Altas temperaturas, essências e nudez são os componentes básicos da sauna alemã, onde entram homens e mulheres. E tudo é levado na maior naturalidade. Karina Gomes conta na coluna.
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Ele é a única pessoa parcialmente vestida no grande salão. Em volta da figura carismática, que usa apenas uma toalhinha de xadrez amarrada na cintura, há 30 pessoas nuas.
Com uma concha, ele joga a essência de flor de laranja sobre as pedras ferventes dispostas no centro da sauna. O cheiro refrescante da infusão fica ainda mais intenso quando ele levanta os braços e começa a girar uma toalha na direção dos frequentadores. O calor é quase insuportável, o suor escorre por todo o corpo. O termômetro já atinge os 90 graus.
O Saunameister (mestre da sauna, em alemão) pede para todos saírem. É hora de ir à área dos chuveiros ao ar livre para tomar um banho bem gelado e depois espalhar sal grosso pelo corpo. Todos fazem fila e esperam pacientes (e nus), mesmo com o frio de 10 graus do lado de fora.
No jardim, alguns caminham com tudo à mostra, outros usam roupões. Alguns nadam na piscina, enquanto muitos se encostam em poltronas para ler um livro ou almoçam no restaurante.
Na hora de entrar na sauna, os chinelos e os roupões não passam da entrada. Só é permitido levar uma toalha, sobre a qual você irá se sentar. E por que roupas de banho são proibidas? A justificativa é a higiene: as altas temperaturas podem gerar fungos e bactérias, e os tecidos sintéticos dificultam a transpiração.
Para entrar na banheira de hidromassagem, a nudez também é obrigatória. Um casal se acomoda sorridente e até puxa conversa. Estar nu não intimida os que querem socializar. Afinal, aqui, tudo é levado na mais pura naturalidade.
As sessões de infusão simultâneas nos vários salões continuam. Neste complexo de saunas em Rheinbach, no nordeste da Alemanha, você pode optar por infusões de anis, bétula ou limão siciliano. Na sauna seca, dá até para pisar sobre galhos de eucalipto. As salas de banho turco (saunas a vapor) têm temperaturas mais amenas, são menores e mais úmidas. E também trazem essências diversas, como a de lavanda.
Cerca de 15 milhões de pessoas frequentam as cerca de 10 mil saunas da Alemanha, de acordo com a Associação Alemã da Sauna, principalmente para aproveitar os benefícios à saúde. A entidade também oferece cursos para a formação de Saunameister. No país da Freikörperkultur (FKK), cultura do corpo livre, em português, nem todos são fãs da prática. Alguns alemães criticam o ambiente como exibicionista ou voyeurista.
Para o Saunameister, pouco importa, o trabalho é feito com maestria. O especialista da sauna traz um balde cheio de mel. "Vocês podem espalhar por todo o corpo. Combina muito bem com a essência de melão", explica.
Na coluna Alemanices, publicada às sextas-feiras, Karina Gomes escreve crônicas sobre os hábitos alemães, com os quais ainda tenta se acostumar. A repórter da DW Brasil e DW África tem prêmios jornalísticos em direitos humanos e sustentabilidade e vive há três anos na Alemanha.
Palavras alemãs no cotidiano brasileiro
O idioma alemão está mais presente no nosso dia a dia do que se imagina. Além de termos como blitz, kitsch ou diesel, outras palavras, como encrenca, chique e até mesmo o nome da Torre Eiffel, têm origem germânica.
Foto: Picture-alliance/dpa/M. Becker
Química e guerra
Boa parte das palavras alemãs presentes no nosso cotidiano está ligada ao setor militar ou a elementos químicos, fato explicado pela autoridade que a Alemanha, durante muito tempo, exerceu nessas áreas. O que nem todos sabem é que na língua portuguesa, como também em outros idiomas, palavras que nada têm a ver com química ou guerra e que não soam alemãs também têm origem germânica.
Foto: Colourbox
Torre Eiffel
A família de Alexandre Gustave Eiffel, engenheiro que deu nome à celebre construção parisiense, veio de uma área montanhosa no oeste alemão chamada Eifel. Na verdade, seu sobrenome era Bönickhausen, algo impronunciável para muitos franceses. A família adicionou, então, o nome da região de origem e passou a se chamar Bönickhausen Eiffel. E o engenheiro entrou para a história com o novo sobrenome.
Foto: picture-alliance/epa/J. Rodriguez
O que é isto?
Numa competição de migração de palavras organizada pelo Conselho da Língua Alemã (Deutscher Sprachrat), pessoas de 70 países sugeriram termos germânicos que "viajaram" para outros idiomas. Das seis mil palavras apresentadas, a mais recorrente foi "vasistas", termo francês para janela basculante ou claraboia. A palavra vem do alemão "was ist das?" – literalmente, "o que é isto?".
Foto: picture-alliance/dpa
Encrenca
Nem todos sabem que a palavra "encrenca" tem origem alemã. Quando achavam que um cliente tinha uma doença venérea, as prostitutas que chegaram ao Brasil no final do século 19 e que falavam iídiche, um dialeto alemão da Europa Central, falavam "ein krenke" ("krank" significa doente em alemão). Assim nascia o termo "encrenca", usado hoje no português do Brasil para designar uma situação difícil.
Foto: Colourbox/A. Furman
Níquel e cobalto
Níquel e Cobalto, do alemão Nickel e Kobalt, eram gnomos que habitavam, na crença dos mineiros da Idade Média, as montanhas alemãs. Os trabalhadores medievais acreditavam que espíritos maus ("Kobold" em alemão) eram responsáveis pela presença de níquel e cobalto, considerados impurezas, na prata, no ferro e no cobre.
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Chope não é cerveja
O chope de cada dia não tem a ver, na sua etimologia, com a palavra cerveja. Trata-se de uma unidade de medida originada do alemão "Schoppen", equivalente a cerca de meio litro. O termo foi integrado ao português através do francês, depois que a corte portuguesa, fugindo de Napoleão, chegou ao Rio de Janeiro, no início do século 19.
Foto: volff/Fotolia
Schick, chic e chique
Já a palavra chique, considerada por muitos um patrimônio da língua francesa, é na verdade um termo alemão que chegou ao português através do francês. Muito antes de os costureiros franceses arrasarem nas passarelas, os alemães usavam expressões como "schicklich" ou "sich schickt" para designar apropriado ou bem arrumado. No alemão medieval, a palavra "schick" significa forma, costume.
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Fanta
Devido à escassez de matéria-prima, a Coca-Cola da Alemanha foi impedida de produzir seu principal produto durante a Segunda Guerra. Para garantir a própria subsistência, a companhia desenvolveu um novo refrigerante, que na época era feito à base de soro de leite. Um concurso entre os empregados da empresa resultou no nome "Fanta", pois a nova bebida era fantástica – em alemão, "fantastisch".
Foto: imago/Steinach
Bulevar
Quando Luís 14 derrubou as muralhas de Paris, que se tornaram obsoletas para fins de defesa, mandou fazer um anel viário ou bulevar ao redor da cidade. A origem do nome dos antigos baluartes vem do alemão "Bollwerk" – literalmente, paliçada, barreira. "Boulevard" era a forma como os franceses pronunciavam "Bollwerk", termo que acabou dando nome às largas avenidas que substituíram as fortificações.
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Blitz, hamster e kombi
Há muitas outras palavras de origem alemã, como blitz, de "Blitz" (raio); Kombi, de "Kombinationsfahrzeug" (veículo combinado) ou hamster, de "hamstern" (juntar), devido às bochechas dos roedores que acumulam alimentos. Já o termo gás, que muitos creem ser de origem germânica, vem do holandês. A palavra foi cunhada pelo químico flamengo Jan Baptista van Helmont, a partir do termo grego "caos".