Berlim afirma que crise migratória e metas orçamentárias com credores internacionais não devem ser misturadas. Premiê grego, Alexis Tsipras, diz que Europa passa por "crise nervosa" e pressionará por solidariedade.
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A Alemanha rejeitou neste domingo (06/03) os apelos para dar à Grécia mais tempo para atingir as metas orçamentárias acordadas com os credores internacionais em seu terceiro programa de resgate financeiro, enquanto o país lida com o fluxo de refugiados.
A recente imposição da Áustria de restrições à fronteira desencadeou um efeito dominó na Europa que deixou dezenas de milhares de migrantes retidos na Grécia, colocando mais pressão sobre um país que depende de uma recuperação econômica após seis anos de recessão.
"A questão dos refugiados e o programa de ajuda para a Grécia não devem ser misturados", disse à agência de notícias Reuters um porta-voz do ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble, ao ser questionado sobre a sugestão do presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz, de que a Grécia deveria ter mais tempo para resolver seus problemas de orçamento.
A ideia também foi rejeitada por Manfred Weber, líder do Partido Popular Europeu, de centro-direita, o maior bloco no Parlamento Europeu.
"Qualquer um que dilui a política de estabilização europeia na crise de migração brinca com fogo", disse Weber a vários jornais locais."As regras da dívida europeia não devem ser enfraquecidas. E isto também se aplica para as condições de reforma para a Grécia."
Schulz, membro principal do co-governante Partido Social-Democrata da Alemanha (SPD), havia argumentado que a crise de migração estava afetando a Grécia mais do que outros países da União Europeia (EU), devido à sua localização geográfica, causando problemas orçamentários adicionais.
"Por conseguinte, temos de mostrar mais flexibilidade no que diz respeito à aplicação dos critérios do déficit", disse Schulz.
A chanceler alemã, Angela Merkel, disse no sábado que a Grécia precisava entregar rapidamente a sua promessa de fornecer alojamento para 50 mil refugiados e que a UE deve ajudar Atenas com a tarefa.
"Europa passa por crise nervosa"
Na segunda-feira, a Grécia irá pressionar por solidariedade aos refugiados e a justa repartição das responsabilidades entre os países europeus na cúpula de emergência da UE com a Turquia, disse o primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, também neste domingo, criticando as restrições em fronteiras que levaram a impasses.
Tsipras acusou a Áustria e países dos Bálcãs de "arruinar a Europa" ao diminuir o fluxo de migrantes e refugiados a caminho do norte, saindo da Grécia, onde cerca de 30 mil estão retidos esperando que a Macedônia reabra a sua fronteira para que eles possam ir à Europa Central.
Com mais pessoas chegando ao continente a partir das ilhas gregas próximas à costa turca, os números poderiam aumentar em 100 mil até o final deste mês, avaliou no sábado o comissário de Migração da EU, Dimitris Avramopoulos.
"A Europa está em uma crise nervosa", disse Tsipras ao comitê central de seu partido de esquerda Syriza. "Será que uma Europa de medo e racismo vai se sobrepor a uma Europa solidária?"
Ele disse que os países da Europa Central com problemas demográficos graves e baixo desemprego podem se beneficiar a longo prazo acolhendo milhões de refugiados, mas as políticas de austeridade têm alimentado um "monstro" de extrema-direita ao se opor à entrada.
PV/rtr/ots
2015, o ano dos refugiados
Nunca tantas pessoas estiveram em fuga como em 2015. Muitos delas seguiram para a Europa, com o objetivo de chegar à Alemanha ou à Suécia. Confira uma restrospectiva fotográfica do "ano dos refugiados".
Foto: Reuters/O. Teofilovski
Chegada à União Europeia
Esses jovens sírios superaram uma etapa perigosa da sua viagem: eles conseguiram chegar à Grécia e, assim, à União Europeia. O objetivo final, porém, ainda não foi alcançado: eles querem continuar a jornada para o norte, em direção a outros países-membros do bloco. Em 2015, a maioria dos refugiados seguiu para a Alemanha e para a Suécia.
Foto: Reuters/Y. Behrakis
Perigosa travessia do Mediterrâneo
O caminho que eles deixam para trás é extremamente perigoso. Vários barcos com refugiados, nem sempre aptos à navegação, já viraram durante a travessia do Mar Mediterrâneo. Estas crianças sírias e seu pai tiveram sorte: eles foram resgatados por pescadores gregos na costa da ilha de Lesbos, na Grécia.
Foto: Reuters/Y. Behrakis
A imagem que comoveu o mundo
Aylan Kurdi, de 3 anos, não sobreviveu à fuga. No início de setembro, ele se afogou no Mar Egeu, juntamente com o irmão e a mãe, ao tentar chegar à ilha grega de Kos. A foto do menino sírio, morto na praia de Bodrum, espalhou-se rapidamente pela mídia e chocou pessoas de todo o mundo.
Foto: Reuters/Stringer
Onde as diferenças são visíveis
A ilha grega de Kos, a menos de 5 quilômetros de distância da Turquia continental, é o destino de muitos refugiados. As praias geralmente cheias de turistas servem de ponto de desembarque, como no caso deste grupo de refugiados paquistaneses que chegou à costa da Grécia com um bote de borracha.
Foto: Reuters/Y. Behrakis
Em meio ao caos
Porém, muitos refugiados não conseguem simplesmente seguir viagem quando chegam a Kos. Eles somente podem seguir para o continente após serem registrados. Durante o verão europeu, a situação se agravou quando as autoridades fizeram com que os refugiados esperassem pelo registro num estádio, sob o sol escaldante e sem água.
Foto: Reuters/Y. Behrakis
Um navio para refugiados
Por causa da condições precárias, tumultos eram frequentes na ilha de Kos. Para acalmar a situação, o governo grego fretou um navio, que permaneceu ancorado e foi transformado em alojamento temporário para até 2.500 pessoas e em centro de registro de migrantes.
Foto: Reuters/A. Konstantinidis
"Dilema europeu"
Mais ao norte, na fronteira da Grécia com a Macedônia, policiais não permitiam mais a passagem de pessoas, entre elas crianças aos prantos, separadas de seus pais. Esta foto tirada pelo fotógrafo Georgi Licovski no local, e que mostra o desespero de duas crianças, foi premiada pelo Unicef como a imagem do ano, já que mostra "o dilema e a responsabilidade da Europa".
Foto: picture-alliance/dpa/G. Licovski
Sem conexões para refugiados
No final do verão europeu, Budapeste se transformou em símbolo do fracasso das autoridades e da xenofobia. Milhares de refugiados estavam acampados nas proximidades de uma estação de trem da capital húngara, pois o governo do país os proibira de seguir viagem. Muitos decidiram seguir a pé em direção à Alemanha.
Foto: picture-alliance/dpa/B. Roessler
Fronteiras abertas
Uma decisão na noite de 5 de setembro abriu caminho para os refugiados: a chanceler federal alemã, Angela Merkel, e o chanceler austríaco, Werner Faymann, decidiram simplesmente liberar a continuação da viagem por parte dos migrantes. Como consequência, vários trens especiais e ônibus seguiram para Viena e Munique.
Foto: picture alliance/landov/A. Zavallis
Boas vindas em Munique
No primeiro final de semana de setembro, cerca de 20 mil refugiados chegaram a Munique. Na estação central de trem da capital da Baviera, inúmeros voluntários se reuniram para receber os refugiados com aplausos e lhes fornecer comida e roupas.
Foto: Getty Images/AFP/P. Stollarz
Selfie com a chanceler
Enquanto a chanceler federal Angela Merkel era aplaudida por refugiados e defensores de sua política de asilo, muitos alemães se voltavam contra a política migratória. "Se tivermos de pedir desculpas por mostrar uma face acolhedora em situações de emergência, então este não é mais o meu país", respondeu a chanceler. A frase "Nós vamos conseguir" se tornou o mantra de Merkel.
Foto: Reuters/F. Bensch
Histórias na bagagem
No final de setembro, a polícia federal alemã divulgou uma imagem comovente: o presente que uma menina refugiada deu a um policial da cidade alemã de Passau. O desenho mostra o horror que vários migrantes vivenciaram e o quão felizes eles estavam por, finalmente, estarem em um local seguro.
Foto: picture-alliance/dpa/Bundespolizei
O drama continua
Até o final de outubro, mais de 750 mil refugiados haviam chegado à Alemanha. Mas o fluxo não parava. Sobrecarregados, os países da chamada Rota dos Bálcãs decidiram fechar suas fronteiras. Apenas sírios, afegãos e iraquianos estavam autorizados a passar. Em protesto, migrantes de outros países chegaram a costurar seus lábios.
Foto: picture-alliance/dpa/G. Licovski
Sem fim à vista
"Ajude-nos, Alemanha" está escrito em cartazes de manifestantes na fronteira com a Macedônia. Na Europa, o inverno se aproxima, e milhares de pessoas, entre elas crianças, estão presas nas fronteiras. Enquanto isso, até mesmo a Suécia retomou o controle temporário de fronteiras. Em 2016, o fluxo de refugiados deverá continuar.