"Alemanha vai continuar sendo Alemanha", diz Merkel
7 de setembro de 2016
Em discurso no Parlamento, chanceler federal alemã defende sua política de refugiados e acordo migratório firmado entre União Europeia e Turquia. Chefe de governo reconhece partido populista de direita AfD como desafio.
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Merkel defende política migratória e ve AfD como "desafio"
01:22
Em discurso no Bundestag (Parlamento alemão) nesta quarta-feira (07/09), a chanceler federal alemã, Angela Merkel, rebateu críticas à sua política de portas abertas para refugiados. A chefe de governo apontou que já houve grandes avanços no combate à crise migratória.
"A situação hoje é muito melhor do que era um ano atrás. Mas ainda há muito fazer", declarou no debate sobre o orçamento do governo federal no Bundestag.
Ao mesmo tempo, ela prometeu levar as preocupações da população a sério. "As pessoas têm o direito de exigir que façamos tudo o que é humanamente possível para garantir a sua segurança", afirmou. "A Alemanha vai continuar sendo a Alemanha, com todas as coisas que amamos e estimamos", garantiu.
A chanceler federal também voltou a defender o acordo de refugiados da União Europeia (UE) com a Turquia, dizendo que "há interesse de ambas as partes". "Desde que fizemos esse acordo, praticamente ninguém mais se afogou no mar Egeu", afirmou. Merkel acrescentou que o acordo vale como modelo para outros possíveis acordos com o Egito, Tunísia e Líbia.
Em relação à Turquia, Merkel reiterou que, se houver violações dos direitos humanos no país, "isso será nomeado pelo nome". Quando um golpe militar fracassa, "dizemos, que é bom que ele fracasse".
AfD como desafio
Em relação ao partido populista de direita Alternativa para Alemanha (AfD), Merkel reconheceu que o partido é um "desafio não só para os democrata-cristãos, mas para todos nesta casa".
No último domingo, o partido de Merkel, a União Democrata Cristã (CDU), ficou em terceiro lugar na eleição do estado alemão de Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental , com 19%, atrás da AfD, que alcançou 20,8% dos votos. O partido populista, que critica a entrada de mais de um milhão de refugiados na Alemanha, já garantiu presença no Legislativo de nove dos 16 estados alemães.
No entanto, Merkel alertou outros partido sobre o uso de uma linguagem inflamada como a utilizada pelos populistas. Ela afirmou que, se todos os parlamentares recorrem às mesmas táticas usadas pela AfD, então "somente aqueles que dependem de slogans e respostas aparentemente simples" vão triunfar.
Aliados políticos e o AfD culparam a falta de apoio à política de refugiados pelo mau desempenho da coalizão de governo de Merkel na eleição regional. Em resposta, a chanceler voltou a dizer que o governo tomou medidas para ajudar os governos locais a lidar com os requerentes de asilo, para melhorar a integração dos migrantes à sociedade, acelerar os processos de deportação dos que tiveram refúgio negado e para aumentar a segurança no país.
Merkel disse ainda ser importante que os políticos se atenham à verdade para reconquistar a confiança da população.
KG/rtr/dpa/afp
A vida de um refugiado após selfie com Merkel
Há quem seja viciado em tirar autorretratos no celular, só ou acompanhado. Outros ridicularizam a moda como coisa de adolescentes. Para o sírio Anas Modamani, de 19 anos, um selfie foi o momento que transformou sua vida.
Foto: Anas Modamani
Encontrando Angela Merkel
Quando estava alojado no acampamento de refugiados de Berlim-Spandau, Anas Modamani ficou sabendo que a chanceler federal alemã, Angela Merkel, viria visitar e conversar com os migrantes. O sírio de 19 anos, um adepto das mídias sociais, resolveu tirar um selfie com a chefe de governo, na esperança de que a iniciativa iniciasse uma mudança real em sua vida.
Foto: Anas Modamani
Fuga para a Europa
Quando a casa dos Modamani em Damasco foi bombardeada, Anas, seus pais e irmãos se transferiram para Garia, uma cidade menor. Foi aí que o jovem resolveu escapar para a Europa, na esperança de que sua família se unisse a ele mais tarde, quando tivesse conseguido se estabelecer. Primeiro, viajou para o Líbano, seguindo então para a Turquia, e de lá para a Grécia.
Foto: Anas Modamani
Jornada perigosa
Por pouco, Anas não morreu no caminho. Para atravessar o Mar Egeu, entre a Turquia e a Grécia, ele teve que pegar um barco inflável, como a maioria dos refugiados. O sírio conta que a embarcação estava superlotada, acabando por virar, e ele quase se afogou.
Foto: Anas Modamani
Cinco semanas a pé
O trajeto entre a Grécia e a Macedônia ele teve que fazer a pé, ao longo de cinco semanas, seguindo então para a Hungria e a Áustria. Em setembro de 2015, alcançou sua destinação final: Munique. Uma vez na Alemanha, Anas decidiu que queria ir para Berlim, onde está vivendo desde então.
Foto: Anas Modamani
Espera por asilo
Na capital alemã, o jovem de Damasco passou dias inteiro diante da central para refugiados LaGeSo. Lá, ele conta, a situação era difícil, sobretudo com a chegada do inverno. Por fim, foi enviado para o acampamento de Berlim-Spandau. Ele queria chamar a atenção para sua situação como refugiado, e um selfie com Merkel lhe pareceu a oportunidade ideal.
Foto: Anas Modamani
Enfim uma família
Anas confirma que o retrato ao lado da chanceler federal foi um elemento de mudança chave em sua vida. Ele recebeu grande atenção midiática depois que o selfie foi postado online, e foi assim que sua família adotiva chegou até ele. Há dois meses o sírio de 19 vive em Berlim com os Meeuw, que o apoiam em todos os aspectos.
Foto: Anas Modamani
Saudades de casa
Anas diz nunca ter estado tão feliz como agora, ao lado de sua família alemã. Além de fazer curso de idioma alemão, tem numerosas atividades culturais e já fez muitos amigos. Com curso médio completo na Síria, ele pretende fazer o curso superior na Alemanha. Porém, sua prioridade no momento é obter oficialmente asilo e poder trazer seus pais e irmãos para a Alemanha.
Foto: Anas Modamani
Onda de rejeição aos refugiados
O sírio Anas Modamani espera ter uma vida longa e segura em sua terra de adoção. Contudo está preocupado com os atuais sentimentos negativos contra os refugiados na Alemanha. Ele teme que esse clima de rejeição possa escalar e influenciar as leis referentes aos migrantes. Se isso acontecer e ele não obtiver asilo, será o fim do sonho de ter a própria família junto de si.