Alemanha recebe mais de 15 mil migrantes no fim de semana
6 de setembro de 2015
Polícia dobrou estimativa de chegadas para 10 mil neste domingo. No sábado, trens vindos da Hungria e Áustria levaram 7 mil a Munique. Refugiados deverão custar até 10 bilhões de euros ao governo em 2015, diz jornal.
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Milhares de migrantes continuaram chegando à Alemanha neste domingo (06/09), após exaustiva viagem desde a Hungria e a Áustria, sendo recebidos por voluntários com aplausos e cartazes de boas-vindas.
A polícia alemã dobrou a estimativa de refugiados que chegariam neste domingo ao sul do país para mais de 10 mil pessoas. No sábado, cerca de 7 mil requerentes de asilo desembarcaram de trem em Munique, capital da Baviera.
A Alemanha espera receber cerca de 800 mil refugiados neste ano a um custo total estimado em 10 bilhões de euros, de acordo com reportagem publicada pelo jornal Frankfurter Allgemeine Sonntagszeitung. A quantia corresponde a quatro vezes o que o país gastou com migrantes em 2014.
A publicação alemã calculou os custos a partir de projeções baseadas na verba gasta no ano passado – 2,4 bilhões de euros para 203 mil requerentes de asilo. Antes de Berlim elevar sua estimativa do número total de pessoas esperadas para este ano, o governo reservou um orçamento de 5,6 bilhões de euros para acomodar cerca de 450 mil pessoas, segundo o periódico.
Considerando o aumento das chegadas em solo alemão, a estimativa de 10 bilhões de euros foi considerada "bastante realista" por representantes de diversos níveis administrativos – federais, estaduais e municipais –, segundo o jornal.
Cenas comoventes
Em cenas comoventes, os recém-chegados, segurando seus filhos e seus poucos pertences, saíram dos trens em Munique, Frankfurt e em outros lugares na Alemanha, recebendo aplausos de pessoas que seguravam balões, tiravam fotos e lhes deram água e comida.
"As pessoas aqui nos tratam bem, nos tratam como seres humanos reais, não como na Síria", disse, com lágrimas nos olhos, Mohammad, de 32 anos, da cidade de Qusayr, devastada pela guerra.
Só no sábado, cerca de 8 mil migrantes atravessaram as fronteiras alemãs, de acordo com a polícia. Em Munique, cerca de 1.200 chegaram na manhã deste domingo.
Quando os refugiados desembarcaram dos trens, a polícia os encaminhou para ônibus com destino a abrigos temporários, que foram criados em edifícios públicos, hotéis e quartéis do Exército em todo o país.
Com a UE dividida entre leste e oeste sobre como lidar com o fluxo de migrantes, o papa Francisco pediu que cada paróquia católica na Europa acolha uma família de refugiados.
Preocupação europeia
No entanto, os políticos na Alemanha e em outros países da Europa têm manifestado crescente preocupação com o número de chegadas, advertindo que o afluxo trará problemas tanto logísticos como políticos.
O chanceler austríaco, Werner Faymann, advertiu que o ingresso de milhares de refugiados a partir de Hungria foi apenas uma medida "temporária" de seu país e instou os 28 membros da União Europeia a lidarem coletivamente com o problema.
Ministros do Exterior da União Europeia (UE) discutiram neste sábado a implementação de cinco ações para gerir a crise migratória no bloco. Reunidos em Luxemburgo desde a última sexta-feira, os líderes europeus concordaram em fazer um combate mais efetivo contra atravessadores no mar Mediterrâneo e criar um fundo para apoiar países africanos.
A chanceler federal alemã, Angela Merkel, falou no sábado por telefone com o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orban, que tem chamado a onda de refugiados de um "problema alemão" causado pela declaração pública de Berlim de que iria receber os sírios.
"Ambos os lados concordaram que a Hungria e a Alemanha devem cumprir as suas obrigações europeias, incluindo as suas obrigações de acordo com a convenção de Dublin", disse o porta-voz de Merkel, Georg Streiter. Segundo as chamadas regras de Dublin, os pedidos de asilo devem ser processados pelo país onde o imigrante chega primeiro. "Orban e Merkel concordaram que o afluxo do fim de semana foi excepcional, devido à situação de emergência em Budapeste", acrescentou Streiter.
Pressão interna
A chanceler Angela Merkel também enfrenta pressão política interna. Em reunião da coalizão de governo alemã para decidir a distribuição de verbas entre estados destinadas à assistência aos refugiados neste domingo, Merkel afirmou que o objetivo é criar princípios básicos para um pacote global de medidas.
Na véspera, a União Social Cristã (CSU), partido irmão da União Democrata Cristã (CDU) de Merkel, criticou como "errada" a decisão do governo de permitir a entrada na Alemanha de milhares de refugiados vindos da Hungria.
Em declarações publicadas neste domingo pelo jornal Bild am Sonntag, o secretário-geral da CSU, Andreas Scheuer, advertiu sobre o "efeito de atração" que a decisão pode provocar, acrescentando ser necessário "limitar o afluxo maciço de refugiados" para a Alemanha. "Isso não pode continuar", reclamou, argumentando que cada refugiado que chega à Europa pensa na Alemanha, mas que "a Alemanha sozinha não pode lidar com isso."
KG/MD/afp/rtr/dpa/epd
Como alemães ajudam refugiados
Ataques a abrigos de migrantes tornaram-se rotineiros na Alemanha. Mas essa é apenas uma parcela da realidade do país, onde milhares de voluntários e iniciativas auxiliam os que nele buscam refúgio.
Foto: picture-alliance/dpa/P. Endig
Desafio das boas-vindas
Usando a hashtag #WelcomeChallenge no Facebook e no Youtube, voluntários alemães promovem a ajuda a refugiados. Quem auxilia os migrantes de alguma maneira posta uma imagem com a hashtag. A chef alemã Sarah Wiener foi convidada a ajudar e, sorridente, levou 150 porções de sopa orgânica com pão a um abrigo em Berlim.
Foto: picture-alliance/dpa/G. Fischer
Um time de refugiados
Henning Eich, jogador do time de futebol Lok Postdam, congratula os jogadores do Welcome United 03, a primeira equipe alemã formada somente por refugiados. Logo no primeiro jogo do campeonato, em Postdam, o Welcome United 03 venceu o Lok Potsdam por 3 a 2. "O futebol une", afirma Manja Thieme, responsável pela equipe com 40 integrantes.
Foto: picture-alliance/dpa/O. Mehlis
Alemão no cotidiano
Em Thannhausen, na Baviera, o voluntário Karl Landherr dá aulas de alemão a requerentes de asilo. Junto com alguns colegas, o professor aposentado também criou um livro de alemão que oferece uma espécie de "estratégia de sobrevivência" para os refugiados recém-chegados ao país, segundo Landherr. O livro dá dicas práticas para o dia a dia e ficou conhecido em toda a Alemanha.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Puchner
Festa de boas-vindas
Refugiados e apoiadores dançaram juntos numa festa de boas-vindas, organizada pela aliança Dresden Nazifrei (Dresden livre dos nazistas). Os 600 requerentes de asilo de Heidenau – alojados numa antiga loja de materiais de construção e protegidos atrás de cercas altas – já nem pensam em deixar seus alojamentos por medo da extrema direita.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Willnow
Bicicletas para refugiados
Na foto, Tobias Fleiter enche o pneu da bicicleta de um refugiado do Togo. Fleiter é um dos integrantes do projeto Bicicletas Sem Fronteiras, que contava somente com dois voluntários quando começou. Hoje, 15 voluntários formam o time, que já consertou mais de 200 bicicletas em Karlsruhe, emprestando-as a refugiados.
Foto: picture-alliance/dpa/U. Deck
Escola vira abrigo
Em Berlim, os centros de refugiados estão lotados. Recentemente, três novos abrigos foram abertos, sendo um deles a escola Teske, em Schöneberg, que estava vazia há tempos. Até 200 pessoas podem ser acomodadas no local, onde contam com o apoio de assistentes sociais. Muitos voluntários também ajudam por ali, organizando as roupas, por exemplo.
Foto: picture-alliance/dpa/B. von Jutrczenka
Bem-vindos à ilha de Sylt
Joachim Leber (no centro) auxilia esta família da Síria. Ele é membro da associação Integrationshilfe na ilha de Sylt, na qual cerca de 120 refugiados recebem assistência. A maioria deles vem do Afeganistão, da Somália e da Síria. Voluntários procuram ajudá-los com a língua alemã e motivação pessoal. "A Alemanha também foi ajudada após a Segunda Guerra", diz Leber.
Foto: picture-alliance/dpa/B. Marks
Resgate no Mediterrâneo
Em lanchas, soldados alemães resgatam refugiados no Mediterrâneo e os levam para seus navios. Desde o começo de maio deste ano, as tripulações alemãs salvaram cerca de 7,5 mil pessoas. Entre elas estava Rahmar Ali (no centro), de vestido roxo. A mulher de 33 anos, grávida, é natural da Somália e estava em fuga sozinha há cinco meses.
Foto: picture-alliance/dpa/Bundeswehr/T. Petersen
Primeiro bebê refugiado
Sophia nasceu com 49 centímetros e três quilos. Ela é o primeiro bebê que veio ao mundo num navio da Bundeswehr (Forças Armadas da Alemanha). Foi um nascimento assistido por médicos no último segundo e uma grande alegria para a mãe, Rahmar Ali, da Somália. "Especialmente nesses momentos você sente que está fazendo algo com sentido", diz um soldado que esteve presente no nascimento da criança.
Foto: Reuters/Bundeswehr/PAO Mittelmeer
Caminho seguro
Como eu vou de trem do ponto A ao B? O que significam os sinais? Onde eu posso obter um bilhete de trem? Em Halle, refugiados da Síria aprendem tudo isso na estação central da cidade. Na foto, uma policial mostra que, por motivos de segurança, é preciso ficar atrás da faixa branca quando um trem passa pela plataforma.
Foto: picture-alliance/dpa/H. Schmidt
Primeiro clube de natação
Na cidade de Schwäbisch Gmünd, refugiados podem aprender a nadar. Ludwig Majohr (de boné) dá as aulas de natação. Ele é um dos oito aposentados voluntários no clube de natação, recém-fundado. O objetivo principal é a integração, segundo Gmünd. "Na natação, as pessoas se ajudam", completa o voluntário Roland Wendel. "Não perguntamos as nacionalidades."
Foto: picture-alliance/dpa/S. Puchner
Mais café, menos ódio
Em Halle, o partido ultradireitista NPD pretendia protestar recentemente contra um planejado centro para requerentes de asilo. A cidade respondeu com um convite para um café da manhã aberto, em prol da tolerância. Mais de 1.200 pessoas compareceram, compartilhando pãezinhos e bolos com os refugiados. Um belo gesto de boas-vindas.