Na Alemanha, todos enfrentam o frio, o vento e a neve para tomar vinho quente, a bebida preferida nos mercados de Natal do país. Além das várias versões do Glühwein, há outras opções para se aquecer nas feiras natalinas.
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É só dar um passo em direção às luzes das velas aromatizadas e das pequenas luminárias coloridas para ser fisgado pelo cheiro dos waffles, crepes, balas de ervas (Kräuterbonbons) e Lebkuchen, tradicional biscoito natalino com especiarias. A praça está lotada em volta do carrossel e tomada pelo encantamento do Natal alemão.
Cada barraquinha traz os detalhes da tradição dos mercados de Natal (Weihnachtsmärkte) na Alemanha. Dos quebra-nozes (Nussknacker) às castanhas assadas, das amêndoas caramelizadas aos chocolates em formato de ferramentas e ao bolo natalino Stollen, todos os cantos do mercado convidam os visitantes a experimentar cada cheiro e cada sabor dessa tradição de mais de 600 anos.
Mas nada tem mais poder para fazer as pessoas saírem de casa – apesar do vento, da neve ou de temperaturas negativas – que o Glühwein, o vinho quente alemão. Andar no mercado de Natal sem a canequinha típica chega a ser um ultraje. O Glühwein aquece as conversas, mantém todos animados e compete com os outros aromas do mercado.
É sempre preciso pagar um depósito (Pfand) pela caneca personalizada de cada barraca do mercado de Natal. As canequinhas são ilustradas e trazem o nome do mercado de Natal onde são vendidas, e algumas delas também o ano. Depois de tomar o Glühwein, basta encher a mesma caneca de novo ou devolver e recuperar o dinheiro do depósito.
A bebida de vinho tinto mais popular do mercado de Natal ganhou várias versões. Dá para matar a saudade da Itália tomando uma versão quente do Aperol ou, para variar, tomar um vinho quente branco (Weißer Glühwein). E para quem quiser provar um sabor mais doce, há a versão do vinho quente com cereja (Kirschglühwein).
Para quem não se preocupa com o dia de amanhã, vale a versão com Amaretto ou o Feuerzangenbowle (Glühwein com rum). Outra bebida alcoólica que também faz sucesso é o Eierpunsch (ponche de ovos, com licor de ovos, vinho branco e especiarias). As crianças não ficam de fora da tradição das canequinhas. Elas podem tomar o Kinderpunsch, ponche de maçãs e limão sem álcool.
Para acompanhar as bebidas, não faltam opções. Incontáveis tipos de salsichas, como Bratwurst e Krakauer, champignons cozidos, queijo raclette no pão e Flammkuchen, a pizza tradicional da Alsácia que é popular no oeste da Alemanha, são apenas algumas das delícias.
Na coluna Alemanices, publicada às sextas-feiras, Karina Gomes escreve crônicas sobre os hábitos alemães, com os quais ainda tenta se acostumar. A repórter da DW Brasil e DW África é mestre em direitos humanos e tem prêmios jornalísticos na área.
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Dez tradições de Natal na Alemanha e sua origem
De onde vêm a Coroa e o Calendário do Advento? E desde quando existem mercados de Natal? Conheça alguns costumes alemães relacionados às festas natalinas.
Foto: picture alliance/Panama Pictures
Coroa do Advento
Ela tem quatro velas, sendo que cada uma deve ser acesa sucessivamente em um dos domingos do Advento. Originalmente, a coroa era feita de madeira e tinha 24 velas. Seu inventor foi Johann Hinrich Wichern, um teólogo evangélico e educador, em 1839. O objeto era usado para a contagem regressiva para o Natal.
Foto: picture-alliance/PIXSELL/N. Pavletic
Mercado de Natal
Já no final da Idade Média, as pessoas se juntavam nas feiras natalinas no período que antecedia o Natal. Naquela época o foco não era o vinho quente, mas sim obter suprimentos para a estação mais fria do ano. Mais tarde, artesãos, fabricantes de brinquedos e vendedores de doces começaram a oferecer seus produtos no local. Hoje há mercados de Natal em todo o mundo.
Foto: picture-alliance/dpa/W. Thieme
Quando neva, é uma festa!
No século 19, houve uma mudança de percepção sobre o inverno: ele passou a não ser mais visto como uma estação dura e difícil e, assim, ganhou um ar um pouco mais alegre e até mesmo romântico. Isso mudou também os bonecos de neve: no passado, eram representados como sombrios e ameaçadores, enquanto hoje têm uma expressão mais amigável.
Foto: Bernd Thissen/dpa/picture alliance
Árvore de Natal
Protetora, a árvore de Natal mantinha seus galhos sobre as ofertas do Menino Jesus. Inicialmente, era um privilégio dos mais ricos. Foi somente a partir do século 19, quando foram criadas mais florestas de pinheiros e abetos, que mais famílias passaram a ter acesso à árvore. Mais tarde, o costume se espalhou da Alemanha para todo o mundo.
Foto: Jens Kalaene/dpa/picture alliance
A tradição do Menino Jesus
Na Idade Média, as crianças ganhavam presentes de São Nicolau no dia 6 de dezembro. No entanto, os protestantes não gostavam dessa veneração ao santo católico. E, assim, o reformador Martinho Lutero fez com que a troca de presentes fosse transferida para 24 de dezembro. A partir de então, o Menino Jesus passou a trazer os presentes. O "Christkind" (Menino Jesus) é representado por um anjo.
Foto: Ulrich Hufnagel/dpa/picture alliance
Presentes, "ofertas de Deus"
Todas as crianças esperam impacientemente pelo momento da troca de presentes na véspera de Natal. Aliás, o termo que representa esse ato ("Bescherung") vem da palavra do alto alemão médio "beschern", que se traduz como "distribuição de Deus". Ou seja, os presentes de Natal eram vistos como "ofertas de Deus", assim como ofertas de Cristo ou do Menino Jesus.
Foto: Frank Hoermann/SVEN SIMON/picture alliance
Contemplação noturna
Todos os anos, a tradicional Missa da Noite de Natal ("Christmette"), realizada à meia-noite da véspera de Natal, atrai pessoas à igreja que não costumam ir com frequência ao local. A palavra "Mette" vem do latim e significa matutino. Até o século 18, a missa acontecia nas primeiras horas do dia 25 de dezembro. A cerimônia em si, porém, não mudou praticamente nada.
Foto: picture alliance / Bildagentur Huber
Encenação do Presépio
Há séculos, atores amadores encenam a história de Natal. No passado, a encenação incluía passagens adicionais da Bíblia como, por exemplo, a expulsão de Adão e Eva do paraíso. Ao longo do tempo, o espetáculo se concentrou mais na história do nascimento de Jesus – a atual "encenação do Presépio".
Foto: picture-alliance/dpa/H. Schmidt
Ceia com salsichas e salada de batatas
A origem desta tradição de Natal está no fato de que na Alemanha o Natal costumava ser celebrado em grande estilo apenas no dia 25, por causa de um período de jejum de meados de novembro até o dia de Natal para lembrar a pobreza de Maria e José. Outra razão para uma refeição rápida e barata na noite de Natal é que muitos trabalham e ainda estão ocupados com os preparativos natalinos no dia 24.
Foto: Shotshop/wsf-sh/picture alliance
As bolachas de Natal
O que não pode faltar nesta época do ano são as bolachinhas natalinas. Ocupação ideal para os dias frios e chuvosos, são também o acompanhamento ideal para uma xícara de chá ou café.
Foto: Fotolia/by-studio
Noites "ásperas" depois da Festa
Os 12 dias entre Natal e Dia de Reis, comemorado em 6 de janeiro, são normalmente ásperos ("rau", em alemão), e, por isso, usa-se o termo "Rauhnächte" para o período? Não, "rau" vem do alto alemão médio. Significa "peludo" e se refere aos demônios revestidos por uma pelagem que, segundo crenças populares, perambulavam nessas noites. Para afastá-los, as pessoas deveriam acender incensos.