Aleppo é alvo de bombardeio mais intenso dos últimos meses
22 de setembro de 2016
Ataques aéreos atingiram bairros controlados por rebeldes, segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos. ONU retoma ajuda humanitária, suspensa após comboio ser bombardeado.
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Ataques aéreos intensos atingiram a região da cidade de Aleppo, na Síria, nesta quinta-feira (22/09), apesar do apelo do secretário de Estado americano, John Kerry, para que a Rússia e o regime de Bashar al-Assad deixassem de sobrevoar zonas de conflito.
De acordo com Rami Abdulrahman, diretor do Observatório Sírio de Direitos Humanos, os bairros rebeldes de Bustan al-Qasr e Al-Kalasseh foram alvos de 14 ataques. A ONG, baseada em Londres, afirmou que este foi o bombardeio mais intenso dos últimos meses no interior de Aleppo.
Também foram bombardeados os distritos rebeldes de Kelasa, Ameria, Aleppo Antigo, Salehin, Sukari e Ansari, no leste, assim como a periferia meridional da cidade.
Os ataques aéreos em Bustan al Qasr deixaram ao menos sete civis mortos, incluindo mulheres e crianças, acrescentou o Observatório. Segundo o correspondente da agência de notícias AFP, havia ruas inteiras em chamas na vizinhança.
Rebeldes e equipes de resgate disseram que bombas incendiárias caíram como chuva do céu. Uma fonte ouvida pela agência de notícias Reuters afirmou que ao menos 45 pessoas morreram nos ataques.
"É como se os aviões tentassem compensar todos os dias em que não jogaram bombas [durante o cessar-fogo]", afirmou Ammar al-Selmo, diretor do grupo de resgate Defesa Civil na região controlada pelos rebeldes.
Nem o Exército sírio nem veículos de comunicação estatais do país se manifestaram sobre o bombardeio.
Ajuda humanitária
Depois de uma pausa de 48 horas, a ONU anunciou nesta quinta-feira que retomaria a distribuição de ajuda humanitária na Síria. Esta havia sido suspensa após o ataque a um comboio das Nações Unidas e do Crescente Vermelho que levava auxílio para uma região próxima a Aleppo, na segunda-feira. Vinte pessoas morreram e 18 dos 31 caminhões da missão foram destruídos.
"Enviamos hoje um comboio de ajuda humanitária que irá cruzar áreas de conflito até uma zona sitiada na periferia rural de Damasco", detalhou o porta-voz do Departamento de Coordenação de Questões Humanitárias (OCHA) da ONU, Jens Laerke.
A ONU estima que cerca de 600 mil pessoas estejam nas 18 regiões sitiadas do país e necessitem de ajuda humanitária.
CN/rtr/efe/lusa/afp
A guerra civil na Síria antes do EI
O "Estado Islâmico" inflamou o debate sobre como pôr fim à guerra civil síria. Contudo o grupo só emergiu mais tarde no conflito. Confira alguns momentos dessa guerra que abriram espaço para o avanço dos jihadistas.
Foto: AP
Março de 2011
Enquanto regimes ruem por todo o Oriente Médio, dezenas de milhares de sírios vão às ruas para protestar contra a corrupção, o desemprego elevado e a alta dos preços dos alimentos. O governo da Síria responde com armas de fogo. Até maio, cerca de 400 vidas são ceifadas.
Foto: dapd
Maio de 2011
Sob insistência dos países ocidentais, o Conselho de Segurança da ONU condena a repressão violenta. Nos meses seguintes, os Estados Unidos e a União Europeia impõem embargo de armas, recusa de vistos e congelamento de bens. Com apoio da Liga Árabe, aumenta a pressão para a saída do presidente sírio Bashar al-Assad – embora sem o aval de todos os países-membros da ONU.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Szenes
Agosto de 2011
Em 1970 um golpe pusera Hafez al-Assad no poder. Após sua morte, em 2000, o filho Bashar (à dir.) assume a liderança. De início tido como reformista, ele perde apoio ao manter o estado de emergência que há décadas restringe as liberdades políticas, permitindo vigilância e interrogatórios. Assad tem respaldo da Rússia, que lhe fornece armas e repetidamente veta as resoluções da ONU sobre a Síria.
Foto: picture-alliance/dpa/Stringer/Ap/Pool
Dezembro de 2011
A ONU e outras organizações têm provas de violação dos direitos humanos na Síria. Civis e militares desertores começam a se organizar lentamente para combater as forças do governo, que vêm atacando os dissidentes. Até o fim de 2011, essa luta causa mais de 5 mil mortes. Mesmo assim, ainda transcorrem seis meses até a ONU reconhecer que o país está em guerra.
Foto: Reuters/Goran Tomasevic
Setembro de 2012
O Irã finalmente confirma que tem combatentes em solo sírio, fato que Damasco negava há tempos. A presença de tropas aliadas acentua a hesitação dos Estados Unidos e de outras potências ocidentais em intervir no conflito. Os EUA, marcados pelas intervenções fracassadas no Afeganistão e no Iraque, propõem o diálogo como única solução sensata.
Foto: AP
Março de 2013
As mortes beiram 100 mil, e o total de refugiados em países vizinhos como a Turquia e a Jordânia atinge 1 milhão – número que duplicaria até setembro. Em dois anos de guerra, o Ocidente e a Liga Árabe veem fracassar todas as tentativas de um governo de transição, enquanto o conflito transborda para a Turquia e o Líbano. O pior temor é de que Assad se mantenha no poder a todo custo.
Foto: Reuters/B. Khabieh
Abril de 2013
Há muito Assad alega estar combatendo terroristas. Mas só no segundo ano de guerra se confirma que o Exército Livre Sírio inclui extremistas radicais. O grupo Frente al-Nusra declara apoio à Al Qaeda, fragmentando ainda mais a oposição.
Foto: Reuters/A. Abdullah
Junho de 2013
A Casa Branca afirma ter provas de que Assad está atacando civis com o gás tóxico sarin. Mais tarde a informação é corroborada pela ONU. A partir da revelação, o presidente dos EUA, Barack Obama, e outros líderes ocidentais passam a considerar uma intervenção militar. No entanto a proposta da Rússia para que se retirem as armas químicas da Síria acaba por se impor.
Foto: Reuters
Janeiro de 2014
Ao fim de 2013 surgem relatos sobre um novo grupo autodenominado Estado Islâmico do Iraque e do Levante – o futuro EI. Ao tomar terras no norte da Síria e também no Iraque, os jihadistas despertam lutas internas na oposição, causando 500 mortes até o início de janeiro. Esse terceiro e inesperado fator levaria os EUA, França, Arábia Saudita e outras nações à intervir na guerra em meados do ano.