Alemanha vai indenizar crianças que fugiram do nazismo
18 de dezembro de 2018
Entre 1938 e 1939, 10.000 menores, em sua maioria judeus, deixaram a Alemanha nazista em comboios rumo ao Reino Unido. Para organização que negociou acordo, compensação é "reconhecimento simbólico”.
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O governo alemão concordou em pagar uma indenização aos sobreviventes dos chamados "Kindertransport”, pessoas em sua maioria de origem judaica que foram evacuadas entre 1938 e 1939 da Alemanha Nazista quando eram crianças, anunciou a organização que negociou o acordo nesta segunda-feira (17/12).
A Conferência sobre Demandas Materiais Judaicas contra a Alemanha, revelou que o governo alemão vai pagar 2.500 euros (cerca de 11 mil reais) aos sobreviventes. O ano de 2018 marca o 80° aniversário do início do transporte de crianças da Alemanha para o Reino Unido e outros países da Europa.
Acredita-se que cerca de mil sobreviventes estejam vivos hoje, com cerca de 500 vivendo no Reino Unido, o que significa que os pagamentos de indenização podem chegar a 2,5 milhões de euros.
A compensação é um "reconhecimento simbólico de seu sofrimento", disse Greg Schneider, negociador da conferência. Depois de deixaram a Alemanha, a maioria dessas crianças nunca mais viu seus pais ou outros membros da família.
O "Kindertransport" começou quando as autoridades britânicas aceitaram receber menores de 17 anos da Alemanha e dos países que o regime de Adolf Hitler tinha anexado.
Após a intensificação da perseguição aos judeus em 1938, que culminou com a Kristallnacht (Noite dos Cristais), o governo britânico concordou em receber crianças judias como refugiados da Alemanha nazista ou de territórios anexados pelo regime.
Grupos de judeus dentro da Alemanha nazista planejaram os transportes e o primeiro chegou a Harwich, no Reino Unido, em 2 de dezembro de 1938, de acordo com o Museu do Holocausto dos Estados Unidos.
O último transporte da Alemanha partiu em 1° de setembro de 1939 – o dia em que a Segunda Guerra Mundial eclodiu com a invasão nazista da Polônia.
Ao todo, cerca de 10 mil crianças da Alemanha, Áustria, Tchecoslováquia e Polónia foram levadas para a Grã-Bretanha, entre as quais cerca de 7.500 eram judias, segundo o Museu.
Cerca de metade foi colocada em famílias adotivas, enquanto outras ficaram em albergues e escolas.
Além daqueles que permaneceram na Grã-Bretanha, muitos foram deslocados para os Estados Unidos, Canadá, Austrália e outros países, segundo Schneider.
"Hoje, os sobreviventes têm pelo menos 80 anos e a maioria continua a olhar para trás, para a sua fuga, como o momento decisivo das suas vidas, quando foram colocados sozinhos em comboios em direção ao desconhecido, dizendo adeus aos pais e aos irmãos, frequentemente pela última vez", lembrou Schneider.
"Esse dinheiro é o reconhecimento de que o que aconteceu com estas pessoas foi uma coisa horrível e traumática ", acrescentou. "Em quase todos os casos, os pais que permaneceram foram mortos em campos de concentração, e eles têm enormes problemas psicológicos", disse Schneider. "Esse dinheiro é o reconhecimento de que isso foi uma coisa horrível e traumática que aconteceu com eles".
Alguns dos sobreviventes já haviam recebido pequenos pagamentos nos anos de 1950, mas isso não os impede de receber o novo benefício, segundo a organização.
Os sobreviventes poderão fazer uma reivindicação de pagamento a partir de 1º de janeiro de 2019.
Desde 1952, o governo alemão realizou mais de 80 bilhões de dólares em pagamentos a indivíduos por suas perdas e sofrimentos durante o regime nazista.
Os Pogroms de Novembro, conhecidos como "Noite dos Cristais"
Em 9 e 10 de novembro de 1938, o Terceiro Reich lançou um pogrom antijudaico de características medievais. A "Noite dos Cristais" entrou para a história como um exemplo da barbárie nazista.
Foto: gemeinfrei
O que ocorreu entre 9 e 10 de novembro de 1938?
Ataques antissemitas, liderados por paramilitares da SA, foram lançados por toda a Alemanha nazista. Sinagogas como esta, na cidade de Chemnitz, no leste do país, e outros estabelecimentos de propriedade de judeus foram destruídos. Judeus foram sujeitados à humilhação pública e presos. Pelo menos 91 deles – mas provavelmente muitos mais – foram mortos.
Foto: picture alliance
Por trás do nome
A violência contra os judeus alemães observada nas ruas de todo o país é conhecida por uma série de nomes. Em Berlim, costuma-se referir-se a ela como "Kristallnacht", ou, em português, "Noite dos Cristais". Atualmente, porém, é mais comum entre os alemães falar na "Noite do Pogrom" ou nos "Pogroms de Novembro".
Foto: Getty Images
O que desencadeou o pogrom?
O estopim do episódio foi o assassinato do diplomata alemão Ernst vom Rath, em Paris, por um adolescente judeu polonês chamado Herschel Grynszpan. Não se sabe ao certo se ele sobreviveu ao regime nazista ou se morreu em algum campo de concentração.
Foto: picture-alliance/Imagno/Schostal Archiv
Como a violência realmente começou?
Após a morte de von Rath, Adolf Hitler deu uma permissão verbal ao Ministro da Propaganda, Josef Goebbels, para lançar o pogrom. A violência já havia eclodido em alguns lugares. Os paramilitares da SS foram instruídos a permitir "apenas medidas que não impliquem nenhum perigo para vidas e propriedades alemãs".
Foto: dpa/everettcollection
A violência foi uma expressão de raiva popular?
Não. Essa foi a versão oficial do partido nazista, mas ninguém acreditou nela. Referências constantes a "operações" e "medidas" indicam claramente que a violência foi um ato de Estado. Não está claro o que a população alemã achou do episódio. Há evidências de desaprovação popular – embora o fato de o casal à esquerda da foto estar rindo também dizer muito.
Foto: Bundesarchiv, Bild 146-1970-083-42/CC-BY-SA
O que os nazistas esperavam obter com a violência?
Conforme a ideologia racista do partido, os nazistas queriam intimidar os judeus para que estes deixassem a Alemanha. Com esse intuito, judeus eram frequentemente exibidos de forma humilhante pelas ruas, como nesta imagem. Seus algozes também tinham motivações econômicas: judeus fugindo do Terceiro Reich tinham que pagar "taxas de emigração", e suas propriedades eram confiscadas com frequência.
Foto: gemeinfrei
O pogrom alcançou o seu propósito?
Após o episódio, os judeus não podiam mais nutrir qualquer ilusão sobre as intenções dos nazistas, e aqueles que tiveram a chance, fugiram. Mas a agressão aberta caiu mal na imprensa internacional e contrariou muitos alemães que defendiam a ordem. Foi assim que surgiram medidas mais burocráticas, como a exigência de que os judeus usassem estrelas de David amarelas visíveis em suas roupas.
Foto: gemeinfrei
Qual foi o resultado imediato?
Depois do pogrom, a liderança nazista instituiu uma série de medidas antijudaicas, inclusive – não sem um certo cinismo – uma taxa para ajudar a pagar pelos danos de 9 a 10 de novembro de 1939. Hermann Göring, o segundo homem mais poderoso do Terceiro Reich na época, notoriamente observou: "Eu não gostaria de ser judeu na Alemanha".
Foto: AP
O que os Pogroms de Novembro representaram para a história?
Em 1938, ainda faltavam dois anos para o início do Holocausto. Mas há uma clara linha de continuidade desde o pogrom até o assassinato em massa de judeus europeus, na qual a liderança nazista continuaria a desenvolver e aprimorar seu ódio antissemita. Nas palavras de um historiador contemporâneo, o pogrom foi um "prelúdio do genocídio".