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Hans Fallada

23 de julho de 2011

Autor, nascido em 1893, era apolítico. Mas, ironicamente, seu romance mais famoso trata da resistência das pessoas comuns ao nazismo. Museu no norte alemão cultiva memória de Hans Fallada, morto em Berlim em 1947.

Hans Fallada (1893-1947)
Hans Fallada (1893-1947)Foto: dpa Bilderdienste
Casa de Hans Fallada, em CarwitzFoto: DW / Sven Kästner

O lago cintila ao sol, com uma pequena fazenda diretamente à sua margem. Foi essa calma bucólica que atraiu o escritor Hans Fallada (1893-1947) a Carwitz, na região de Mecklemburgo. Em 1933, ele deixou Berlim, seguindo cerca de 100 quilômetros para o norte, a fim de se estabelecer na propriedade situada nas redondezas da cidadezinha.

"Em 1933, depois do êxito mundial de Kleiner Mann, was nun ["E agora, homenzinho", em tradução livre], Fallada estava em condições de realizar seu sonho longamente acalentado de ter a própria fazenda, pois, afinal, era agrônomo formado", explica Stefan Knüppel, diretor do Museu Fallada. A instituição foi criada em 1995, na antiga residência da propriedade rural, em cujo andar térreo também se encontra a escrivaninha pesada e escura onde o autor criou a maior parte de seus romances.

Os 11 anos que Fallada passou em Carwitz contam entre os mais equilibrados de sua vida. Somente longe das grandes cidades ele conseguiu controlar, até certo ponto, sua dependência do álcool e das drogas. "Não me consta que Fallada tenha consumido morfina aqui em Carwitz, com exceção, talvez, dos últimos meses. Mas naturalmente os outros vícios também estavam presentes aqui", relata Knüppel.

Redescoberta tardia

Capa de 'Jeder stirbt für sich allein'

Na atual temporada, o museu recebe um grande número de visitantes, pois Hans Fallada vivencia um renascimento. Quase 65 anos após sua morte, seu último romance, Jeder stirbt für sich allein ("Cada um morre por si", em tradução livre) voltou a ser publicado na Alemanha, tornando-se sucesso de vendas imediato. O livro ilustra a resistência de pessoas comuns contra a ditadura de Adolf Hitler, através de um casal de operários berlinenses os quais se tornam, de nazistas passivos, em opositores do regime.

"Na realidade, foram editoras estrangeiras a redescobrir a história: primeiro em 2002 na França, depois 2009 nos Estados Unidos", comenta a diretora do Arquivo Fallada, Erika Becker. "A publicação nos EUA deu, então, o impulso para outras edições, todas lançadas ainda em 2009: na Itália, na Grã-Bretanha, na Holanda. E em 2010, ainda uma tradução hebraica, em Israel."

Em contraste, a primeira edição, em 1947, praticamente só foi vendida na Alemanha. Aqui, o romance foi também adaptado para as telas várias vezes, inclusive com a atriz Hildegard Knef, em 1975. Fallada conta como o casal Quangel inicia pequenas ações de resistência, apesar do constante medo de ser denunciado pelos vizinhos. A cada semana, eles distribuem, nas entradas dos prédios de Berlim, uns três cartões postais contendo slogans antinazistas, até que são presos pela polícia secreta.

Cidadão apolítico

É notável que precisamente essa história de coragem pessoal em tempos difíceis se tenha tornado uma das mais conhecidas do romancista – o qual, na realidade, era apolítico. "Fallada não se interessava por processos políticos ou por dinâmicas sociais e sim pela luta do indivíduo para conseguir se virar em determinadas situações", analisa a diretora de arquivo Erika Becker. Da mesma maneira que ele mesmo tentou se manter como autor na Alemanha após a ascensão do nazismo, enquanto seus colegas foram para o exterior.

Sepultura de Hans Fallada, em CarwitzFoto: DW / Sven Kästner

Para tal, por vezes Fallada teve que fazer concessões à crítica literária nacional-socialista. De qualquer modo, nessa época ele se dedicou mais à literatura ligeira e infantil. Hoje, o museu exibe suas primeiras edições dentro desses gêneros, lado a lado com cartas, manuscritos e os esboços para Jeder stirbt für sich allein.

Em 1944, Fallada abandonou a família e o lar por uma jovem amante e mergulhou de vez na narcodependência, retornando em 1945, após uma terapia, a Berlim, onde faleceu dois anos mais tarde. Somente no início da década de 80 seus restos mortais foram trasladados para Carwitz, num retorno tardio ao cenário de seus melhores anos.

Autor: Sven Kästner / Augusto Valente
Revisão: Marcio Damasceno

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