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Reunificação

3 de outubro de 2011

Mais de duas décadas após a reunificação alemã, grandes progressos foram feitos na superação das marcas deixadas pela divisão do país, embora uma unidade real ainda não tenha sido atingida em todos os campos.

Bonn centralizou as festividades em 2011Foto: dapd

Do ponto de vista econômico, a Alemanha reunificada de hoje oferece uma imagem mista. Avanços enormes aconteceram nos últimos 21 anos e praticamente toda cidade do Leste do país foi completamente reformada desde a queda do Muro, em 1989.

Enquanto os níveis salariais no Leste continuam perfazendo apenas 78% daqueles no Oeste, até hoje, 21 anos depois da reunificação, o custo de vida, em especial os aluguéis, continuam sendo muito mais baixos no Leste. Diante disso, se poderia argumentar que a maioria dos alemães desta região não estaria vivendo em condições muito piores que os cidadãos do Oeste.

Além disso, há uma série de histórias de indústrias bem-sucedidas na antiga Alemanha Oriental, como por exemplo a Silicon Saxony, na Saxônia, assim chamada em referência a Silicon Valley, por reunir fabricantes de chips de computador; e a indústria ótica nos arredores de Jena, na Turíngia.

Entretanto, em agosto deste ano, as taxas de desemprego no Leste eram duas vezes maiores do que as registradas no Oeste do país. Aproximadamente metade dos 80 bilhões de euros que fluem anualmente em forma de subsídios do Oeste para o Leste, foram engolidos no último ano pelos encargos sociais e por pagamentos de benefícios.

Cerca de 1,6 milhão de pessoas mudaram-se do Leste para o Oeste desde 1990, a maioria delas em busca de melhores oportunidades de emprego. Essa é uma tendência que não dá, até hoje, sinais de reversão. Pior ainda: sociólogos apontam um brain drain, uma fuga de cérebros do Leste, ou seja, um êxodo da mão de obra qualificada.

Leste do país: êxodo da população deixa prédios vaziosFoto: Sven Näbrich

Não é nada incomum ver prédios desabitados sendo demolidos em cidades do Leste. O exemplo mais extremo acontece em Hoyerswerda, perto das fronteiras com a Polônia e com a República Tcheca, que perdeu metade da população na última década. Neste sentido, o Leste e o Oeste continuam oferecendo bases econômicas diferentes. E a insatisfação com essas diferenças e desigualdades vem à tona na política.

Ascensão e fragmentação da esquerda

A incorporação do que os alemães chamam de "novos estados" no sistema político da antiga Alemanha Ocidental acarretou mudanças. Embora tenha nascido em Hamburgo, a chanceler federal Angela Merkel criou-se no Leste – fato que muitos alemães tendem a esquecer. E embora muitos alemães do Leste votem em partidos do Oeste, outros procuraram uma alternativa própria.

O partido A Esquerda, sucessor do antigo partido socialista da Alemanha de regime comunista, combinado com dissidências da esquerda de partidos do Oeste, já marcou seu lugar como porta-voz dos habitantes descontentes do Leste.

Oskar Lafontaine, do Oeste, e Gregor Gysi, do Leste, criaram A EsquerdaFoto: AP

O Partido Social Democrata (SPD) e o Verde nutrem uma desconfiança em cooperar com os antigos comunistas, levando ao resultado irônico de uma esquerda dividida, que ajuda o governo de Merkel, de centro-direita, a se manter no poder.

A existência do partido A Esquerda como forma de protesto político pacífico pode ser vista como uma evidência da adoção, por parte dos alemães do Leste, da democracia ocidental. Embora isso tenha também acentuado a sensação dos alemães do Oeste de que há um abismo cultural entre eles e seus conterrâneos do Leste.

Nostalgia dos dois lados

Um aspecto indubitavelmente positivo da reunificação foi o fim das barreiras políticas, que mantiveram famílias separadas durante os anos da Guerra Fria. Não há registros exatos sobre o número de alemães que tinham parentes "na outra Alemanha", mas a média de 26 milhões de pacotes, enviados anualmente do Oeste para o Leste nos anos de divisão do país, eram um indicador dos problemas causados pela divisão política.

"Aqueles que se sentiam aprisionados ficaram felicíssimos com o fim de seu sofrimento", diz Brigitte Klump, escritora e responsável por petições particulares frente às Nações Unidas, que, no decorrer de muitos anos, conseguiu com que quatro mil pessoas deixassem a Alemanha Oriental, de regime comunista. "E naturalmente fico feliz em saber de pessoas que foram bem-sucedidas no processo de integração no Oeste", diz ela.

Ostalgia – termo cunhado para caracterizar a nostalgia dos alemães-orientais (ossis) das coisas como eram antes – é um assunto recorrente na mídia, mas diz respeito a apenas 10% dos habitantes do Leste, que continuam afirmando que preferiam a vida sob o socialismo. E a identificação dos alemães do Leste como membros de um grupo social específico – os alemães-orientais – é tão menor quanto mais jovens eles são.

Hoje, aproximadamente metade dos alemães do Oeste afirmam que o período anterior a 1989 era melhor do que depois da queda do Muro. Isso reflete suas memórias de um momento de afluência e consenso social, e sugere que a westalgia (a nostalgia dos wessis, habitantes do Oeste), é bem mais prevalente do que a do seu correspondente no Leste.

O professor Klaus Schroeder, da Universidade Livre de Berlim, acredita que muitos alemães-orientais tenham um "conceito idealizado" a respeito do que era o país antes de 1989, enquanto os habitantes do Oeste amaldiçoam terem "pago a conta da reunificação". Segundo Schroeder, "na batalha entre os dois sistemas, o Ocidente ganhou. O Leste foi frequentemente deixado no papel de perdedor".

Estrangeiros no país: mão de obra fundamental

Fator global

Um dos aspectos frequentemente negligenciados da reunificação são as contribuições feitas pelos residentes no país que não possuem passaporte alemão, e os efeitos da reunificação sobre eles.

Os estrangeiros perfazem aproximadamente 8% da população do país e, com o fim das fronteiras entre Leste e Oeste, que dividia a Europa como um todo, a sociedade alemã vem se tornando cada dia mais multicultural, com comunidades representativas de residentes vindos do Leste Europeu, além de uma substancial minoria turca, que se estabeleceu na Alemanha Ocidental do pós-guerra.

"A nação alemã é formada por muitas nacionalidades, incluindo os então alemães-ocidentais, os então alemães-orientais, os milhões de descendentes de alemães que viviam no Leste Europeu, bem como uma população de imigrantes sem ascendência alemã. Os antigos 'trabalhadores convidados' formam a maioria entre os imigrantes, mas há também diversos outros grupos menores, das mais variadas origens", diz Klaus Base, especialista em imigração.

Os estrangeiros são responsáveis por um impacto inestimável na sociedade alemã de hoje, e a imigração é crucial para contrabalançar a baixa taxa de natalidade, já que tanto os alemães-ocidentais quanto os orientais têm cada vez menos filhos.

Após o boom imigratório que sucedeu ao fim da Segunda Guerra, o número de estrangeiros no país permaneceu estável. Economistas e sociólogos veem essa tendência como preocupante, porque a Alemanha precisa aumentar a população em idade ativa para compensar o número de aposentados.

Mais de duas décadas depois de 1990, fica mais evidente que nunca que a "reunificação" não significa uma restauração da sociedade do passado, mas sim um processo de criar algo novo, que seja parte do mundo globalizado. Velhos paradigmas nacionais estão sendo submetidos a desafios cada vez maiores, de forma que o futuro da Alemanha poderá vir a ser muito mais influenciado por fatores externos do que por aqueles de dentro de suas próprias fronteiras.

Autor: Jefferson Chase (sv)
Revisão: Roselaine Wandscheer

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