Contando até 500 anos e com caráter fortemente simbólico, cerca de mil Bronzes de Benim se encontram em museus alemães. Sua devolução deve marcar uma guinada no processamento do passado colonial europeu da África.
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Objetos de arte saqueados durante ocupação colonial devem ser devolvidos a seus países de origem? Durante décadas, as antigas potências colonialistas europeias sequer consideraram essa possibilidade. Também na Alemanha, que entre 1884 e 1915 manteve o Sudoeste Africano Alemão (atual Namíbia), costuma-se sustentar a tese de que as peças estariam mais bem salvaguardadas nos museus nacionais do que nos locais em que foram criadas.
Nesse ínterim, contudo, questiona-se essa tese com frequência e veemência cada vez maiores. E entre os símbolos mais eloquentes do conflito estão as magníficas estatuetas e placas de bronze do antigo reino de Benim, hoje parte da Nigéria.
Em 1897, tropas coloniais britânicas saquearam entre 3.500 e 4 mil peças do palácio real da cidade de Benim. Datando de até 500 anos, elas foram vendidas entre a Europa e os Estados Unidos, e cerca de 1.100 acabaram na Alemanha, sendo 440 só para Berlim, que assim passou a ostentar a segunda maior coleção de Bronzes de Benim.
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Responsabilidade histórica e moral
Atualmente as peças estão expostas em diversos museus alemães: fruto de roubo e assassinato, sua posse é legal, mas não legítima. Contudo agora essa injustiça está finalmente prestes a ser corrigida: em reunião digital convocada pela ministra da Cultura Monika Grütters, decidiu-se, na noite desta quinta-feira (29/04) que a devolução dos Bronzes à Nigéria começará em 2022.
"Nós assumimos a responsabilidade histórica e moral de trazer à luz o passado colonialista da Alemanha e processá-lo", declarou Grütters após o encontro de que participaram museólogos e responsáveis políticos. "O destino do Bronzes de Benim é uma pedra de toque para isso."
Em 29 de junho, a Fundação do Patrimônio Prussiano ainda apresentará a resolução formal sobre a questão, mas o ministro do Interior alemão, Heiko Maas, comentou: "O fato de se ter conseguido estabelecer um cronograma para as restituições dos objetos, junto com os museus e seus patrocinadores, é uma virada de página em nossa abordagem da história colonial."
Mesmo que ainda haja alguns passos a serem dados, o governo federal, os estaduais e as instituições culturais trabalharam no mesmo sentido, "e vamos encontrar soluções juntamente com os parceiros nigerianos", assegurou o chefe de pasta.
Questão de identidade nacional
O anúncio despertou contentamento na Nigéria. A devolução dos Bronzes de Benim é de significado decisivo para todo o país, afirmou à agência de notícias KNA o diretor da Comissão Nigeriana de Museus e Monumentos, Abba Isa Tijani. Afinal, "90% da população até agora nunca teve a chance de vê-los".
Ele considera esse retorno uma admissão de que os objetos de arte foram roubados da Nigéria. Na cidade de Benim já está sendo projetado um museu onde deverão ser expostos a partir de 2024. O embaixador nigeriano na Alemanha, Yusuf Tuggar, disse tratar-se de um dia histórico.
Os Bronzes concentram grande valor emocional e se tornaram símbolo da humilhação colonial, afirmou à DW a antropóloga Nanette Snoep, do museu de etnografia Rautenstrauch-Joest, de Colônia. Mais ainda: para alguns, eles são a prova da perpetuação de estruturas colonialistas.
Por isso é importante não esquecer que a luta pela restituição foi iniciada já na década de 1970 por intelectuais africanos. "Muita gente não está consciente dos mecanismos do neocolonialismo e do racismo estrutural e institucional", frisou Snoep. Assim como no movimento Black Lives Matter, também nesse debate a questão é, acima de tudo, identidade e pertencimento.
av (KNA,EPD,DPA,DW)
Os mais espetaculares roubos de obras de arte da história
Armados, disfarçados de policiais ou de turistas, ladrões entraram para a história ao roubar valiosas pinturas e objetos de museus – da "Mona Lisa" a uma moeda de ouro de 100 quilos.
Foto: picture-alliance/dpa/K. Van Weel
Quando o sorriso de Mona Lisa desapareceu
Em 1911, o retrato feminino mais famoso do mundo – "Mona Lisa", de Leonardo da Vinci – foi roubado. Um jovem italiano, Vincenzo Peruggia, furtou a imagem do Louvre depois de se vestir como um empregado do museu parisiense e esconder a obra debaixo do casaco. A pintura reapareceu em 1913, após um comerciante de arte denunciar Peruggia à polícia.
Foto: picture alliance/Mary Evans Picture Library
A pintura mais roubada
O retrato de "Jacques 3º de Gheyn", de Rembrandt, foi roubado quatro vezes da Dulwich Picture Gallery, no Reino Unido, em 1966, 1973, 1981 e 1986. Por isso, a pintura também é conhecida como "o Rembrandt para viagem". Também após o último roubo, a obra de arte felizmente foi recuperada.
Foto: picture-alliance/akg-images
Misterioso roubo em Boston
Em 1990, o roubo de 13 pinturas do Museu Isabella Steward Gardner, em Boston, nos EUA, atraiu a atenção internacional. Dois homens disfarçados de policiais invadiram o prédio e roubaram, entre outras obras de arte, "Chez Tortoni", de Édouard Manet, e "O Concerto" (foto), de Jan Vermeer. Até hoje, as molduras, sem os quadros, permanecem penduradas no local.
Foto: Gemeinfrei
O roubo espetacular de pinturas de Van Gogh
Em 1991, sem ser notado, um homem se fechou num banheiro do Museu Van Gogh, em Amsterdã, e roubou 20 pinturas com a ajuda de um supervisor. Entre elas, estavam o "Autorretrato diante do cavalete" (foto). No entanto, a polícia conseguiu recuperar as obras roubadas apenas uma hora depois, no veículo usado na fuga. Depois de alguns meses, os ladrões foram presos.
Foto: picture-alliance/dpa/K. Van Weel
"Virgem do fuso" desaparecida
A pintura de Leonardo da Vinci, avaliada em até 70 milhões de euros, foi roubada em 2003 de um castelo na Escócia. Dois ladrões, que entraram na exposição como turistas, dominaram o guarda do Castelo de Drumlanrig e fugiram com a obra. A imagem ficou desaparecida por quatro anos. Somente em 2007 ela foi recuperada após uma batida policial realizada em Glasgow.
Foto: picture-alliance/dpa
Roubo armado no Museu Munch
Em 2004, "O grito" e "Madonna", do expressionista Edvard Munch, foram roubadas em Oslo. Dois criminosos armados invadiram o Museu Munch e furtaram as obras diante de várias testemunhas. Durante uma busca, a polícia recuperou as duas pinturas. Porém, o estado de "O grito" era tão ruim que o quadro não pôde ser totalmente restaurado.
Foto: picture-alliance/dpa/Munch Museum Oslo
Roubo milionário na Suíça
Em 2008, ladrões armados roubaram quatro pinturas no valor de 180 milhões de francos suíços do museu privado Fundação Coleção Emil G. Bührle, em Zurique: "Rapaz de colete vermelho", de Paul Cézanne; "Conde Lepic e suas filhas", de Edgar Degas; "Amendoeira em flor", de Vincent Van Gogh; e "Campo de papoulas perto de Vétheuil" (foto), de Claude Monet. Todos foram recuperados.
Foto: picture-alliance/akg-images
Moeda de ouro de 100 quilos em Berlim
Em março de 2017, uma moeda de ouro de 100 quilos, com valor nominal de 1 milhão de dólares, foi roubada do Museu Bode, em Berlim. Os ladrões provavelmente usaram uma escada para entrar no edifício. A moeda, chamada de "Big Maple Leaf", é originária do Canadá, tem 53 centímetros de diâmetro e três centímetros de espessura. Na parte frontal, ela traz o retrato da rainha Elizabeth 2ª.
Foto: picture-alliance/dpa/F.May
2019: Roubo na Abóbada Verde em Dresden
Três conjuntos de joias foram roubados no museu Grünes Gewölbe (Abóbada Verde), no Palácio Real em Dresden, em 25 de novembro de 2019. Investigações iniciais apuraram que os ladrões entraram por uma janela e quebraram as vitrines, como mostra um vídeo.