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Alemanha tem cada vez mais batismos entre refugiados

Charlotte Hauswedell
15 de maio de 2017

Recém-chegados à Alemanha, sobretudo de Irã e Afeganistão, estão se convertendo do islã ao cristianismo, apesar dos riscos de virarem párias entre compatriotas. Conversão pode ser meio de evitar deportação.

Refugiados iranianos participam de uma missa de batismo numa congregação protestante em BerlimFoto: Imago/epd

Gottfried Martens, pastor da Igreja Protestante da Trindade em Berlim, já batizou 1.200 refugiados. Ele começou em 2008 com dois iranianos, que depois levaram um conhecido para também ser batizado. Ao longo dos anos, mais e mais imigrantes expressaram o desejo de mudar de religião.

Hoje, a congregação de Martens é bem conhecida em Berlim: centenas comparecem aos sermões, dados em alemão e persa. Os convertidos iranianos e afegãos são originalmente da fé islâmica. Muitos deles são recém-chegados que foram apresentados à congregação por outros cristãos convertidos.

"Muitos também estavam em congregações domiciliares privadas no Irã ou foram tocados pela fé cristã durante seu trajeto de fuga", conta Martens. "Tivemos que nos mudar para outra igreja, porque não havia espaço suficiente. O ponto alto foi quando a rota dos Bálcãs foi fechada."

Durante o auge da crise dos refugiados, no início de 2016, havia cerca de 250 participantes em cursos de pré-batismo na Igreja da Trindade. Geralmente, o pastor ensina somente a cerca de 30 pessoas por curso.

Certificado em três meses

Todos que Martens batizou são refugiados que falam persa ou algum dialeto da língua. "Para essas pessoas é muito importante que nossa congregação seja bilíngue", explica. Alguns deles estão à espera de uma decisão em seus processos de permanência na Alemanha, enquanto outros tiveram seus pedidos de refúgio rejeitados.

Eles passam três meses nos cursos preparatórios e, em seguida, passam por um teste no qual precisam dizer a Martens suas razões pessoais por trás da conversão. "Houve cerca de 300 pessoas que tivemos que rejeitar", disse.

A maioria dos membros convertidos da congregação vive em acomodações de refugiados. "Eles contam a outras pessoas de seus países sobre a congregação e, em seguida, novas pessoas chegam", lembra o pastor, para quem os refugiados são uma bênção. "Depois de tudo o que passaram, estou muito grato por eles confiarem em Deus e se juntarem à nossa congregação."

As chamadas igrejas nacionais, que incluem as igrejas católicas romanas e protestantes na Alemanha, também estão registrando um grande número de batismos. Embora as conversões não sejam registradas separadamente, "houve nos últimos anos um notável aumento nos batismos de refugiados", diz Carsten Split, da Igreja Evangélica na Alemanha (EKD).

O número de batismos protestantes de pessoas com mais de 14 anos aumentou de cerca de 17 mil em 2014 para 178.408 em 2015. O número de batismos em igrejas organizadas independentemente, como a Igreja da Trindade, não é registrado. A congregação pentecostal persa Alfa e Ômega em Hamburgo também é muito popular entre refugiados de origem iraniana e afegã. No dia da Ascensão do ano passado, o pastor Albert Babajan realizou um batismo público em massa de 80 refugiados no parque da cidade.

Riscos da conversão

A conversão em si, no entanto, traz muitos riscos. Os convertidos ao cristianismo estão expostos a hostilidades – no Irã e no Afeganistão enfrentam perseguição religiosa. Em alguns casos, eles podem ser punidos com a pena de morte. Nos últimos anos tem havido mais e mais relatos sobre convertidos sendo atacados na Alemanha. O pastor Martens diz que os convertidos já não podem viver em seus abrigos sem serem incomodados por outros.

"Atualmente, temos cinco pessoas que foram atacadas. Uma perdeu alguns dentes, e outra tem uma ferida que teve de ser suturada", afirma. As autoridades, de acordo com Martens, não reagiram. Ele diz que a maioria dos seguranças está do lado dos agressores, e mesmo que a polícia esteja envolvida "ela não olha a questão a fundo".

Alguns convertidos, afirma o pastor, saem escondidos das casas de refugiados para assistir aos cultos da igreja e escondem seus colares cristãos que receberam após o batismo. Um refugiado convertido que foi atacado e apresentou uma queixa, em seguida, recebeu dez queixas de outros moradores alegando que ele agrediu mulheres muçulmanas. As denúncias foram inventadas e serviram como uma forma de intimidá-lo.

A agressão contra convertidos não é algo novo, confirma o pastor, mas se tornou corriqueiro. Os ataques são realizados em parte por pessoas da mesma nacionalidade dos convertidos, mas também por "muçulmanos radicais de diferentes países". Embora ele saiba que a mudança de fé representa um perigo para os imigrantes, Martens segue com os batismos, assim como muitas outras igrejas na Alemanha.

Na imprensa alemã, há relatos de missionários promovendo conversões – inclusive dentro de apartamentos – como uma forma de os refugiados obterem melhores chances de ficar na Alemanha.

De acordo com a agência migratória alemã (Bamf), quando a conversão pode levar o refugiado a ser perseguido em seu país de origem, o caso tem de ser examinado mais a fundo.

"A conversão de um requerente de refúgio será considerada no pedido se for crível", disse o Bamf ao portal alemão Spiegel Online. As autoridades responsáveis no processo de permanência no país têm de julgar se a mudança de fé foi devido a convicções reais ou se foi feita por razões táticas. Alguns dos batizados pelo pastor Martens foram deportados.

 

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