Após maior atentado em 15 anos em Cabul, Merkel cede à pressão e anuncia pausa nas repatriações ao Afeganistão. Pelo menos até julho, Berlim deportará apenas voluntários e criminosos.
Anúncio
Em decorrência do atentado que deixou mais de 90 mortos em Cabul na véspera, o governo alemão anunciou nesta quinta-feira (01/06) que suspenderá temporariamente as deportações de afegãos que tiveram seu pedido de refúgio negado no país.
O anúncio foi feito pela chanceler federal alemã, Angela Merkel, após reunião em Berlim com líderes estaduais. Segundo ela, a suspensão será mantida até que o Ministério do Exterior alemão se certifique sobre as condições de segurança no país, o que não deve ocorrer antes de julho.
Até lá, a Alemanha realizará apenas "repatriações voluntárias e deportações de extremistas violentos e criminosos em casos individuais", afirmou a chefe de governo.
Mais cedo nesta quinta-feira, em pronunciamento ao lado do primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, em Berlim, Merkel condenou o atentado na capital afegã, afirmando, no entanto, que as deportações ao país seriam mantidas e que cada caso seria examinado individualmente.
Contra deportação, estudantes defendem colega afegão
01:02
"O ataque chocante na quarta-feira em Cabul é, mais uma vez, uma oportunidade para analisarmos a situação da segurança [no Afeganistão], província por província", disse a chanceler federal nesta manhã, antes de Berlim mudar de ideia sobre a questão das deportações.
Merkel vinha sendo pressionada por várias organizações de direitos humanos, como Anistia Internacional e Pro Asyl, que argumentam que o envio de refugiados ao Afeganistão coloca em vidas em risco. A pressão foi reforçada por políticos da oposição.
Em 2016, 3.300 cidadãos afegãos deixaram a Alemanha e voltaram ao Afeganistão de forma voluntária. Foram realizadas, no mesmo ano, 67 deportações. De acordo com as autoridades, esse número já passa de 100 em 2017.
O atentado com um carro-bomba em Cabul, o mais sangrento dos últimos 15 anos, deixou mais de 90 mortos e outros 463 feridos na quarta-feira, nas imediações da embaixada alemã, uma área onde se encontra uma série de representações diplomáticas e edifícios do governo.
A explosão matou um segurança afegão e feriu dois funcionários da embaixada, um alemão e um afegão. O ministro do Exterior alemão, Sigmar Gabriel, condenou o ataque e frisou que o incidente não abalou a determinação da Alemanha em "dar apoio ao regime afegão para a estabilização do país".
EK/afp/dpa/efe/rtr
Como começou a crise de refugiados na Europa
Da escalada da violência no Médio Oriente e na África a crises sociais e políticas na Europa, veja como a União Europeia busca solucionar seus problemas.
Foto: picture-alliance/dpa
Fugindo da guerra e da pobreza
No fim de 2014, com a guerra na Síria entrando no quarto ano e o chamado "Estado Islâmico" avançando no norte do país, o êxodo de cidadãos sírios se intensificou. Ao mesmo tempo pessoas fugiam da violência e da pobreza em outros países, como Iraque, Afeganistão, Eritreia, Somália, Níger e Kosovo.
Foto: picture-alliance/dpa
Em busca de refúgio nas fronteiras
A partir de 2011, um grande número de sírios passou a se reunir em campos de refugiados nas fronteiras com a Turquia, o Líbano e a Jordânia. Em 2015, os campos estavam superlotados. A falta de oportunidade de trabalho e escolas levou cada vez mais pessoas a buscarem asilo em países distantes.
Foto: picture-alliance/dpa
Uma longa jornada a pé
Estima-se que 1,5 milhão de pessoas se deslocaram da Grécia para a Europa Ocidental em 2015 através da chamada "rota dos Bálcãs" . O Acordo de Schengen, que permite viajar sem passaporte em grande parte da União Europeia (UE), foi posto em xeque à medida que os refugiados rumavam para as nações europeias mais ricas.
Foto: Getty Images/M. Cardy
Desespero no mar
Dezenas de milhares de refugiados também se arriscaram na perigosa jornada pelo Mar Mediterrâneo em barcos superlotados. Em abril de 2015, 800 pessoas de várias nacionalidades se afogaram quando um barco que saiu da Líbia naufragou na costa italiana. Seguiram-se outras tragédias. Até o fim daquele ano, cerca de 4 mil refugiados teriam morrido ao tentar a travessia do norte da África para a Europa.
Foto: Reuters/D. Zammit Lupi
Pressão nas fronteiras
Países ao longo da fronteira externa da União Europeia enfrentaram grandes problemas para lidar com o enorme número de pessoas que chegavam. Foram erguidas cercas nas fronteiras da Hungria, da Eslovênia, da Macedônia e da Áustria. As leis de asilo político foram reforçadas, e vários países da área de Schengen introduziram controles temporários nas fronteiras.
Foto: picture-alliance/epa/B. Mohai
Fechando as portas abertas
A catastrófica situação dos refugiados nos países vizinhos levou a chanceler federal alemã, Angela Merkel, a abrir as fronteiras. Os críticos da "política de portas abertas" de Merkel a acusaram de agravar a situação e encorajar ainda mais pessoas a embarcarem na perigosa viagem à Europa. Em setembro de 2016, também a Alemanha introduziu controles temporários na sua fronteira com a Áustria.
Foto: Reuters/F. Bensch
Acordo com a Turquia
No início de 2016, UE e Turquia assinaram um acordo prevendo que refugiados que chegam à Grécia podem ser enviados de volta para a Turquia. O acordo foi criticado por grupos de direitos humanos. Após o Parlamento Europeu votar pela suspensão temporária das negociações sobre a adesão da Turquia à UE, em novembro de 2016 a Turquia ameaçou abrir as fronteiras para os refugiados em direção à Europa.
Foto: Getty Images/AFP/A. Altan
Que perspectivas?
Com o acirramento do clima anti-imigração na Europa, os governos ainda buscam soluções para lidar com a crise de refugiados. As tentativas de introduzir cotas para distribuí-los entre os países da UE em grande parte falharam. Por outro lado, não há indícios de que os conflitos nas regiões de onde eles vêm estejam chegando ao fim, e o número de mortos na travessia pelo mar continua aumentando.