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Alemanices: Nos trilhos da Alemanha

Karina Gomes
27 de outubro de 2017

ICE, IC, EC, RE, RB, S-Bahn – siglas não faltam para descrever a variedade de trens na Alemanha. Na coluna, Karina Gomes explica as diferenças entre elas e como usar a complexa e extensa malha ferroviária do país.

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Foto: picture-alliance/dpa/R. Jensen

Do trem, não importa a estação, somos frequentemente surpreendidos por fotógrafos apaixonados por cada detalhe da engenharia dos trilhos, dos vagões e das plataformas. Esse hobby de muitas pessoas vidradas pela tecnologia alemã reflete as facetas da malha ferroviária no país. Os trens alemães delineiam a rotina, criam novos colecionadores, incitam paixão e também o ódio dos que, apesar do conforto e da rapidez, são vítimas dos atrasos frequentes.

A Deutsche Bahn (DB) é a empresa federal que opera os trens na Alemanha desde os anos 1990 e, anualmente, transporta milhões de passageiros e milhares de toneladas de carga pelos 33.380 quilômetros de extensão dos trilhos. Os trens conectam mais de 5 mil estações e paradas e partem das estações centrais (Hauptbahnhöfe) para terras distantes, passam por inúmeras cidades e nos levam a outros países. A própria viagem já pode ser um passeio. Montanhas, campos de canola e de trigo, pessoas fazendo caminhadas, jardins urbanos à beira das rodovias montam o cenário ao longo dos trilhos.

E, para encurtar as distâncias, há uma variedade de trens. O ICE (Intercity-Express) é o modelo mais cobiçado e com as passagens mais caras. Há vagões silenciosos – onde é proibido até conversar –, outros onde é permitido usar o celular, cabines para famílias com crianças e WiFi livre. Em poucos trechos, como a conexão entre Frankfurt e Colônia, os trens circulam na potência máxima e podem alcançar os 300 km/h. Em alguns trens, há painéis eletrônicos com avisos sobre as próximas conexões. Todo ICE tem um BordBistro, restaurante de bordo, com um menu tradicional, que inclui bebidas alcoólicas e pratos para crianças.

O trem modelo IC (Intercity) opera dentro da Alemanha e também faz viagens de longa distância, mas com mais paradas pelo caminho e nem tanto conforto. Nem sempre há restaurantes de bordo. A vantagem é que sempre há mais espaço disponível para bagagens grandes. Os trens EC (Eurocity) fazem viagens internacionais entre países europeus. Ambos os modelos atingem uma velocidade de 185 km/h.

Todos os trens têm banheiros, inclusive com acessibilidade para pessoas com deficiências físicas, mas raramente estão bem limpos. Trens noturnos têm vagões especiais equipados com pequenas camas, para as quais paga-se um valor extra. Em alguns trens, funcionários da DB passam pelos corredores vendendo bebidas quentes e frias, salgadinhos e doces.

Reserva de assento

Para os trens de longa distância, é possível reservar o assento quando se compra o tíquete no balcão ou pela internet por um valor de 4,50 euros. Para saber em que posição na plataforma estará o seu vagão, basta checar um painel informativo disponível nas estações. Você também pode indicar preferências como sentar ao lado da janela ou do corredor ou em assentos duplos ou quádruplos com mesa. A reserva aparece sob o bagageiro e em cima do assento, de forma eletrônica ou com um papel impresso, indicando o trecho em que o assento estará ocupado. Se não há nenhuma informação específica, significa que o assento está livre. Papéis informativos indicam o plano do percurso e o horário previsto de chegada e saída em cada parada.

BordBistro tem menu tradicional, que inclui bebidas alcoólicas e pratos para criançasFoto: Reuters/F. Bensch

Quando há atrasos, é preciso perguntar aos funcionários se o próximo trem pode esperar. Se perder a viagem, é preciso ir ao serviço de informação e checar qual é a próxima conexão. Dependendo do atraso, a dor de cabeça é profunda, mas é possível pedir uma indenização preenchendo um formulário. O documento deve ser entregue em qualquer ponto de informação da DB junto com uma cópia da passagem. É possível indicar se você prefere receber o valor da indenização por transferência bancária ou como um bônus para uma próxima viagem. Se o atraso for de duas horas ou mais, dá para receber até 25% do valor da passagem de volta. Outro problema recorrente é entrar no vagão errado. Em alguns trens, os vagões são divididos em algumas estações para diferentes destinos. Os passageiros são sempre informados nas plataformas, mas, muitas vezes, apenas em alemão. É preciso ficar atento para não parar "no fim do mundo".

Para todas as viagens, há a possibilidade de obter descontos com a aquisição do BahnCard, um cartão de abono disponível nas versões 25, 50 e 100, referentes à percentagem do desconto oferecido. O cartão pode ser adquirido pela internet e é pago anualmente. É preciso ficar atento aos prazos. Se você quiser cancelar o cartão, é preciso fazê-lo até cinco semanas antes da data de expiração por e-mail, telefone ou comunicação no balcão. Se deixar para um mês antes, já não será possível cancelar e o pagamento da anuidade seguinte será automático. Em geral, a DB não envia um aviso sobre a data de expiração e cabe ao cliente observar as datas.

Flexibilidade?

As passagens são compradas em guichês automáticos, pessoalmente no balcão (mas não é tão simples devido às filas e à demora para ser atendido), pela internet e por um app no celular, em que é possível fazer a busca pela passagem com o filtro do Sparpreis (passagens econômicas) para que os tíquetes mais baratos apareçam no topo da busca.

Flexibilidade não é uma marca da DB. Trocar um tíquete com valor econômico é impossível e, se você atrasou e perdeu o trem por qualquer motivo que não seja de responsabilidade da empresa, vai perder o tíquete ou ter que pagar um valor alto para comprar outra passagem em cima da hora ou ainda pagar um valor extra para conseguir trocar a viagem.

Além disso, não há desculpas caso você não tenha um tíquete válido para a viagem. As estações de trem alemãs não possuem catracas e o controle nos trens é regular. Nas viagens de longa distância, o controle é feito quase a cada nova estação por funcionários que checam o tíquete de cada passageiro. Nos trens regionais, a fiscalização é randômica. Controladores aparecem de surpresa. A multa varia de estado para estado, mas custa geralmente 60 euros, mais o valor original do tíquete que deveria ter sido comprado pelo passageiro.

Um trem regional, que cobre distâncias curtas, e um ICE ao fundo, em LeipzigFoto: picture-alliance/dpa/J. Woitas

Curtas distâncias

Os trens regionais – Regional Express (RE), que para em menos estações, e Regional Bahn (RB), que faz parada em todas as estações no caminho – fazem conexões mais curtas num mesmo estado ou entre estados vizinhos. Não há restaurante e não é possível fazer reserva do assento. Muitos desses trens têm dois andares para acomodar um número maior de passageiros nos horários de pico. O bilhete precisa ser carimbado em máquinas específicas nas estações para marcar o horário do início da viagem.

O S-Bahn faz conexões locais e metropolitanas entre cidades grandes e vilarejos adjacentes e o metrô (U-Bahn) é gerido pelas empresas municipais de transporte. Os bondes (Strassenbahn), veículos leves sobre trilhos, são ainda outra opção de transporte nas cidades.

Sob os trilhos da Alemanha, sempre dá para transportar bicicletas nos vagões. É preciso pagar um tíquete específico e, se a viagem for de longa distância, ainda fazer a reserva do lugar.

Na coluna Alemanices, publicada às sextas-feiras, Karina Gomes escreve crônicas sobre os hábitos alemães, com os quais ainda tenta se acostumar. A repórter da DW Brasil e DW África é mestre em direitos humanos e tem prêmios jornalísticos na área.

Alemanha em 1 minuto: Vida sem catracas

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