Alemanices: Na Alemanha, caminhada é assunto sério
Karina Gomes
10 de novembro de 2017
Regras definem como a tradicional "Wanderung" alemã, praticada em trilhas em florestas e montanhas, se diferencia de um simples passeio. Atividade está ligada à busca de vida saudável em contato profundo com a natureza.
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Uma atividade física para renovar a alma em meio à natureza e explorar o novo. É assim que se define a tradicional Wanderung, caminhada em alemão, que nada tem a ver com um simples passeio.
Wandern ("caminhar") na Alemanha significa andar mais ou menos 13 quilômetros a pé por pelo menos duas horas. Os passos devem manter uma velocidade de cerca de 5 km/h em meio a florestas e montanhas.
A caminhada alemã segue a premissa do poeta italiano Francesco Petrarca, que em 1336 escreveu sobre a curiosidade de ver o mundo com os próprios olhos. A necessidade de, no passado, se caminhar para executar atividades econômicas, guerras, transporte e peregrinações, ganhou contornos de uma experiência estética com o alpinismo no século 19 e o desenvolvimento do turismo.
Já em 1883 foi criada a Associação Alemã dos Praticantes de Caminhada (DWV), na cidade de Fulda, que hoje conta com cerca de 60 associações regionais e mais de 600 mil membros.Wandern é, definitivamente, uma das atividades ao ar livre preferidas dos alemães.
É claro que não faltam regras para diferenciar um simples passeio (Spaziergang) da verdadeira Wanderung. Segundo a DWV, o passeio dura em média 1 hora e 22 minutos, e a caminhada em trilhas, 2 horas e 39 minutos. E, obviamente, é preciso planejar cada detalhe: equipamentos e roupas apropriados, líquidos e algo para comer, e a rota a ser seguida.
Para isso, a Alemanha dispõe de 200 mil quilômetros de trilhas, e muitas fazem parte de rotas de trilhas europeias famosas. O costume é tão popular que ganhou um dia anual de comemoração, o Wandertag, celebrado em agosto. A Rota Romântica, na Floresta Negra, é uma das regiões preferidas para caminhadas na Europa.
A palavra wandern ganha novos contornos dependendo do foco da atividade: Wasserwandern (praticar canoagem, por exemplo), Wanderreiten (cavalgar) e Radwandern (praticar ciclismo). O importante é que a finalidade seja buscar uma vida saudável em profunda conexão com a natureza.
Na coluna Alemanices, publicada às sextas-feiras, Karina Gomes escreve crônicas sobre os hábitos alemães, com os quais ainda tenta se acostumar. A repórter da DW Brasil e DW África tem prêmios jornalísticos na área de sustentabilidade e é mestre em Direitos Humanos.
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Caminhadas na Alemanha
Estima-se que existam 200 mil quilômetros de trilhas no país. Estes dez caminhos prometem momentos inesquecíveis.
Foto: picture-alliance/dpa
Malerweg
A trilha circular cruza a paisagem rochosa ao sul de Dresden, no leste da Alemanha. A partir do século 18, a região se transformou num destino turístico “da moda". Rochedos com formas incomuns passaram a atrair aqueles em busca de uma paisagem romântica e selvagem ao mesmo tempo. Em 2006, a trilha foi restaurada de acordo com indicações de guias de viagem e obras de arte.
Foto: picture-alliance/dpa
Trilha de longa distância E5
Um destino clássico para caminhadas são os Alpes de Allgäu, no estado da Baviera. Uma das modalidades é a travessia que cruza os Alpes pela trilha de longa distância europeia E5. A trilha vai da costa atlântica da França e termina em Verona, na Itália. Desde 1969, foram criadas 12 trilhas de longa distância na Europa, também como sinal de entendimento entre os povos do continente.
Foto: picture-alliance/dpa
Caminho de Santiago
O túmulo de Santiago, um dos apóstolos de Cristo, está localizado em Santiago de Compostela, destino de muitos peregrinos na Europa. Os caminhos que levam até lá têm a concha de vieira como símbolo. A Alemanha tem 30 diferentes rotas que levam a Santiago de Compostela. Há também a rota ecumênica Via Regia, a mais antiga ligação entre a Europa oriental e ocidental – que vai de Görlitz a Vacha.
Foto: picture-alliance/dpa
Heidschnuckenweg
Em Lüneburger Heide, área no estado da Baixa Saxônia, um mundo lilás espera todos os anos por turistas no final do verão. É aí que a chamada charneca, uma vegetação xerófila, floresce. Por ali pastam as raras ovelhas da raça Heidschnucke, que dão o nome à rota com 223 quilômetros, entre Hamburgo e Celle.
Foto: picture-alliance/dpa
Rheinsteig
O vale do Reno é uma região que combina natureza, cultura, história e diversão. Com uma extensão de 320 quilômetros, a trilha de Rheinsteig acompanha o Reno de Bonn até Wiesbaden. No caminho, veem-se palácios antigos, castelos, monumentos, vinhedos e florestas. A trilha é um desafio. No estreito Vale do Alto Médio Reno (Mittelrheintal) pode-se até mesmo escalar.
Foto: picture-alliance/Frank Kleefeldt
Caminho de castelos
As chamadas trilhas de qualidade e premium (Qualitäts- und Premiumwanderwege ) prometem experiências especiais. Para isso, a Associação Alemã de Caminhadas ou o Instituto Alemão de Caminhadas cumprem critérios rigorosos. Existem 25 desses caminhos somente na Floresta do Palatinado, como o caminho de castelos franco-alemães (Deutsch-Französischer Burgenweg), que conecta o Palatinado e a Alsácia.
Foto: picture-alliance/dpa
Brocken-Rundwanderweg
Uma popular área de caminhada é a região montanhosa de Harz. Não pode faltar a excursão para Brocken, a montanha mais alta do norte da Alemanha, com 1.141 metros de altura. Até Goethe já caminhou até lá. Mas também se pode ser menos aventureiro e pegar o trem histórico de Brocken. A principal atração da caminhada é a vista panorâmica no topo da montanha e o desafio é enfrentar os fortes ventos.
Foto: picture-alliance/dpa
Rennsteig
A Rennsteig é uma das trilhas mais populares da Alemanha. São 170 quilômetros dentro da Floresta da Turíngia, de Eisenach para Blankenstein. O local foi mencionado pela primeira vez no século 13, mas virou atração turística no século 19. Durante o período em que a Alemanha ficou dividida, não era possível percorrer todo o caminho. Desde 1999, é considerado um patrimônio cultural da região.
Foto: picture-alliance/ZB
Cinturão Verde
Por quase 40 anos, a Cortina de Ferro dividiu a Alemanha em Oriental e Ocidental. Quem quiser se aventurar pode percorrer, por cerca de 1.393 quilômetros, o curso da antiga fronteira: o Cinturão Verde. No caminho, há memoriais, antigos alertas e torres de vigilância.
Foto: picture-alliance/dpa
Wattenmeer
O caminho na costa ao norte da Alemanha pode ser feito somente com a maré baixa. Turistas podem identificar a vida que se esconde no lodo e na lama. Procurar trilhas é inútil. Os guias locais dão todas as instruções de como andar de maneira segura no terreno. Você também pode aprender sobre as características deste habitat. O mar de Wadden (Wattenmeer) faz parte do patrimônio mundial da Unesco.