Alemanha vai gastar R$ 380 milhões com monumento nazista
Ian P. Johnson ca
7 de maio de 2019
Exemplo arquitetônico da megalomania de Hitler, antiga área de desfiles do partido nazista em Nurembergue passará por reformas. Objetivo é preservar local como lugar de aprendizagem para as futuras gerações.
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O governador da Baviera, Markus Söder, prometeu que seu estado pagará um quarto dos 85 milhões de euros (cerca de 382 milhões de reais) previstos para a manutenção da antiga área de desfiles do Partido Nazista (Reichsparteitagsgelände) em Nurembergue na próxima década.
No ano passado, o governo em Berlim decidiu arcar com metade do custo – 42,5 milhões de euros – para a manutenção da área de desfile e para estabilizar a estrutura em pedra, concreto e alvenaria da chamada "Zeppelintribüne" ou Arquibancada Zepelim, em alusão ao pouso de um protótipo do dirigível naquele local em 1909.
O prefeito de Nurembergue, Ulrich Maly, insiste que a reforma é necessária para manter o "lugar de aprendizagem" para as futuras gerações.
Por outro lado, críticos locais defendem a "decadência controlada" de todo o complexo de 11 quilômetros quadrados na periferia sudeste de Nurembergue, que desde 2001 inclui um moderno Centro de Documentação sobre crimes nazistas.
O Centro de Documentação Reichsparteigelände está inserido em outro conjunto de ruínas: o prédio do palácio de congressos nazista (Kongresshalle), a segunda maior construção nazista existente na Alemanha, depois do complexo de veraneio Prora, numa praia do Mar Báltico.
A participação da Baviera – 21,3 milhões de euros – para o projeto da Arquibancada Zepelim ainda depende da confirmação da Assembleia Legislativa em Munique, capital do estado.
Como residência dos antigos imperadores germânicos, Nurembergue foi escolhida pelos nazistas para sediar seus desfiles megalomaníacos.
Entre 1933 e 1938, a ditadura de extrema direita da Alemanha organizou seis comícios do Partido Nazista no parque da cidade do norte da Baviera, remodelado pelo arquiteto de Hitler, Albert Speer, para incluir seu Campo Zepelim ("Zeppelinfeld"), área em frente à arquibancada. Algumas de suas estruturas planejadas nunca foram realizadas.
Sob a ocupação americana do pós-guerra, elementos construtivos foram demolidos. Um filme de 1945 mostra uma suástica no topo da arquibancada sendo destruída. Em 2011, a cidade de Nurembergue decidiu preservar a área com sua arquibancada.
Em coletiva de imprensa no último sábado (04/05), realizada dentro de uma câmara sob a arquibancada, o prefeito Maly, que planeja deixar a política local em 2020, disse que a reforma da estrutura é essencial para manter acessível o "espaço educacional".
Os responsáveis pelo patrimônio arquitetônico da prefeitura dizem que 80% do revestimento dos degraus da arquibancada e 60% das pedras fachada estão faltando porque, sob a supervisão de Speer, as obras foram realizadas às pressas.
Julia Lehner, responsável da Secretária de Cultura em Nurembergue, disse que a área da Arquibancada Zepelim forma uma "tríade" com o Centro de Documentação inaugurado em 2001 e uma exibição no antigo Tribunal de Justiça da cidade.
Foi lá que os principais líderes nazistas foram julgados depois da Segunda Guerra. NoMemorium Nürnberger Prozesse (Memorial dos Processos de Nurembergue),o visitante poderá conhecer a história dos Julgamentos de Nurembergue.
O governador Söder, natural de Nurembergue, disse que o Campo e Arquibancada Zepelim devem ser mantidos como "um autêntico local de memória para as futuras gerações".
O prédio tem "importância histórica mundial", disse o governador, acrescentando que, mais uma vez, a Alemanha presencia "movimentos" que querem voltar ao passado. "Não podemos deixar que o prédio seja apropriado em nenhuma circunstância."
"A influência do nacional-socialismo no mundo foi terrível, não só na Alemanha, mas em todo o mundo: uma guerra cataclísmica, a morte de milhões de pessoas partiu da ideologia aqui", disse Söder.
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Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, diversos memoriais foram inaugurados na Alemanha para homenagear as vítimas do conflito e os perseguidos e mortos pelo regime nazista.
Foto: picture-alliance/dpa
Campo de concentração de Dachau
Um dos primeiros campos de concentração criados durante o regime nazista foi o de Dachau. Poucas semanas depois de Hitler chegar ao poder, os primeiros prisioneiros já foram levados para o local, que serviu como modelo para os futuros campos do Reich. Apesar de não ter sido concebido como campo de extermínio, em nenhum outro lugar foram assassinados tantos dissidentes políticos.
Foto: picture-alliance/dpa
Reichsparteitagsgelände
A antiga área de desfiles do Partido Nacional-Socialista em Nurembergue, denominada "Reichsparteitagsgelände", foi de 1933 até o início da Segunda Guerra palco de passeatas e outros eventos de propaganda do regime nazista, reunindo até 200 mil participantes. Lá está atualmente instalado um centro de documentação.
Foto: picture-alliance/Daniel Karmann
Casa da Conferência de Wannsee
A Vila Marlier, localizada às margens do lago Wannsee, em Berlim, foi um dos centros de planejamento do Holocausto. Lá reuniram-se, em 20 de janeiro de 1942, 15 membros do governo do "Terceiro Reich" e da organização paramilitar SS (Schutzstaffel) para discutir detalhes do genocídio dos judeus. Em 1992, o Memorial da Conferência de Wannsee foi inaugurado na vila.
Foto: picture-alliance/dpa
Campo de Bergen-Belsen
De início, a instalação na Baixa Saxônia servia como campo de prisioneiros de guerra. Nos últimos anos do conflito, eram geralmente enviados para Bergen-Belsen os doentes de outros campos. A maioria ou foi assassinada ou morreu em decorrência das enfermidades. Uma das 50 mil vitimas foi a jovem judia Anne Frank, que ficou mundialmente conhecida com a publicação póstuma do seu diário.
Foto: picture alliance/Klaus Nowottnick
Memorial da Resistência Alemã
No complexo de edifícios Bendlerblock, em Berlim, planejou-se um atentado fracassado contra Adolf Hitler. O grupo de resistência, formado por oficiais sob comando do coronel Claus von Stauffenberg, falhou na tentativa de assassinar o ditador em 20 de julho de 1944. Parte dos conspiradores foi fuzilada no mesmo dia, no próprio Bendlerblock. Hoje, o local abriga o Memorial da Resistência Alemã.
Foto: picture-alliance/dpa
Ruínas da Igreja de São Nicolau
Como parte da Operação Gomorra, aviões americanos e britânicos realizaram uma série de bombardeios contra a estrategicamente importante Hamburgo. A Igreja de São Nicolau, no centro da cidade portuária, servia aos pilotos como ponto de orientação e foi fortemente danificada nos ataques. Depois de 1945 não foi reconstruída, e suas ruínas foram dedicadas às vítimas da guerra aérea na Europa.
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Sanatório Hadamar
A partir de 1941, portadores de doenças psiquiátricas e deficiências eram levados para o sanatório de Hadamar, em Hessen. Considerados "indignos de viver" pelos nazistas, quase 15 mil – de um total de 70 mil em todo o país – foram mortos ali com injeções de veneno ou com gás. O atual memorial engloba a antiga instituição da morte e o cemitério contíguo, onde estão enterradas algumas das vítimas.
Foto: picture-alliance/dpa
Monumento de Seelow
A Batalha de Seelow deu início à ofensiva do Exército Vermelho contra Berlim, em abril de 1945. No maior combate em solo alemão, cerca de 100 mil soldados das Wehrmacht enfrentaram o Exército soviético, dez vezes maior. Após a derrota alemã, em 19 de abril o caminho para Berlim estava aberto. Já em 27 de novembro de 1945 era inaugurado o monumento nas colinas de Seelow, em Brandemburgo.
Foto: picture-alliance/dpa
Memorial do Holocausto
O Memorial ao Holocausto em Berlim foi inaugurado em 2005, em memória aos 6 milhões de judeus assassinados pelos nazistas na Europa. Não muito distante do Bundestag (parlamento), 2.711 estelas de cimento de tamanhos diferentes formam um labirinto por onde os visitantes podem caminhar livremente. Uma exposição subterrânea complementa o complexo do Memorial.
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Monumento aos Homossexuais Perseguidos
De formas inspiradas no Memorial do Holocausto e próximo a ele, o monumento aos homossexuais perseguidos pelo nazismo foi inaugurado em 27 de maio de 2008, no parque berlinense Tiergarten. Uma abertura envidraçada permite ao visitante vislumbrar o interior do monumento, onde um vídeo infinito mostra casais de homens e de mulheres que se beijam.
Foto: picture alliance/Markus C. Hurek
Monumento aos Sintos e Roma Assassinados
O mais recente memorial central foi inaugurado em Berlim em 2012. Em frente ao Reichstag, um jardim lembra o assassinato de 500 mil ciganos durante o regime nazista. No centro de uma fonte de pedra negra, está uma estela triangular: ela evoca a forma do distintivo que os prisioneiros ciganos dos campos de concentração traziam em seus uniformes.
Foto: picture-alliance/dpa
'Pedras de Tropeçar'
Na década de 1990, o artista alemão Gunter Demnig começou um projeto de revisão do Holocausto: diante das antigas residências das vítimas, ele aplica placas de metal onde estão gravados seus nomes e as circunstâncias das mortes. Há mais de 45 mil dessas "Stolpersteine" (pedras de tropeçar) na Alemanha e em 17 outros países europeus, formando o maior memorial descentralizado às vítimas do nazismo.