemães em internet também reagiram com indignação ao fim da checagem de fatos nas redes da Meta. Markus Beckedahl, fundador e editor-chefe do blog Netzpolitik.org e cofundador da conferência Re:Publica, disse que a decisão é uma reverência a Donald Trump e à sua nova administração.
Segundo ele, quase todos os desejos e exigências do Partido Republicano, como a abolição da verificação de fatos e a implementação da "liberdade radical de expressão em todas as plataformas", são agora políticas da Meta.
Anos atrás, Zuckerberg assegurou que suas redes sociais não tinham a intenção de incitar ao ódio.
Em Berlim, contudo há também quem apoie a mudança anunciada por Zuckerberg. O parlamentar do Partido Liberal Democrático (FDP) Wolfgang Kubicki, vice-presidente do Bundestag (Parlamento alemão), saudou a decisão como sendo uma "boa notícia para a liberdade de expressão".
O mês de janeiro em imagens
Reveja alguns dos principais acontecimentos do mês
Foto: MATTHEW HINTON/AFP
Milhares protestam contra convenção da ultradireita na Alemanha
Mais de 10 mil pessoas participam de uma manifestação em uma pequena cidade do leste alemão contra a convenção nacional do partido ultradireitista Alternativa para a Alemanha (AfD). A convenção é parte da campanha do partido para as eleições federais de 23 de fevereiro, convocada após o colapso do governo de coalizão do chanceler federal, Olaf Scholz. (11/01)
Foto: EHL Media/IMAGO
Trump é sentenciado e será 1º presidente condenado dos EUA
O presidente eleito dos EUA, Donald Trump, foi sentenciado por sua condenação criminal decorrente do pagamento em dinheiro para silenciar uma atriz pornô. A penalidade, porém, não inclui multa, prisão ou liberdade condicional. O juiz aplicou ao republicano uma sentença de "dispensa incondicional", que reconhece a culpa do réu, mas não impõe uma pena específica. (10/01)
Foto: Brendan McDermid-Pool/Getty Images
"Sinceramente, estou morrendo", diz ex-presidente do Uruguai José Mujica
Mujica, de 89 anos, revelou que o câncer em seu esôfago se espalhou para o fígado e que a progressão da doença não pode mais ser interrompida. "Não posso fazer nem um tratamento bioquímico nem uma cirurgia porque meu corpo não aguenta", disse. "O que eu peço é que me deixem em paz. O guerreiro tem direito ao descanso." (09/01)
Foto: Santiago Mazzarovich/AFP
Incêndios deixam rastro de destruição na Califórnia
Incêndios florestais de enormes proporções atingiram a Califórnia e deixaram ao menos cinco mortos e dezenas de feridos. No condado de Los Angeles, cerca de 180 mil pessoas tiveram que deixar suas casas por ordem das autoridades, com as chamas consumindo uma área de 117 quilômetros quadrados. (08/01)
Foto: Ringo Chiu/REUTERS
Morre o extremista francês Jean-Marie Le Pen
Líder histórico da extrema direita francesa e pai da ultradireitista Marine Le Pen morreu aos 96 anos. Ele foi um dos fundadores do partido Frente Nacional, renomeado em 2018 para Reunião Nacional. Figura polarizadora na política francesa, Le Pen era conhecido por sua retórica inflamada contra a imigração e o multiculturalismo. (07/01)
Congresso dos EUA certifica vitória eleitoral de Trump
O Congresso dos EUA certificou Donald Trump como vencedor da eleição de 2024. A cerimônia aconteceu sem interrupções – em contraste à violência de 6 de janeiro de 2021, quando, com pelo menos aquiescência de Trump, uma multidão invadiu o Capitólio para impedir certificação de Joe Biden. Os legisladores se reuniram sob forte segurança para cumprir a data exigida pela lei eleitoral. (06/01)
Foto: Chip Somodevilla/Getty Images/AFP
Neve traz caos à Europa e aos Estados Unidos
Após um fim de ano com temperaturas relativamente amenas, nevou no Reino Unido e em outras partes da Europa. Pistas congeladas geraram transtorno nas estradas e levaram ao cancelamento de voos e fechamento de aeroportos, inclusive na Alemanha. Nos Estados Unidos, algumas áreas devem ter a pior nevasca da década. (05/01)
Foto: Danny Lawson/PA Wire/dpa/picture alliance
Trens de longa distância operados pela alemã Deutsche Bahn batem recorde de atraso
Em 2024, 37,5% dos trens de longa distância registraram atraso superior a seis minutos – a maior taxa em 21 anos. Empresa atribuiu piora no desempenho à "infraestrutura ultrapassada e sobrecarregada", obras na rede ferroviária, aumento do tráfego, falta de mão de obra e eventos climáticos extremos, mas disse trabalhar em um plano de ação para melhorar sua pontualidade. (04/01)
Foto: Sebastian Gollnow/dpa/picture alliance
Milhares de alemães assinam petição contra uso de fogos de artifício
Mais de 270 mil alemães assinaram uma petição online pedindo a proibição de fogos de artifício particulares em todo o país, após um Ano Novo marcado por cinco mortes e dezenas de feridos pelo uso incorreto dos fogos. Em várias cidades, equipes de emergência foram atingidas pelos explosivos. Em Berlim, um policial ficou gravemente ferido e precisou ser operado. (03/01)
Foto: Christian Mang/REUTERS
Multidão protesta contra prisão de presidente afastado da Coreia do Sul
Uma centena de pessoas se reuniram em Seul para protestar contra o mandado de prisão imposto ao presidente deposto da Coreia do Sul, Yoon Suk Yeol, acusado de insurreição. Apoiadores se posicionaram em frente à residência de Yoon, que se propôs a "lutar até o fim". Agentes já se posicionam no local para cumprir a ordem judicial. (02/01)
Foto: Philip Fong/AFP
Homem atropela multidão em Nova Orleans e deixa 10 mortos
Ataque ocorreu na Bourbon Street, uma rua turística com bares e clubes noturnos. Condutor do veículo morreu em confronto com policiais e FBI investiga "ato de terrorismo". Suspeito, um cidadão americano do Texas, carregava bandeira do Estado Islâmico. (01/01)