Alemanha quer teste de covid-19 obrigatório para viajantes
27 de julho de 2020
Exame gratuito será aplicado em passageiros procedentes de países de risco, incluindo o Brasil. Medida é criticada por médicos. Com flexibilização de viagens, Alemanha enfrenta aumento do número de casos.
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O governo da Alemanha anunciou nesta segunda-feira (27/07) que pretende tornar obrigatório o teste do novo coronavírus para viajantes que retornem ao país vindos de territórios considerados de risco. A medida visa evitar uma explosão no número de infecções no fim da temporada europeia de férias.
"Temos que evitar que quem volta do exterior infecte outros sem saber, desencadeando um surto", disse o ministro da Saúde alemão, Jens Spahn, ao defender a imposição da obrigatoriedade do exame. Ele lembrou que a legislação alemã permite tornar obrigatório um exame clínico quando há risco de infecção elevado.
Os testes serão disponibilizados gratuitamente. A medida deve entrar em vigor na próxima semana. Atualmente, a Alemanha lista quase 140 países como área de risco, incluindo Estados Unidos e Brasil. Além de aeroportos, os testes deverão ser oferecidos em estações de trem e postos da fronteira.
Desde o fim de semana, alguns aeroportos alemães, como o de Frankfurt, já oferecem o teste de covid-19 aos que retornam ao país. A decisão de realizar o exame, porém, cabe ao passageiro, como uma alternativa à quarentena.
Até a introdução da alternativa, viajantes procedentes de regiões de risco precisavam cumprir uma quarentena em casa, a menos que apresentassem teste negativo realizado nas últimas 48 horas. Essa fórmula, no entanto, era considerada ineficaz, pois não havia monitoramento real do cumprimento e de como fazê-lo, principalmente devido ao número crescente de viajantes durante a época de férias.
A obrigatoriedade do teste foi criticada pela presidente da Associação de Médicos do Serviço Público de Saúde, Ute Teichert. Segundo ela, apenas um exame não garante segurança: "Quem no último dia da viagem se infectou, por exemplo, numa festa de despedida na praia, pode não apresentar um resultado positivo no dia do retorno", explicou.
O chefe de gabinete da chanceler federal Angela Merkel, Helge Braun, defendeu a medida, e pediu à população que continue seguindo as medidas de distanciamento social e de higiene, além de usar máscara protetora, para evitar uma segunda onda de infecções na Alemanha nos próximos meses.
O debate sobre a obrigatoriedade do teste ganhou força com o recente aumento do número diário de novos casos no país. Depois de um crescimento significativo em relação às semanas anteriores, porém, nas últimas 24 horas foram contabilizadas no país apenas 340 novas infecções, de acordo com dados divulgados pelo Instituto Robert Koch (RKI) nesta segunda-feira.
A instituição responsável pela prevenção e controle de doenças computa um total de 205.609 infecções desde o início da pandemia, com 9.118 óbitos. O anúncio ocorre logo após a decisão do Reino Unido de decretar quarentena obrigatória para todos os viajantes que cheguem da Espanha.
Vírus por toda parte! Talvez no tomate, no pacote do correio, até no próprio cão de estimação? O Departamento de Avaliação de Risco da Alemanha esclarece o que se sabe sobre o Sars-Cov-2.
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Maçanetas contaminadas
Os coronavírus conhecidos permanecem infecciosos em superfícies como maçanetas por quatro a cinco dias, em média. Como todas as infecções por gotículas, o Sars-Cov-2 se propaga por mãos e superfícies tocadas com frequência. Embora seja ainda relativamente desconhecido, os especialistas partem do princípio que os conhecimentos sobre as variedades já estudadas se aplicam ao novo coronavírus.
Por isso é necessário certo cuidado durante o almoço no refeitório do trabalho – se ainda estiver funcionando. Em princípio, coronavírus contaminam pratos ou talheres se alguém infectado espirra ou tosse diretamente neles. No entanto, o Departamento Federal alemão de Avaliação de Riscos (BfR) enfatiza que "até agora não se sabe de infecções com o Sars-Cov-2 por esse meio de transmissão".
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Medo de importados?
Ainda segundo o BfR, os pais não precisam temer um contágio através de brinquedos importados. Até o momento não pôde ser comprovado nenhum caso desses. Os estudos sugerem que o novo coronavírus seja relativamente instável em termos ambientais: os patógenos permaneceriam infecciosos durante vários dias sobretudo a temperaturas baixas e alta umidade atmosférica.
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Vírus pelo correio?
Em geral, coronavírus humanos não são especialmente resistentes sobre superfícies secas. Como sua estabilidade fora do organismo humano depende de diversos fatores ambientais, como temperatura e umidade, o BfR considera "antes improvável" um contágio por pacotes de correio – embora ressalvando ainda não haver dados mais precisos sobre o Sars-Cov-2.
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Pingue-pongue entre cão e dono?
Meu cachorro pode me contagiar e eu a ele? Também o risco de contaminação de animais domésticos é considerado muito baixo pelos especialistas, embora não o descartem. Os próprios animais não apresentam sintomas patológicos. Caso infectados, contudo, é possível transmitirem o coronavírus pelas vias respiratórias ou excreções.
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Verduras assassinas?
Igualmente improvável é a transmissão do Sars-Cov-2 através de alimentos contaminados, na avaliação do BfR, não sendo conhecidos casos comprovados. Lavar cuidadosamente as mãos antes do preparar da refeição continua sendo mandatório nos tempos da covid-19. Como os vírus são sensíveis ao calor, aquecer os alimentos pode reduzir ainda mais o risco de contágio.
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Longa vida no gelo
Embora os coronavírus Sars e Mers conhecidos até o presente reajam mal ao calor, eles são bastantes resistentes ao frio, permanecendo infecciosos a -20 ºC por até dois anos. Também aqui, contudo, não há qualquer indício de cadeias infecciosas do Sars-Cov-2 por meio do consumo de alimentos, mesmo supercongelados.
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Animais silvestres são tabu
Um efeito positivo do surto de covid-19 é a China ter proibido o consumo de carne de animais selvagens. Há fortes indícios de o novo coronavírus ter sido transmitido aos seres humanos por um morcego. O animal, porém, não teve qualquer culpa: ele foi possivelmente servido como iguaria, certamente contra a própria vontade. E agora os seres humanos amargam a "maldição do morcego que virou sopa"...