Alemanha quer classificar Holodomor ucraniano como genocídio
Roshni Majumdar
25 de novembro de 2022
Deputados alemães votarão resolução para aumentar conscientização sobre a grande fome que levou milhões de ucranianos à morte de 1932 a 1933 devido a políticas da União Soviética liderada por Josef Stalin.
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As mortes de milhões de ucranianos porfome de 1932 a 1933 devem ser reconhecidas pela Alemanha como genocídio, segundo noticiou a imprensa do país nesta sexta-feira (25/11). O fatídico episódio é chamado de Holodomor, que em ucraniano significa "morte por fome", e foi causado pelas políticas do Partido Comunista e do regime soviético liderado por Josef Stalin.
O texto diz que o período deveria "se juntar à lista de crimes desumanos cometidos por sistemas totalitários, devido aos quais milhões de vidas humanas foram exterminadas na Europa, especialmente na primeira metade do século 20", reportou o jornal Frankfurter Allgemeine Zeitung.
A moção ainda reforça que, em meio à guerra da Rússia contra a Ucrânia, é imperativo mostrar que não deve mais haver espaço para a opressão e a tomada abrupta de poder na Europa. A discussão e a possível aprovação devem ocorrer na próxima quarta-feira no Bundestag (câmara baixa do Parlamento da Alemanha).
Na primeira metade dos anos 30, o Holodomor deixou ao menos 4 milhões de ucranianos mortos. O episódio foi negado pela União Soviética até 1987 e foi muito debatido no final dos anos 80.
Em 2006, a Ucrânia reconheceu a grande fome como um genocídio. Todos os anos, no quarto sábado de novembro, o país presta suas homenagens às vítimas no Dia em Memória ao Holodomor.
Por isso, a resolução no Parlamento alemão, apresentada nesta sexta-feira pelos partidos da coalizão governamental – SPD (social-democratas), Verdes e FDP (liberais) –, bem como pela oposição (CDU/CSU), chega a tempo de marcar a data.
Ligações com a guerra na Ucrânia
O presidente do grupo parlamentar alemão-ucraniano no Bundestag, Robin Wagener, do Partido Verde, disse que "Putin mantém a cruel e criminosa tradição de Stalin", acrescentando que classificar o Holodomor como genocídio é um "sinal de alerta".
"Hoje, a Ucrânia está mais uma vez sendo invadida pelo terror russo. Mais uma vez, a violência e o terror pretendem privar a Ucrânia de sua subsistência, para subjugar o país inteiro", afirmou Wagener.
A revista alemã Der Spiegel noticiou que a moção ainda enfatiza que, na época, "toda a Ucrânia foi afetada pela fome e pela repressão, não apenas suas regiões produtoras de grãos".
A fome começou em meio à caótica coletivização soviética, em 1929, quando milhões de pessoas foram forçadas a se juntar a fazendas estatais, já que a Ucrânia era vista como uma fonte de capital que poderia ser usada para construir uma União Soviética moderna em termos industriais.
O Holodomor é visto como o ápice de um ataque do Partido Comunista aos camponeses ucranianos que resistiram às políticas soviéticas. A ação foi acompanhada por uma campanha de intimidação e prisão de intelectuais, escritores e cidadãos considerados como ameaças às aspirações ideológicas e estatais soviéticas.
Vaticano apoia, Rússia nega alegações
O Vaticano afirmou que a grande fome foi um genocídio. No início desta semana, o Papa Francisco disse que no "sábado começa o aniversário do terrível genocídio do Holodomor, o extermínio por meio da fome causado artificialmente por Stalin de 1932 a 1933".
"Oremos pelas vítimas desse genocídio e oremos por tantos ucranianos – crianças, mulheres, idosos, bebês – que hoje sofrem o martírio da agressão", declarou o papa.
Estima-se o número de mortes pelo Holodomor entre 4,5 milhões a 7 milhões de pessoas – sendo considerada a maior política de extermínio em massa na Europa, no século 20, antes do Holocausto.
A Rússia, por outro lado, nega veementemente o genocídio, alegando que não foram apenas ucranianos, mas também russos, cazaques, alemães da região do rio Volga e outros que foram vítimas da grande fome no início da década de 30.
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Alemanha criminaliza negacionismo
O Bundesrat, a câmara alta do Parlamento alemão (com representantes dos estados), aprovou nesta sexta-feira uma emenda constitucional para criminalizar a negação de crimes de guerra.
Qualquer "trivialização grosseira" de crimes de guerra e de casos de genocídio será reconhecida como um ato criminoso no recém-criado parágrafo 5 da seção 130 do código penal alemão.
O artigo 130 é frequentemente aplicado em julgamentos relacionados à negação do Holocausto, o que é considerado ilegal na Alemanha.
Ataques da Rússia a alvos civis na Ucrânia
Vladimir Putin nega que o exército russo esteja atacando alvos civis na guerra na Ucrânia. Mas os fatos o contradizem, como mostra esta galeria de fotos, que nem de longe abrange todos os ataques russos.
Foto: Maksim Levin/REUTERS
Mais de 5.500 civis mortos
O presidente russo, Vladimir Putin, declarou no fim de junho: "O exército russo não está atacando alvos civis". Observadores independentes discordam: de acordo com dados da ONU, mais de 5.500 civis morreram na Ucrânia desde o início da guerra e mais de 7.800 ficaram feridos como resultado de ataques russos. Na foto, um centro comercial destruído em Kremenchuk, 27/06/2022.
Foto: Efrem Lukatsky/AP Photo/picture alliance
Chaplyne: 25 mortos em bombardeio
Uma enorme cratera em Chaplyne. A pequena cidade no leste da Ucrânia, com cerca de 3.800 habitantes, foi alvo de um ataque russo em 24 de agosto, como admitiu mais tarde o Ministério da Defesa em Moscou. O alvo foi um trem de transporte de armas, mas o ataque também atingiu civis. Segundo a companhia ferroviária ucraniana, 25 foram mortos, incluindo duas crianças.
Foto: Dmytro Smolienko/Ukrinform/IMAGO
Vinnytsia: 28 vítimas em ataque com foguete
Em 14 de julho, o exército russo atingiu com um míssil a Casa dos Oficiais de Vinnytsia, onde teria ocorrido "uma reunião da liderança militar das Forças Armadas ucranianas e fornecedores estrangeiros de armas". Entre os 28 mortos, estavam três crianças e três oficiais, além de mais de 100 feridos. Vinnytsia se localiza a sudoeste de Kiev.
Foto: State Emergency Service of Ukraine/REUTERS
Chasiv Yar: 48 mortos em bombardeio
Na noite de 9 de julho, a pequena cidade de Chasiv Yar, no leste da Ucrânia, foi bombardeada. Segundo a mídia, os lançadores de foguetes múltiplos Uragan foram disparados em áreas residenciais. Um edifício residencial de cinco andares foi duramente atingido, e 48 corpos foram resgatados de seus escombros.
Foto: Nariman El-Mofty/AP/dpa/picture alliance
Serhiyivka: 21 mortos em ataque com mísseis de cruzeiro
Um ataque a Serhiyivka em 1º de julho custou pelo menos 21 vidas. O porto perto de Odessa aparentemente foi atingido por mísseis de cruzeiro durante a noite, como a Anistia Internacional informou após investigações no local. Pelo menos 35 ficaram feridos nos ataques. Por ser um resort de saúde, Serhiyivka é particularmente popular entre os turistas russos.
Foto: Maxim Penko/AP/picture alliance
Kramatorsk: 61 mortos na estação de trem
Imagens terríveis de Kramatorsk deram a volta ao mundo em 8 de abril: vários mísseis submarinos russos 9K79-1 Tochka atingiram a estação ferroviária da cidade no leste da Ucrânia, enquanto passageiros esperavam pelo trem. 61 foram mortos, incluindo sete crianças. Cientistas de balística determinaram que os mísseis haviam sido disparados da área da Ucrânia controlada pelos russos.
Foto: Ukrainian President Volodymyr Zelenskyy's Telegram channel/dpa/picture alliance
Bucha: encontrados 1.316 corpos
Bucha tornou-se sinônimo das ações brutais do Exército russo: depois que as tropas inimigas partiram, em 30 de março, vários corpos jaziam na rua Jablunska. No total, foram encontrados 1.316 corpos em Bucha e arredores. Embora a Rússia tenha negado quaisquer massacres, verificadores de fatos internacionais e equipes de investigação confirmaram execuções de civis por soldados russos.
Foto: Zohra Bensemra/Reuters
Mykolaiv: 36 mortos em ataque à administração regional
Em 29 de março, um ataque aéreo atingiu o prédio da administração regional de Mykolaiv. A parte central do edifício foi completamente destruída, do primeiro ao nono andar, restando apenas um esqueleto do prédio. A explosão também danificou vários edifícios residenciais e administrativos próximos, causando a morte de 36 cidadãos.
Em 16 de março, uma bomba destruiu o teatro no centro de Mariupol. De acordo com a Human Rights Watch, mais de 500 civis estavam se abrigando dos ataques no prédio na época. A palavra "Crianças" escrita em enormes letras brancas na frente e atrás do prédio não serviu como escudo. Segundo a prefeitura, 300 morreram.
Foto: Pavel Klimov/REUTERS
Mariupol: quatro mortos em ataque a clínica
Um ataque aéreo russo em 9 de março destruiu o hospital infantil e a maternidade de Mariupol. Houve menos quatro mortes, incluindo uma grávida e seu bebê, 17 ficaram feridos. Enquanto o Ministério da Defesa russo falou de uma "provocação encenada", o chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, chamou o atentado de "crime de guerra".
Foto: Evgeniy Maloletka/AP/picture alliance
Charkiv: foguete mata 24 pessoas
Um vídeo de vigilância divulgado pelo Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia mostrou um foguete atingindo o prédio da Administração Estatal Regional de Kharkiv em 1º de março, causando 24 mortes, inclusive de transeuntes.
Foto: Pavel Dorogoy/AP/picture alliance
Inquérito do Tribunal Penal Internacional
As autoridades ucranianas relatam mais de 29 mil crimes de guerra, do início do conflito, em 24 de fevereiro de 2022, até 26 de agosto. Investigações independentes prosseguem. O Tribunal Penal Internacional enviou equipes para coletar informações. De acordo com as Convenções de Genebra, ataques deliberados a civis são crimes de guerra. No entanto, a Rússia não reconhece a corte sediada em Haia.