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Alemanha quer eliminar extremismo de tropa de elite

2 de julho de 2020

Com reforma, Ministério da Defesa alemão pretende "apertar o botão de reset" no KSK, unidade de elite das Forças Armadas abalada por escândalos sobre envolvimento de seus membros com extremismo de direita.

Soldados alemães
O KSK foi criado em 1996Foto: picture-alliance/dpa/C. Rehder

A ministra alemã da Defesa, Annegret Kramp-Karrenbauer, apresentou nesta quarta-feira (30/06), planos de reforma que devem significar uma profunda transformação no Comando de Forças Especiais (KSK), unidade de elite da Bundeswehr (Forças Armadas) que ocupou manchetes devido a frequentes escândalos sobre envolvimento de seus membros com extremismo de direita.

"Somos obrigados a constatar que, ao menos em partes do KSK, desenvolveu-se uma liderança tóxica, a partir de um conceito equivocado de liderança", declarou Kramp-Karrenbauer ao apresentar a reforma, em Berlim.

Por isso, o KSK não pode continuar como está e precisa ser modificado a partir de dentro, disse a ministra. "Queremos encorajar os corajosos."

Na prática, isso significa que a tropa de elite do Exército alemão será reduzida e terá menos atribuições. O ponto determinante para a reforma foi a descoberta de um arsenal de armas, munição e explosivos escondido na residência de um soldado do KSK, em maio.

A reforma mira principalmente a segunda companhia de comando, que deverá ser extinta. Em 2017, a companhia organizou uma festa de despedida para um comandante, na qual soldados do KSK arremessaram cabeças de porcos, ouviram rock de extrema direita e fizeram a saudação nazista.

Desde então, o KSK ganhou manchetes na Alemanha várias vezes por causa de incidentes extremistas. Em janeiro de 2020, o presidente do serviço secreto militar alemão (MAD), Christof Gramm, alertou para cerca de 20 casos de suspeita de extremismo de direita no KSK. Proporcionalmente, isso é cinco vezes mais do que em toda a Bundeswehr.

Chance de recomeço

A reforma planejada pelo Ministério da Defesa almeja acabar com o extremismo de direita no KSK. Além da extinção da segunda companhia de comando, membros do KSK em missões ou exercícios no exterior deverão retornar à Alemanha. Cooperações internacionais serão suspensas. Para Kramp-Karrenbauer, essas medidas permitirão ao KSK "apertar o botão de reset" e se reconstituir.

Além disso, a reforma prevê um sistema de rotação. Sobretudo soldados que desejam assumir cargos de comando deverão ter, primeiramente, servido em outras unidades da Bundeswehr. O KSK também não poderá mais formar seus próprios soldados. Essa atribuição caberá ao Exército.

O processo de reforma deverá ser acompanhado por um conselho especial, sob a direção do inspetor-geral da Bundeswehr. O inspetor-geral é o mais alto cargo militar da Bundeswehr e assessora o governo em assuntos militares.

Kramp-Karrenbauer ressaltou que a reforma não é uma punição para o KSK, mas uma oportunidade. "Uma chance sobretudo para as forças do KSK que têm senso crítico de colaborarem pessoalmente para que este KSK, que celebra seu jubileu no próximo ano, seja um KSK melhor."

A ministra visitou a unidade de elite nesta segunda-feira e deixou claro aos soldados que eles deverão decidir se querem ser parte da solução ou se querem continuar sendo parte do problema.

Unidade de operações sigilosas

O KSK foi criado em 1996, depois de a Alemanha se ver obrigada a apelar para a tropa de elite da Bélgica para resgatar cidadãos alemães durante o genocídio em Ruanda. A unidade emprega hoje cerca de 1.700 pessoas, incluindo militares e funcionários civis.

Idealmente, essa tropa de elite executa suas tarefas de forma eficiente e extremamente sigilosa. Às vezes, porém, algumas missões acabam chegando à imprensa. Foi assim em 2012, quando o KSK prendeu um líder do Talibã no Afeganistão.

Mesmo o porta-voz para assuntos militares do Partido Verde, um partido de raízes pacifistas, elogiou o sucesso da missão. Mas ele também pediu mais transparência na comunicação com o Bundestag (Parlamento).

A Bundeswehr é, afinal, comandada pelos parlamentares. São eles que têm a última palavra sobre missões no exterior. E os relatos que chegam à imprensa sobre o que acontece no KSK devem deixar os deputados alemães preocupados.

Em maio se tornou conhecido o caso de um sargento que foi suspenso do trabalho devido à sua proximidade com o Movimento Identitário, um grupo de extrema direita.

O próprio chefe do KSK, o general de brigada Markus Kreitmayr, afirmou em maio, depois da descoberta do arsenal escondido, que a unidade tem um problema com o extremismo de direita.

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Marcel Fürstenau Autor e repórter de política e história contemporânea, com foco na Alemanha.
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