Alemanha teme o verão do século
30 de julho de 2018A paisagem do norte alemão como se conhece não existe mais, escreve nesta segunda-feira (30/07) o tradicional jornal FAZ. Plantações perdidas; relvas em tom amarronzado que mais lembram uma estepe ibérica; rios secos como gerações inteiras nunca viram; prejuízos bilionários na agricultura.
A Alemanha teme em 2018 o verão do século. As temperaturas, sobretudo no norte, estão entre três e seis graus acima da média, desde o início da primavera praticamente não chove. De tão secas, árvores perdem folhas como no outono, há plantações que foram completamente perdidas.
"Chegamos a um ponto aqui na Alemanha em que estamos falando de um desastre natural, que ameaça nosso modo de vida", diz Juliane Stein, do conglomerado agricultor Agro Bördegrün, do leste alemão.
A Alemanha declara desastre natural durante uma estiagem quando 30% do que é cultivado no país são perdidos. Ainda não há uma estimativa clara neste ano, mas a Associação de Agricultores Alemães (DBV) já fala em bilhões em perdas. Até aqui, a colheita de grãos está 18% menor que a média – um prejuízo de 1,4 bilhão de euros.
"O governo tem que declarar estado de emergência, para que os agricultores em áreas atingidas pela estiagem possam receber ajuda financeira", diz Joachim Rukwied, presidente da DBV. O norte é a região mais atingida, mas o oeste e o leste do país também estão sofrendo graves efeitos da falta de chuva.
Se por um lado os dias de sol têm proporcionado frutas maiores e mais doces, plantações de beterraba, colza, batata e milho foram praticamente dizimadas e forçaram agricultores a antecipar a colheita em até três semanas.
"Este verão está sendo de fato extraordinário", diz o meteorologista Thomas Ranft ao portal de notícias Tagesschau. "E parece que vai continuar assim. Este ano pode marcar um recorde."
O ano mais quente da história da Alemanha foi 2003, mas na época o epicentro da onda de calor era o sul e não o norte, como agora. A média foi sete graus mais quente, com temperaturas assim alcançadas apenas na Andaluzia.
Se comparadas as médias de temperatura entre março e julho de 2003 e 2018, este ano fica atrás – ainda que por alguns décimos. Mas a estiagem de 2013, dizem especialistas, já supera de longe a de 15 anos atrás.
A situação se repete em outros países do norte europeu. Mais grave são os casos de Letônia e Suécia, que lutam contra incêndios florestais. Em Riga, não chove de forma consistente desde 26 de abril.
Cerca de 70 incêndios chegaram a estar ativos ao mesmo tempo na Suécia, alguns de grandes dimensões, que obrigaram à evacuação de várias localidades, depois de semanas sem chuva e com altas temperaturas.
Na região central de Jämtland foi declarado o maior incêndio florestal, que durante uma semana queimou 20 mil hectares, apesar dos esforços conjuntos de seis países europeus no combate às chamas.
Já na Bélgica, a ausência de chuva e as temperaturas superiores a 35 graus motivaram cortes de água em vários municípios. Os centros de crise na Valônia e em Flandres decretaram o nível laranja depois de registrarem durante vários dias consecutivos temperaturas que excediam os 33 graus, alertando também para os bosques "extremamente secos".
As zonas do país predominantemente rurais, como as Ardenas, foram consideradas "altamente inflamáveis", segundo os bombeiros de Liège. A situação é parecida na Holanda, que vive o seu mês mais seco desde o início dos registos, em 1901.
O calor e a estiagem das últimas semanas reduziram os níveis de água, o que causou a morte de várias espécies marinhas, um problema que o Reino Unido e a Irlanda também estão tendo e que já levou, em ambos os países, à proibição de utilização de mangueiras.
A Alemanha decretou alerta máximo de incêndios a leste da região de Frankfurt e a sudoeste de Berlim.
"Para muitos moradores de Berlim e Brandemburgo, o calor, aos poucos, está se tornando insuportável", escreve o diário Berliner Kurier. Na região, os termômetros ameaçam se aproximar dos 40 graus nos próximos dias.
Especialistas do instituto UFZ, que monitora as estiagens na Alemanha, dizem que a atual é extraordinária. No mapa de calor divulgado diariamente, são cada vez mais frequêntes as áreas marcadas em vermelho (estiagem extrema) e vermelho escuro (estiagem extraordinária).
"As mudanças climáticas são um processo que se estenderá pelas próximas décadas, que se desenvolve pouco a pouco. Haverá cada vez mais estiagens, e eventos extremos, em algum momento, não serão mais avaliados como extremos", diz Stephan Thober, especialista do UFZ.
RPR/dpa/ots
____________
A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas. Siga-nos no Facebook | Twitter | YouTube | WhatsApp | App | Instagram | Newsletter