Os "Schrebergärten" – jardins urbanos alemães – são muitas vezes confundidos com favelas por estrangeiros, mas são espaços de lazer superdisputados na Alemanha. Terrenos públicos são arrendados à população.
Schrebergarten – jardim urbano – em LeipzigFoto: picture-alliance/dpa/H. Schmidt
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A primeira impressão do olhar estrangeiro sobre as pequenas casinhas amontoadas à beira das ferrovias ou no meio das cidades é de que são "favelas ao estilo alemão".
Os barraquinhos de madeira enfileirados e separados por cercas são, na verdade, parte dos disputados jardins urbanos da Alemanha – os Schrebergärten.
Os terrenos públicos cedidos a mais de 15 mil associações que coordenam o aluguel e a utilização dos espaços servem para o cultivo de legumes, verduras e flores. Ou ainda para aproveitar as noites quentes do verão depois do trabalho ou fazer um churrasco no fim de semana.
É uma opção econômica para quem mora em apartamentos e não tem um espaço de lazer ao ar livre. Os "puxadinhos" nas grandes e pequenas cidades da Alemanha já foram considerados caretas, mas se tornam cada vez mais populares entre as famílias jovens alemãs.
A colunista Karina Gomes vive na Alemanha desde 2013Foto: privat
Os mais de um milhão de Schrebergärten na Alemanha cobrem uma área de quase 50 mil hectares e são disputadíssimos. Há longas filas de espera para conseguir alugar um pequeno lote. Os preços variam de acordo com a região e instalações próximas, como piscinas públicas ou espaços de diversões para crianças.
O arrendamento dos lotes é, geralmente, por tempo indeterminado e pago anualmente à associação que gere a área, mas os cerca de 5 milhões de locatários precisam cumprir as regras de organização e limpeza. As cercas vivas precisam ser aparadas de forma impecável, o gramado bem cortado, e os caminhos de passagem sempre limpos para que os vizinhos não reclamem.
Tem até quem comemore a festa de casamento nos pequenos jardins, idealizados há 200 anos. A primeira colônia de jardins urbanos foi estabelecida em 1814 por um pastor na cidade de Kappeln, no extremo-norte da Alemanha.
Já o nome "Schrebergarten" é uma alusão ao médico Daniel Schreber, de Leipzig, que incentivou a criação de espaços verdes de lazer para que crianças pudessem ficar mais perto da natureza e serem mais saudáveis.
Esses jardins também estão presentes na Áustria, Suíça e outros países na Europa Central e Escandinávia. As casinhas de cada lote não podem servir como moradia, e os produtos cultivados não podem ser vendidos. Os locatários também precisam respeitar leis ambientais.
O movimento kleingärten (pequenos jardins, em alemão) inovou a ecologia urbana e o paisagismo das cidades alemãs, com espaços públicos voltados ao cultivo sustentável e ao lazer. Com a primavera e a chegada do verão, quem tem um Schrebergarten volta a enfeitar os jardins e colocar as cadeiras do lado de fora para aproveitar o sol. São pulmões verdes em meio ao asfalto.
Na coluna Alemanices, publicada às sextas-feiras, Karina Gomes escreve crônicas sobre os hábitos alemães, com os quais ainda tenta se acostumar. A repórter da DW Brasil e DW África tem prêmios jornalísticos em direitos humanos e sustentabilidade e vive há três anos na Alemanha.
O alemão e seu jardim
O jardim é um assunto muito sério na Alemanha. Por isso, o tema reúne uma série de peculiaridades que espelham valores tipicamente alemães.
Foto: picture alliance / Rzepka
"Gemütlichkeit", o aconchego em casa
Em toda a Alemanha, da primavera ao final do outono, terraços e jardins são enfeitados com flores e plantas. O verão é curto no país, por isso o tempo de aproveitar o jardim é vivido intensamente. Seja no começo da primavera, ou na chegada do outono, há rituais que são seguidos à risca para ter um jardim colorido no verão e protegido no inverno.
Foto: picture-alliance/dpa
E o turista pergunta: "É uma favela?"
Em geral, estes pequenos jardins e hortas alugados não são habitados e estão organizados em associações. Para regulamentá-los, há uma legislação nacional (Bundeskleingartengesetz). Estas áreas plantadas servem de compensação verde no espaço urbano. A ideia iniciou no fim do século 18 para combater fome e miséria. Eles foram muito importantes também após a 2ª Guerra, para a produção de alimentos.
Foto: picture-alliance/dpa/H. Schmidt
Valorização do espaço
Se tornou comum famílias que moram em apartamento alugar um pequeno pedaço de terra de agricultores que têm propriedades próximas a áreas urbanas. O tamanho pode ser, por exemplo, 4 x 4 metros. O contrato vale por alguns meses. É interessante especialmente para crianças, que podem cultivar flores e legumes.
Foto: picture-alliance/ZB/P. Pleul
Horários definidos
O barulho do cortador de grama pode ser um fator de conflito entre vizinhos, portanto, quem não tem uma máquina silenciosa e quer evitar confusão, só corta a grama das 9 às 13 e das 15 às 17 horas. Aos domingos e feriados, esse trabalho é tabu. Ou se adquire um robô, como o da foto, que corta a grama sozinho e é silencioso.
Foto: picture alliance/NurPhoto/J. Arriens
Respeito à privacidade
Quando se quer fazer uma festa no terraço ou no jardim, o melhor é logo convidar os vizinhos. Só assim eles não se sentirão incomodados pela fumaça ou chamarão a polícia por causa do barulho. É bom conferir o contrato de aluguel, pois fazer churrasco pode ser proibido. E quanto ao horário de silêncio, ele vale das 22 às 6 horas. Fazer festa pode, mas desde que não incomode os outros.
Foto: Elke Dubois/TZS
A distância da cerca
Antes de plantar árvores e arbustos, é preciso se certificar sobre as regulamentações estaduais quanto à distância a respeitar até a divisa com o vizinho. Isso para que, após alguns anos, a sombra ou os galhos não o incomodem. E atenção: não se pode cortar galhos nem colher frutos sem a permissão do proprietário, mesmo que tenham invadido o terreno da gente.
Foto: Mehdi Haeri
Um produto para cada coisa
Basta querer (e poder) gastar, que as opções nas lojas especializadas são variadas. Não só pelas plantas em si, também há terra e adubo para cada variedade de planta, móveis, ferramentas especiais para todo tipo de trabalho e métodos dos mais variados contra pragas, sejam químicos ou mesmo uma fita cheia de cola para colocar em volta do caule ou tronco e assim evitar formigas.
Foto: picture-alliance/dpa/BUGA 2015/T. Uhlemann
Aproveitamento da chuva e reciclagem do lixo
O recolhimento da água da chuva é comum. E também o lixo, que vai para o tonel de produtos orgânicos, recolhido semanalmente. Ali podem-se descartar não só a grama cortada, mas também galhos de árvores e ervas.
Foto: picture-alliance/dpa/K.D Gabbert
Inspiração não falta
Não só as lojas de plantas oferecem inspiração e mostram novidades. A proximidade com a Holanda – um indiscutível centro de produção de flores – e as exposições estaduais e nacionais de jardinagem e paisagismo também servem de estímulo.
Foto: DW
Anão de jardim, um clichê?
Muitos consideram o anão de jardim uma coisa ultrapassada, mesmo assim ele é considerado cult por muita gente. Hoje em dia, ele está à venda em diferentes materiais e nas mais variadas cores e posições.