Alemanha vê aumento no risco de ciberataques e terrorismo
4 de julho de 2017
Agência de segurança interna alerta para ameaças que vão de radicais islâmicos a extremistas de direita e hackers russos. Moscou estaria tentando influenciar eleições parlamentares alemãs.
Anúncio
A Alemanha é um potencial alvo para atentados terroristas e violência de extrema direita, além de ciberataques e espionagem promovidos por países estrangeiros, alerta um relatório do Departamento de Proteção à Constituição da Alemanha (BfV) divulgado nesta terça-feira (04/07).
Segundo o BfV, há "clara evidência de perigo proveniente do espectro" da extrema direita. O número de crimes violentos de extrema direita subiu de 1.408 em 2015 para 1.600 em 2016, aponta o relatório da agência de segurança interna do país. O órgão governamental acredita que mais da metade dos simpatizantes da extrema direita no país sejam potencialmente violentos.
O BfV também aponta um provável aumento no número de islamistas na Alemanha. O número de salafistas ultraconservadores no país passou de 8.350 em 2015 para 10.100 no ano passado. Destes, 680 foram classificados como uma ameaça, destaca o relatório.
O presidente da entidade, Hans-Georg Maassen, disse que grupos radicais islâmicos representam o maior desafio para as autoridades de inteligência do país. "Futuros ataques perpetrados por indivíduos ou grupos terroristas devem ser esperados na Alemanha", disse.
"Bombas-relógio digitais"
Segundo o BfV, a Alemanha é alvo com cada vez maior frequência de ciberataques e espionagem de serviços de inteligência estrangeiros, em particular da Rússia, China, Turquia e Irã.
Alvos-chave seriam o Ministério do Exterior e seus escritórios em diversos países, além dos ministérios das Finanças e Economia, do gabinete da chancelaria federal e das instituições militares alemãs.
Segundo o ministro do Interior, Thomas de Maizière, o governo trabalha em colaboração com a indústria para reforçar a proteção das empresas alemãs. Os setores mais afetados são a indústria bélica, automobilística, espacial e aeroespacial, além dos institutos de pesquisa, apontou.
Ciberataques não resultam apenas em perda de informações, mas também, por meio de malwares de ação retardada, podem ser acionadas "bombas-relógio digitais silenciosas". Estas podem manipular dados e sabotar equipamentos essenciais à infraestrutura do país, diz o BfV.
Um exemplo disso foi o chamado Sandworm malware – de origem russa, segundo especialistas –, que atacou portais de internet do governo alemão, da Otan, além de empresas prestadoras de serviços e de telecomunicações nos últimos anos.
Os russos também utilizam os chamados trolls de internet para influenciar a opinião pública e popularizar opiniões pró-Russia, diz o relatório do BfV. O documento aponta um aumento acentuado de propaganda e campanhas de desinformação disseminadas a partir de redes sociais e da imprensa apoiada pela Rússia.
O grupo de hackers russos APT 28, supostamente controlado por Moscou e também conhecido como Fancy Bear, continua a atacar alvos políticos na Alemanha, afirma o BfV.
"Presumimos que as agências estatais russas tentam influenciar partidos, políticos e a opinião pública, visando, em especial, as eleições parlamentares [alemãs] de 2017", diz o serviço de segurança interna.
Espionagem chinesa e turca
De acordo com o BfV, a espionagem proveniente da China aumentou desde que o presidente Xi Jinping assumiu o cargo em 2013, sendo voltada cada vez mais para eventos políticos, como a reunião dos países do G20 nesta semana em Hamburgo, além de visar também críticos do regime chinês.
Segundo o relatório, a inteligência chinesa utiliza redes sociais como o Linkedin e o Facebook para recrutar informantes no Ocidente. Os laços estreitos entre o governo e a indústria fazem com que a espionagem industrial e de governo sejam difíceis de diferenciar.
O BfV também registrou uma ocorrência maior de práticas de espionagem promovidas na Alemanha pelo serviço secreto turco MIT em 2016, após a tentativa fracassada de golpe contra o governo do presidente Recep Tayyip Erdogan, no dia 15 de julho do ano passado.
A espionagem turca visa principalmente apoiadores na Alemanha do banido Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) e do clérigo de oposição Fethullah Güllen, a quem Ancara atribui a culpa pela tentativa de golpe, apesar de ele negar qualquer envolvimento.
Já a espionagem proveniente do Irã foca sobretudo em alvos israelenses e pró-judeus e em rivais políticos dos líderes iranianos, diz o relatório.
RC/rtr/dpa
Cronologia: terrorismo na Alemanha
Há muito tempo a Alemanha já é alvo de atentados e planos de ataques de grupos extremistas. O mais recente aconteceu num mercado de Natal em Berlim, onde um caminhão avançou contra a multidão.
Foto: Reuters/W. Rattay
Dezembro de 2016: Berlim
Um caminhão invadiu a calçada e avançou contra o mercado natalino na praça Breitscheidplatz, em Berlim. Segundo a polícia, ao menos 12 pessoas morreram e 48 ficaram feridas.
Foto: Reuters/F. Bensch
Outubro de 2016: Leipzig
A polícia prendeu o refugiado sírio de 22 anos Jaber al-Bark após descobrir explosivos e equipamentos para fabricação de bombas caseiras no seu apartamento em Chemnitz, próximo a Leipzig, no leste da Alemanha. Ele foi acusado de planejar um ataque ao aeroporto de Berlim. Depois de dois dias na prisão, al-Bark se enforcou.
Foto: Polizei Sachsen
Julho de 2016: Ansbach
Em julho, o "Estado Islâmico" (EI) reivindicou a autoria do ataque executado pelo refugiado sírio Mohammed D., de 27 anos. D., que já havia jurado lealdade ao grupo extremista, detonou explosivos presos ao próprio corpo na entrada de um festival de música. O homem, que tinha problemas psiquiátricos, obteve instruções pelo celular até instantes antes do ataque.
Foto: picture alliance/AP Photo/D. Karmann
Julho de 2016: Würzburg
Um refugiado afegão de 17 anos atacou, com um machado e uma faca, passageiros de um trem regional em Würzburg, na Baviera. Várias pessoas ficaram feridas gravemente, incluindo quatro membros de uma família de Hong Kong. O jovem foi morto pela polícia. Embora o EI tenha reivindicado a autoria do atentado, para as autoridades não está claro se o rapaz mantinha contato com o grupo extremista.
Foto: picture-alliance/dpa/K. Hildenbrand
Maio de 2016: Düsseldorf
Três suspeitos de integrar o EI foram presos nos estados de Renânia do Norte-Vestfália, Brandemburgo e Baden-Württemberg. Autoridades afirmam que dois dos homens planejavam detonar bombas presas ao próprio corpo, enquanto o terceiro integrante e um quatro jihadista, preso na França, planejavam matar pedestres com armas e explosivos. Os atentados aconteceriam em Düsseldorf, no oeste da Alemanha.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Hitij
Abril de 2016: Essen
A polícia prendeu três pessoas após um ataque a bomba a um templo sikh em Essen, no oeste da Alemanha. O atentado aconteceu durante uma celebração de casamento. Três pessoas ficaram gravemente feridas. As autoridades identificaram os suspeitos a partir de imagens de câmeras de segurança. Entre os detidos está um jovem de 16 anos, que teria contato com o movimento salafista no país.
Foto: picture alliance/dpa/M. Kusch
Fevereiro de 2016: Hannover
A jovem Safia S., de 16 anos, alemã de ascendência marroquina, esfaqueou um policial na estação central de Hannover, cidade no norte da Alemanha. O agente foi gravemente ferido e precisou ser submetido a uma cirurgia. Segundo as autoridades, S. planejava se juntar ao EI na Síria.
Foto: Polizei
Fevereiro de 2016: Berlim
Numa operação simultânea em três estados, a polícia alemã desmantelou uma célula do grupo extremista EI. Os quatro suspeitos, da Argélia, planejavam um ataque na capital do país. Segundo a polícia, o plano ainda estava no início.
Foto: Reuters/F. Bensch
Abril de 2015: Oberursel
A polícia prendeu em Oberursel, no oeste alemão, um casal acusado de planejar um ataque durante uma corrida de ciclismo. Os dois, que seriam salafistas, mantinham no porão de casa uma bomba caseira. Por falta de provas de vínculo terrorista, o homem foi condenado a dois anos de prisão por falsidade ideológica e posse de arma e explosivos ilegais. As investigações contra a esposa foram arquivadas.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Dedert
Dezembro de 2012: Bonn
Uma mala com explosivos foi encontrada na estação central de Bonn, oeste do país. Para as autoridades, tratava-se de uma tentativa de ataque terrorista com motivações islamistas. Em 2013, quatro suspeitos de planejar um ataque contra o líder do grupo extremista de direita "Pro NRW" foram presos. Um deles teria colocado a bomba em Bonn. O processo contra o suspeito corre desde 2014, em Düsseldorf.
Foto: picture-alliance/dpa/Meike Böschemeyer
Abril de 2011: Düsseldorf
Três supostos membros do grupo terrorista Al Qaeda foram detidos em Düsseldorf, acusados de planejar um ataque a bomba no país. Em dezembro de 2011, um quarto suspeito foi preso. No final de 2014, os quatro homens foram condenados a vários anos de prisão.
Foto: picture-alliance/dpa
Março de 2011: Frankfurt am Main
As autoridades conseguiram impedir um atentado islamista no aeroporto de Frankfurt. Um albanês de Kosovo matou a tiros dois soldados americanos e deixou outros dois feridos. O homem foi condenado à prisão perpétua.
Foto: AP
Setembro de 2007: Oberschledorn
Em setembro de 2007, a organização islamista Grupo Sauerland foi desmantelada no oeste da Alemanha. Em 2010, seus quatro integrantes foram condenados por planejarem ataques em discotecas, aeroportos e instituições no país. As penas chegaram a 12 anos de prisão.
Foto: AP
Julho de 2006: Colônia
Na estação central de Colônia, no oeste do país, dois homens colocaram malas com explosivos em trens regionais que iam para Hamm e Koblenz, mas as bombas não detonaram. Em dezembro de 2008, um deles foi condenado à prisão perpétua.