Na Alemanha, o governo oferece uma série de benefícios financeiros para impulsionar a taxa de natalidade. Mães e pais têm direito a dividir período de licença e ainda recebem valor mensal para cobrir gastos com filhos.
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Ter um filho na Alemanha pode não ser um dilema quando considerados os benefícios financeiros oferecidos pelo governo. A política de apoio à família criada em 2007 para aumentar a taxa de natalidade no país prevê uma série de medidas para estimular os alemães a formarem uma família.
Um dos principais benefícios é o Elterngeld (dinheiro dos pais), que serve como uma compensação para a perda de renda do casal quando deixam de trabalhar ou reduzem a carga horária para cuidar dos filhos. Juntos, os pais podem se licenciar por um máximo de 14 meses depois do nascimento do bebê, com garantia de retorno ao trabalho. O período pode ser dividido entre o casal da maneira mais conveniente. A gestante tem o direito de parar de trabalhar seis semanas antes do parto.
O valor pago pelo governo é calculado de acordo com o salário dos pais. O cônjuge que decide se afastar do trabalho recebe 65% do salário. Pais de famílias carentes recebem 100% do valor. O valor varia de um mínimo de 300 euros, pago a pais desempregados ou estudantes, a um máximo de 1.800 euros por mês. Em caso de gêmeos ou trigêmeos, é acrescido um valor de 300 euros por criança.
Com a calculadora do dinheiro dos pais (Elterngeldrechner) , o casal pode prever quanto dinheiro vai receber do governo para compensar o tempo não trabalhado.
A ajuda do governo também se estende à criança, com o Kindergeld (dinheiro da criança). Os pais podem usar o dinheiro para financiar a educação e cobrir outros gastos com o filho. Por mês, o casal recebe 192 euros pelo primeiro e o segundo filhos, 198 euros pelo terceiro filho, e 223 euros pelo quarto. A partir de 2018, esses valores serão aumentados em dois euros.
O dinheiro é pago até o filho completar os 18 anos. O filho que ainda está em formação educacional pode estender o benefício até os 25 anos de idade e o que não têm emprego, até os 21 anos.
Os pais também podem receber abatimentos no imposto de renda por causa dos filhos e dos custos de assistência à criança, como babás, creches e jardins de infância. Famílias de baixa renda podem requerer ainda o Kinderzuschlag, um adicional ao Elterngeld num valor de até 170 euros por mês por criança.
Caso um filho fique doente, os pais são assegurados pela previdência estatal e têm o direito de tirar uma licença do trabalho. Cada cônjuge pode se ausentar até dez dias por ano do trabalho para cuidar das crianças menores de 12 anos.
Mesmo com tantos esforços do governo alemão para incentivar a população a ter mais filhos, a taxa de natalidade no país não aumentou de forma considerável. Em 2007, quando as políticas de apoio à família foram lançadas, a taxa era de 1,3 filho por mulher em idade fértil. Em 2015, a taxa foi de 1,5, inferior à de países europeus como França (1,96) e Holanda (1,66).
Na coluna Alemanices, publicada às sextas-feiras, Karina Gomes escreve crônicas sobre os hábitos alemães, com os quais ainda tenta se acostumar. A repórter da DW Brasil e DW África tem prêmios jornalísticos em direitos humanos e sustentabilidade e vive há quatro anos na Alemanha.
Temas controversos entre pais alemães
Dar aos bebês nomes tradicionais ou incomuns, amamentar em público, usar fraldas descartáveis ou de pano, e até mesmo vacinar ou não: conheça os temas que mais preocupam pais e mães na Alemanha.
Foto: Imago
Que nome dar?
O que é mais importante: que o filho se destaque ou seja mais um entre muitos outros de sua geração? Escolher um nome para o bebê é uma expressão da identidade dos pais, mas também pode ser um peso para a criança durante a vida inteira. Marie e Elias foram os nomes mais frequentes dados a bebês na Alemanha em 2016.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Stratenschulte
Amamentar em público
Mesmo que não funcione para todas as mães por uma série de razões, a amamentação é uma prática generalizada na Alemanha. Os alemães não têm problemas com nudez, de forma que a amamentação em público não chega a ser problema. No entanto, o país não tem uma lei que protege mães que amamentam. Donos de estabelecimentos comerciais podem proibir as mulheres de amamentarem em público em suas lojas.
Foto: picture alliance/empics/N. Ansell
Por quanto tempo amamentar?
Este é outro tema controverso. Pode-se ver até mães amamentando um filho de três anos, mas isso é exceção. Na Alemanha os casais recebem ajuda financeira se deixam de trabalhar nos primeiros 12 meses do bebê (ou até 14 meses se a licença for compartilhada entre pai e mãe), e muitas mães tentam parar de amamentar antes de voltar ao trabalho.
Foto: Colourbox/yarruta
Jardim de infânca
Antes de voltar a trabalhar, a busca por vagas em creches ou jardins de infância é outro tema estressante para os jovens pais. Enquanto muitos se preocupam em achar estabelecimentos perto de suas casas, outros dão mais atenção à linha pedagógica, por exemplo, e lutam por uma vaga nos jardins de infância Waldorf.
Foto: picture-alliance/ZB/P. Pleul
Vacinação
A vacina não é obrigatória na Alemanha, e, por isso, há pais que não imunizam os filhos. Segundo a OCDE, o índice de vacinação infantil no país é de 96%, mas outros estudos apontam uma taxa menor. Não vacinar só funciona enquanto um número suficiente de pessoas garantir a imunização da sociedade. Berlim, por exemplo, enfrentou uma epidemia de sarampo no inverno de 2014 para 2015, com 1.392 casos.
Foto: Sean Gallup/Getty Images
Deixar chorar
É um fenômeno universal: os bebês acordam várias vezes por noite, deixando os pais exaustos. Seguindo o que se conhece como método Ferber, muitos alemães deixam os bebês chorarem sozinhos na cama até dormirem. Pode ser a salvação para alguns, mas outros consideram isso tortura.
Foto: CC/Roxeteer
Teoria do apego
Quem é contra esse treinamento para o bebê dormir provavelmente defende a "attachment parenting", teoria do apego, uma filosofia criada pelo pediatra americano William Sears. Ela recomenda, por exemplo, dar segurança ao carregar o bebê e dormir com ele, aliás outro ponto controverso. Em 2014, o Ministério alemão da Família até promoveu um congresso no país sobre a teoria do apego.
Foto: imago/imagebroker
Fraldas descartáveis, de pano ou nenhuma?
As fraldas são outro tema universal. Com tantas opções descartáveis no mercado, ainda há os que preferem fraldas de pano. Isso representa mais trabalho, mas contribui para a sustentabilidade. Praticantes do método "Windelfrei" (sem fraldas) ainda são raros, mas eles automaticamente ganham o concurso de "pais mais dedicados".
Foto: picture alliance/dpa Themendienst
Cozinhar ou comprar pronto
Você identifica pais que querem dar dedicação especial ao filho pela forma como preparam a papinha do bebê. Muitos utilizam apenas ingredientes orgânicos e pratos e talheres provenientes de comércio justo. Provavelmente eles criticam os que compram papinha pronta no supermercado, mas admitem que ela é útil quando viajam.
Foto: Fotolia/victoria p
Conceitos alternativos de educação
Nos anos 1960 e 1970, os alemães refletiram muito sobre educação e criaram conceitos como educação antiautoritária, para promover a liberdade de pensamento de uma criança. A influência dessa abordagem é sentida na Alemanha até hoje. Além das várias teorias populares atuais, cada pai desenvolve um estilo próprio – e ninguém gosta de ouvir que está errado.
Foto: colourbox/S. Darsa
Televisão e eletrônicos
Existem aplicativos incríveis e programas de TV voltados para os pequenos. Muitas crianças de um ano sabem mexer melhor em smartphones do que os avós. Embora não haja consenso entre os pais alemães sobre o uso de mídia digital por crianças pequenas, a maioria prefere restringir o contato dos filhos com esses aparelhos.
Foto: picture-alliance/dpa
Consumo de açúcar
Outra maneira alemã de avaliar um "bom pai ou mãe" é o número de anos em que o filho não foi colocado em contato com doces – e isso num país onde o sorvete é um ritual quase diário para crianças mais velhas no verão. Aliás, o segundo filho geralmente é privilegiado, podendo experimentar uma série de coisas mais cedo, pois após algum tempo os pais deixam de seguir alguns de seus rígidos princípios.