Alerta de desmatamento na Amazônia Legal tem recorde em maio
5 de junho de 2021
Segundo dados do Inpe, alertas abrangem área de 1.180 quilômetros quadrados, maior número para o mês de maio desde o começo da série histórica, em 2016.
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Os alertas de desmatamento na Amazônia Legal atingiram um novo recorde em maio, com um aumento de 41% em comparação com o mesmo período do ano passado. Em apenas 28 dias, os alertas abrangem uma área de 1.180 quilômetros quadrados, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) divulgados nesta sexta-feira (04/06) - o equivalente ao território de Hong Kong. Os dados dos últimos três dias do mês ainda não foram contabilizados.
Trata-se da maior área desde o início da série histórica, em 2016, e a primeira vez que o número ultrapassa 1.000 quilômetros quadrados para esse mês, de acordo com o Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter), do Inpe.
É o terceiro mês consecutivo que o desmatamento da Floresta Amazônica atinge o pico. Em março, o Deter registrou perda de 367 quilômetros quadrados, o equivalente a 12,5% a mais em relação ao mesmo período do ano passado. Em abril, a área foi de mais de 580 metros quadrados, o pior índice da série história para o mês.
No entanto, de acordo com o Observatório do Clima, rede de organizações não-governamentais (ONG) de defesa do meio ambiente, os números de maio são "particularmente preocupantes" porque o mês marca "o início da estação seca, quando a devastação se intensifica em grande parte da região amazônica".
Além disso, também segundo dados do Inpe, o número de queimadas em maio foi o maior desde 2007 na Amazônia.
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Críticas à política ambiental de Bolsonaro
Os números colocam em xeque a afirmação do presidente Jair Bolsonaro, em abril, perante a comunidade internacional na Cúpula dos Líderes sobre o Clima, organizada pelos EUA, de que o Brasil vai eliminar o desmatamento ilegal no país até 2030.
Na ocasião, o discurso foi recebido com críticas e desconfiança por grupos ambientalistas nacionais e internacionais. As entidades acusaram Bolsonaro de não ter apresentado medidas concretas para proteger a Floresta Amazônica.
A política ambiental de Bolsonaro é apontada por ambientalistas como principal responsável pelo aumento do desmatamento da Amazônia, que bateu vários recordes nos últimos dois anos, derreteu a imagem do país no exterior e é alvo constante de críticas internacionais.
Na quarta-feira, a ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal, autorizou a abertura de inquérito para investigar se o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, cometeu crimes relacionados à maior apreensão de carga de madeira ilegal da história na Amazônia, ocorrida em dezembro de 2020.
le (afp, ots)
Explorar sem destruir a Amazônia
Comunidades ribeirinhas dão exemplo de sustentabilidade ao colherem frutos na mata e extraírem óleo para a indústria de cosméticos. Projeto engloba toda a cadeia de produção, da coleta e beneficiamento até o transporte.
Foto: Bruno Kelly
Conservação e uso sustentável
A Reserva Extrativista Médio Juruá foi oficialmente criada em 4 de março de 1997. Com 28,7 mil quilômetros quadrados, a reserva ocupa um terço do município de Carauari, Amazonas. A unidade de conservação só pode ser utilizada por populações extrativistas tradicionais. São permitidos a agricultura de subsistência e o uso sustentável dos recursos naturais.
Foto: Bruno Kelly
Luta pela liberdade
No passado, a região foi um importante centro fornecedor de látex, matéria-prima da borracha. Na mãos dos patrões (os autoproclamados donos das terras), seringueiros trabalhavam em condição análoga à escravidão. Raimundo Pinto de Sousa, 68 anos, é um dos líderes pioneiros que, inspirados por Chico Mendes, buscaram a liberdade e criaram a Resex.
Foto: DW/B. Kelly
Floresta como fornecedora
Cerca de 2 mil moradores moram nas 14 comunidades da Resex Médio Juruá. A maioria trabalha coletando sementes de andiroba e murumuru na floresta. De março a junho, é possível coletar até 70 quilos de murumuru por dia por pessoa. A família de Eulinda (de amarelo) é campeã na comunidade de Nova União.
Foto: Bruno Kelly
Logística na floresta
A compra das sementes é feita pela Cooperativa de Desenvolvimento Agro-Extrativista e de Energia do Médio Juruá, formada pelos coletores. Um barco visita as comunidades para recolher toda a produção, que é transportada por moradores até a usina de processamento. É preciso vencer várias dificuldades dentro das trilhas pela floresta para fazer o transporte.
Foto: Bruno Kelly
Da semente ao óleo
As sementes de andiroba e murumuru são processadas na usina que fica na comunidade do Roque, a maior da Resex. Depois de passar por um processo de secagem, as sementes são prensadas até que o óleo escorra pela máquina. A unidade está de mudança para um novo galpão, construído com recursos do Fundo Amazônia.
Foto: Bruno Kelly
Do Juruá para o mundo
O óleo de andiroba e manteiga de murumuru produzidos são armazenados em baldes apropriados. Até chegar ao ponto de escoamento, as embalagens são transportadas, novamente, pela floresta por moradores. Depois de processadas, as sementes coletadas pelos extrativistas se transformam em produtos de beleza na indústria de cosmético.
Foto: Bruno Kelly
Proteção de tartarugas
Antes de a Resex existir, Francisco Mendes da Silva, 63 anos, era madeireiro e contra a criação da reserva. Mas mudou de ideia e, há 18 anos, atua como monitor numa das praias de conservação do Juruá, chamadas de tabuleiro. No Manariã, cerca de 60 mil filhotes são liberados para a natureza por ano, segundo Silva, que ensina o ofício ao filho, João Pedro, de 16 anos.
Foto: Bruno Kelly
Agricultura de subsistência
Em todas as comunidades da Resex Médio Juruá, a mandioca é um alimento cultivado importante. A produção de farinha costuma reunir famílias e divertir as crianças, que acompanham os pais quando não estão na escola. O excedente é armazenado na cantina de economia solidária das comunidades e vendido na cidade.
Foto: Bruno Kelly
Acesso ao conhecimento
Cercados pela Floresta Amazônica, 43 estudantes de diversas comunidades do entorno frequentam o primeiro curso de ensino superior oferecido na região, de Pedagogia. O projeto experimental, que tem base na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Uacari, é uma parceria entre diversas instituições e contou com recursos da Capes.
Foto: Bruno Kelly
Rio Juruá
Com nascente na Serra da Contamana, no Peru, a 453 metros de altitude, o rio Juruá corta o estado do Acre e deságua no rio Solimões, Amazonas. É considerado um dos mais sinuosos do mundo, com mais de 3 mil quilômetros de extensão. A variação do nível do Juruá chega a 12 metros entre a época da cheia, de dezembro a julho, e a seca.