Alemanha testa reator que pode revolucionar setor energético
10 de dezembro de 2015
Após 19 anos de construção, cientistas põem o reator Wendelstein 7-X pela primeira vez em funcionamento, no Instituto Max Planck. Tecnologia pode ajudar a resolver a crescente demanda por energia limpa no mundo.
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O reator de fusão nuclear Wendelstein 7-X levou 19 anos para ser construído, e foi testado pela primeira vez nesta quinta-feira (10/12), no Instituto Max Planck de Física do Plasma (IPP), em Greifswald, nordeste da Alemanha. A tecnologia é considerada um passo decisivo na busca por uma energia limpa e renovável.
"Hoje é um grande dia", afirmou Sibylle Günter, diretora científica do IPP. "Esperamos muito tempo para dar início ao sistema, e o resultado foi incrível", disse, por sua vez, o cientista Novimir Pablant, da Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, que também participou dos estudos.
O Wendelstein 7-X custou 1 bilhão de euros para ser construído, e demandou 1,1 milhão de horas de trabalho. Com mais de 16 metros de diâmetro, o equipamento – que mais parece uma nave espacial –, é o maior reator do mundo de seu tipo, conhecido como stellarator.
O objetivo da tecnologia é simular as grandes reações energéticas que acontecem no interior das estrelas. Segundo os cientistas, seria como reproduzir o calor do sol em laboratório.
Em resumo, o reator utiliza deutério e trítio, dois isótopos do hidrogênio, para formar um átomo de hélio. O processo, que ocorre a uma temperatura de 100 milhões de graus Celsius – sete vezes a temperatura do núcleo do sol –, libera quantidades imensas de energia.
Para funcionar, é preciso confinar esse plasma incrivelmente quente em uma espécie de jaula magnética, formada por 50 bobinas de seis toneladas cada, todas retorcidas. Resfriadas a menos 270 graus Celsius, essas bobinas servem para impedir o derretimento da estrutura do reator.
Segundo o IPP, um grama de hidrogênio poderia gerar 90 mil quilowatts-hora de energia – a mesma quantidade produzida pela combustão de 11 toneladas de carvão. Ou seja, a tecnologia superaria todas as antigas fontes energéticas, como o petróleo e o próprio carvão.
No teste desta quinta-feira, dez miligramas de hélio foram aquecidos a um milhão de graus Celsius e levadas a estado de plasma, mantendo-se assim por 50 milisegundos.
O objetivo dos cientistas é de que o Wendelstein 7-X consiga manter o plasma por 30 minutos, mas esse feito não deve ser conquistado antes de 2017. Especialistas calculam que o mundo só contará com a distribuição comercial desse tipo de reator por volta de 2050.
Fissão ou fusão?
De acordo com os cientistas, há várias vantagens na produção de energia por fusão nuclear em comparação com a fissão nuclear – princípio utilizado em usinas nucleares.
A principal delas é o combustível. O hidrogênio e seus isótopos estão presentes em grandes quantidades na natureza, são um recurso praticamente inesgotável e não causam dependências geográficas, como no caso do petróleo. O deutério, por exemplo, é abundante na água do mar.
Na fusão nuclear, não há emissão de gases causadores do efeito estufa ou a possibilidade de uma reação em cadeia que possa escapar do controle.
Em comparação com a fissão, a tecnologia resulta ainda em lixo atômico menos abundante e com um período de meia-vida consideravelmente menor.
EK/dpa/ots
Da energia à bomba nuclear
O Irã afirma que seu programa nuclear é exclusivamente para uso civil. No entanto, há muita semelhança entre a tecnologia nuclear para fins civis e a que tem objetivos militares.
Foto: aeoi.org.ir
Intenções obscuras
Há anos, o Irã amplia seus conhecimentos em tecnologia nuclear. A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) está segura de que o país trabalhou em armas nucleares pelo menos até 2010.
Foto: aeoi.org.ir
Querer não é poder
Sem dúvida, a construção de uma arma nuclear com um sistema de transporte confiável impõe consideráveis desafios ao país. De forma simplificada, isso envolve cinco passos:
Foto: picture-alliance/dpa
Primeiro passo: obtenção da matéria-prima
Para fabricar uma bomba atômica, é necessário urânio altamente enriquecido ou plutônio quase puro. O Irã possui urânio suficiente, e o metal é extraído também para a indústria nuclear civil, como na minas de Saghand.
Foto: PD
Segundo passo: enriquecimento
Para seu enriquecimento, o urânio é concentrado em centrífugas de gás especiais, para facilitar a fissão. Para armas nucleares, é necessário um enriquecimento de 80%. Até novembro de 2012, o Irã alcançou oficialmente 20%. Mas após um acordo, a AIEA confirmou, em meados de 2013, que o país deixou de enriquecer urânio acima de 5% de pureza - nível suficiente para produzir energia.
Foto: picture-alliance/dpa
Terceiro passo: a ogiva
Ter urânio altamente enriquecido não basta. Para fabricar uma ogiva nuclear explosiva, os técnicos devem primeiro dar forma ao material puro e conseguir uma reação em cadeia através de um impulso controlado. Não se sabe até que ponto o Irã domina essas técnicas.
Foto: picture-alliance/dpa
Quarto passo: o detonador
A tecnologia para o detonador de uma arma nuclear é semelhante à de uma arma convencional. O Irã domina esse conhecimento. Além disso, cientistas iranianos realizaram extensos cálculos baseados em modelos e experimentos, simulando as propriedades de um detonador. Isso está comprovado por publicações das universidades Shahid Behesti e Amir Kabir.
Foto: AFP/Getty Images
Quinto passo: transporte
O Irã possui um sistema de transporte para armas nucleares. O míssil de médio alcance Shahab 3 é uma variante iraniana do Nodong-1, da Coreia do Norte. Ele alcança uma distância de 2 mil quilômetros e pode assim atingir alvos em Israel, a partir do Irã.
Foto: picture-alliance/dpa
A vontade de construir uma bomba
Sem controle, é difícil distinguir um programa nuclear civil de um militar, pois os recursos técnicos necessários são basicamente os mesmos. Precisa-se de centrífugas tanto na tecnologia nuclear civil quanto na militar. Se o Irã estará apto a fabricar uma bomba atômica e se vai realmente colocar isso em prática, depende decisivamente da vontade de quem está no poder.
Foto: dapd
Sem diálogo com Ahmadinejad
Após o programa nuclear do Irã ser descoberto, em 2002, os EUA e os aliados europeus pressionaram o país a suspender o enriquecimento de urânio. Mas a eleição do presidente Mahmoud Ahmadinejad, em 2005, interrompeu qualquer avanço nas negociações. Nos oito anos de seu governo, o número de centrífugas para o enriquecimento de urânio foi ampliado de 100 para 19 mil.
Foto: picture-alliance/dpa
Declínio econômico força Irã a negociar
Somente após a eleição do presidente Hassan Rohani, em agosto de 2013, o processo de negociações voltou a funcionar. O chefe de governo iraniano – na foto com o diretor geral da AIEA, Yukuya Amano – insta a um acordo, porque ele quer a suspensão das sanções econômicas que assolam o país há mais de uma década. As negociações diplomáticas, porém, durariam mais dois anos.
Foto: picture-alliance/dpa
"Novo capítulo"
Em 14 de julho de 2015, o Irã fechou um acordo histórico com as potências do grupo P5+1 (Estados Unidos, Rússia, China, França, Reino Unido e Alemanha). Enquanto a República Islâmica garante não produzir bomba nuclear, EUA e União Europeia prometem aliviar as sanções que têm afetado as exportações de petróleo e a economia iraniana. UE vê decisão como um "novo capítulo nas relações internacionais".
Foto: Reuters/L. Foeger
Parlamento aprova acordo
O acordo foi aprovado pelo Parlamento do Irã em 13 de outubro de 2015, efetivamente encerrando o debate entre os legisladores do país sobre o tratado e, assim, abrindo caminho para sua implementação formal. Líderes afirmam que as inspeções internacionais precisam ser aprovadas pelo Conselho dos Guardiões da Constituição. Já as sanções devem ser suspensas no final do ano ou até janeiro de 2016.