Governo anuncia interrupção do processo de encolhimento iniciado no fim da Guerra Fria com a ampliação do efetivo em 14,3 mil soldados. Ministra quer acabar com limite máximo de 185 mil militares.
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A Alemanha vai aumentar o número de efetivos das suas Forças Armadas (Bundeswehr) pela primeira vez desde 1990, pondo fim a um quarto de século de cortes sucessivos, anunciou nesta terça-feira (10/05) a ministra da Defesa, Ursula von der Leyen.
Até 2023, o governo alemão quer incorporar 14,3 mil soldados e 4,4 mil civis. "Precisamos acabar com um processo permanente de atrofia e diminuição da Bundeswehr. Acabar com o limite máximo fixo e flexibilizar a estrutura de pessoal. É tempo de a Bundeswehr voltar a crescer", afirmou a ministra, em Berlim, ao apresentar os planos.
Para alcançar esse objetivo, a Bundeswehr contratará ou prolongará o contrato de 7 mil militares. Outros 5 mil postos deverão ser preenchidos com voluntários do serviço militar ou com militares que forem remanejados de outras funções. Restam 2,3 mil vagas, e não está claro como serão preenchidas.
Von der Leyen afirmou que a ampliação é necessária diante do constante aumento das tarefas da Bundeswehr, incluindo cinco novas missões no exterior nos últimos cinco anos, a ajuda interna prestada na crise dos refugiados e os planos para um setor de defesa cibernética. Ao todo, a Alemanha participa de 16 missões no exterior, e militares alemães ampliaram sua presença na fronteira oriental da Otan, perto da Rússia.
Van der Leyen precisou ainda que o governo decidiu ampliar o orçamento das Forças Armadas para 39,2 bilhões de euros em 2020. A decisão necessita da aprovação do Parlamento. O valor atual é de 34,3 bilhões de euros. Mesmo com a ampliação, o orçamento militar ainda fica abaixo dos 2% do Produto Interno Bruto (PIB) que a Otan exige e que, no caso da Alemanha, equivaleria a 60 bilhões de euros.
Nos últimos 25 anos, a Bundeswehr perdeu cerca de 559 mil militares e funcionários civis. No final de 2015, as Forças Armadas alemãs contavam 178 mil efetivos. No fim da Guerra Fria, em 1990, tinha 585 mil militares. Em 2011, foi estabelecido um teto de 185 mil soldados e 56 mil civis na corporação, que a ministra pretende agora derrubar.
CN/rtr/afp/dpa/lusa
Forças Armadas alemãs em luta contra a tecnologia
A Bundeswehr enfrenta quase diariamente problemas com equipamentos antiquados e defeituosos. Quando a técnica é o inimigo, tanques e navios se recusam a funcionar, aviões e helicópteros ficam em terra.
Foto: AFP/Getty Images
Defeitos de fabricação
O Eurofighter é o caça mais moderno da Bundeswehr. Devido a um defeito de fabricação, as horas de voo da aeronave de 16 metros de comprimento se reduziram das garantidas 3 mil para apenas 1.500 por ano. Ainda assim, o Ministério da Defesa afirma que a utilização do Eurofighter "prossegue assegurada".
Foto: picture-alliance/dpa
Modelos antiquados e ultrapassados
Os caças alemães Tornado estão há 40 anos em operação. Das 89 aeronaves que as Forças Armadas alemãs possuem, apenas 38 estão em funcionamento. A situação dos aviões de transporte Transall C-160 é semelhante: apenas 25 das 57 aeronaves desenvolvidas nos anos 1960 estão utilizáveis. A troca pelo seu sucessor, o Airbus A400M, foi adiada.
Foto: picture-alliance/dpa/Udo Zander
Helicópteros defeituosos
A frota de helicópteros da Bundeswehr também acusa lacunas dramáticas. Apenas dez dos 31 modernos modelos de combate Tiger estão operacionais, e dos 22 helicópteros Sea Lynx da Marinha, somente quatro ainda funcionam. Os veículos de transporte NH90 e CH53 apresentam números semelhantes.
Foto: picture-alliance/dpa/Carsten Rehder
Tanques estacionados
Dos 189 tanques de transporte do tipo Boxer, 70 estão disponíveis para treinamento ou operações. Em caso de emergência, a Bundeswehr só pode empregar cerca da metade de seus 406 veículos blindados Marder, que já somam muitos anos em serviço. Eles foram introduzidos em 1971.
Foto: Johannes Eisele/AFP/Getty Images
Panes no mar
Em dezembro de 2001, a Bundeswehr optou pela compra de cinco corvetas K130, programadas para entrarem em operação em 2007. Entretanto, falhas nas transmissões, no condicionamento de ar e no software dos navios de guerra ocasionaram longos atrasos. Mesmo após entrarem em serviço, apenas dois das embarcações estavam imediatamente operacionais.
Foto: picture-alliance/dpa
Consequências para a ministra?
Os diversos problemas técnicos são a primeira grande crise do mandato de Ursula von der Leyen, que assumiu o Ministério da Defesa em 2013. Porém a culpa pelos cortes nas verbas para aquisição de peças sobressalentes cabe a seus antecessores. Embora contando com o apoio da premiê Angela Merkel, a ministra fala de uma "fase de turbulência" no tocante às aeronaves e em "apertos" devido aos reparos.