Na Alemanha, governo garante que água da torneira é limpa e segura para consumo. Proprietários de imóveis são obrigados por lei a cuidar da higiene da tubulação. Mesmo assim, muitos preferem beber água mineral.
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Na Alemanha, é comum ver gente enchendo a garrafa de água no banheiro do aeroporto, servindo um copo de água da torneira em casa ou bebendo em fontes de água potável instaladas nas ruas. Filtros de água não são necessários por aqui. A água da torneira já sai pronta para beber.
A água potável (Trinkwasser) é estritamente controlada na Alemanha. Segundo a Agência Federal de Proteção ao Consumidor e Segurança Alimentar (BVL), o líquido que vem da tubulação das casas pode ser bebido com segurança e sem tratamento adicional.
Leis, diretrizes e regulamentos definem os criteriosos requisitos de qualidade que devem ser seguidos pelas companhias de abastecimento de água. A Regulamentação da Água Potável (TrinkwV, na sigla em alemão) define que toda a água que sai da torneira deve seguir os padrões microbiológicos e químicos estabelecidos, mesmo que seja usada para tomar banho, cozinhar ou regar as plantas.
Uma portaria editada em 2003 determina ainda que os proprietários de casas e estabelecimentos garantam que a tubulação esteja limpa e em condições adequadas. Empresas de abastecimento oferecem uma análise gratuita da qualidade da água e das instalações hidráulicas de um imóvel. Em alguns casos, o resultado é mostrado na conta de água.
Mesmo com a garantia de que a água pode ser bebida diretamente da torneira, os alemães confiam que a água vinda da tubulação é de fato limpa? A última pesquisa sobre o tema da Associação de Empresas Municipais alemã (VKU), divulgada em 2016, mostra que a confiança do consumidor alemão na qualidade da água é alta – cerca de 90% dos entrevistados classificam a qualidade da água que sai da torneira como muito boa ou boa. Além disso, 90% afirmam que tomam a água da torneira sem nenhuma preocupação.
Apesar disso, menos da metade das pessoas bebe água da torneira todos os dias. Segundo a pesquisa, 37,9% dos alemães preferem beber água mineral com gás e compram as garrafas no supermercado.
A água alemã tem um alto grau de alcalinidade, com concentração de sais de cálcio e de magnésio. Por isso, chuveiros e torneiras precisam ser limpos periodicamente para a retirada de manchas ou até crostas brancas. As substâncias, no entanto, não afetam a saúde do consumidor.
A única má notícia sobre beber água da torneira é que a água potável pode ficar até 45% mais cara. Um estudo divulgado pela Agência Federal do Meio Ambiente (UBA), em junho, mostra que a crescente presença de nitrato na água potáveldeve encarecer o processo de limpeza e refletir na conta que chega para o consumidor.
Na coluna Alemanices, publicada às sextas-feiras, Karina Gomes escreve crônicas sobre os hábitos alemães, com os quais ainda tenta se acostumar. A repórter da DW Brasil e DW África tem prêmios jornalísticos em direitos humanos e sustentabilidade e vive há quatro anos na Alemanha.
Água, bem precioso e escasso
Especialistas do mundo afora se encontram anualmente em Estocolmo para a Semana Mundial da Água. Apesar de vital, o acesso fácil à água potável ainda não é algo normal e evidente no planeta Terra.
Foto: picture alliance/WILDLIFE
Muita água, pouca para beber
A sobrevivência humana depende da água e, apesar de mais de 70% da Terra ser coberta pelo líquido, isso não significa que ela esteja disponível em abundância. Dos 1,4 bilhão de quilômetros cúbicos existentes em nosso planeta, apenas 2,5% são potáveis. E das reservas globais de água doce, apenas 0,3% é de acesso relativamente fácil, em rios ou lagos.
Foto: AFP/Getty Images
Mais gente precisa de mais água
Desde 1950, a demanda mundial por água cresceu cerca de 40%, e aumentará ainda mais devido ao crescimento populacional global. O uso excessivo e a poluição tornam as reservas de água doce cada vez mais raras. A escassez severa afeta principalmente os países ao sul da Linha do Equador.
Foto: Reuters/P. Bulawayo
Escassez apesar do Amazonas
Até mesmo em países como o Brasil – cujo Amazonas é o rio mais rico em água doce do planeta – sofrem com a escassez do fluído precioso. O contínuo desmatamento da floresta amazônica alterou as condições climáticas no continente sul-americano, resultando em cada vez menos chuvas no restante do país.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Brandt
Seca do século
Em 2015, a falta de chuva no Brasil até acarretou a pior seca dos últimos 80 anos. Durante o verão inteiro praticamente não houve nenhuma precipitação pluvial. Os grandes reservatórios ficaram vazios, e a população de São Paulo sofreu racionamento. Apesar disso, os grandes plantadores de frutas seguiram sendo abastecidos com enormes volumes d'água para a rega de seus campos.
Foto: picture-alliance/dpa/Aaron Cadena Ovalle
Alimentos de alto consumo hídrico
Também na Europa o cultivo de consumo hídrico intensivo é um problema; especialmente na Espanha, onde, em cerca de 30 mil hectares de plantações, se produz grande parte dos produtos agrícolas da Europa. Volta e meia, poços são drenados ilegalmente e deixados secos ou salobros. O tratamento das águas subterrâneas é extremamente caro e depende de subsídios públicos.
Foto: picture-alliance/dpa/B.Marks
15.400 litros para um quilo de carne
Mais água ainda é empregada na produção de carne bovina. Para um quilo de carne, são necessários 15.400 litros d'água, principalmente no cultivo da comida para o gado. Com a melhora da qualidade de vida em países como a China e o consequente aumento do consumo de carne, estima-se que o dispêndio crescerá acentuadamente nos próximos anos.
Canais entre sul e norte da China
O país mais populoso do mundo já enfrenta problemas suficientes com o "ouro líquido": em algumas províncias do norte da China, os cidadãos têm menos água per capita do que nas regiões desérticas do Oriente Médio. O governo compensa transportando a água doce do sul para o norte em enormes canais. Contudo também se estima que 80% das águas subterrâneas do país estejam contaminadas.
Foto: picture alliance/AP Images/Ma jian
Mudança climática agrava escassez
As perspectivas futuras do planeta tampouco inspiram otimismo: devido à mudança climática, 40% mais seres humanos serão afetados pela falta d'água, segundo cálculo do Instituto de Pesquisa de Impacto Climático de Potsdam. A escassez será sentida principalmente no sul da China, sul dos EUA, Oriente Médio e na região do Mar Mediterrâneo.