Economista Anatoly Chubais, arquiteto das reformas econômicas pós-soviéticas da Rússia, é o primeiro político de alta posição a deixar o governo russo devido à guerra na Ucrânia.
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Anatoly Chubais, o arquiteto das reformas econômicas pós-soviéticas da Rússia, rompeu com o Kremlin e deixou o país, informou nesta quarta-feira (23/03) a agência de notícias Reuters. Trata-se da primeira autoridade de mais alta posição a deixar o governo russo em razão do conflito na Ucrânia.
Uma fonte próxima a Chubais disse à agência de notícias estatal TASS que o homem de 66 anos, que por vezes criticou as ações do presidente russo, Vladimir Putin, deixou o país – informação que não foi confirmada pelo Kremlin.
"Chubais renunciou de acordo com seu próprio desejo. Mas se ele saiu ou não [do país], isso é assunto pessoal dele", disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, à agência de notícias estatal RIA Novosti. Peskov não explicou os motivos da renúncia de Chubais, e o político não fez uma declaração pública.
Chubais é economista e atuou como chefe de gabinete do ex-presidente Boris Yeltsin, o primeiro a governar a Rússia após a dissolução da União Soviética.
Ele supervisionou as reformas liberais de livre mercado na década de 1990, após a queda da União Soviética, incluindo uma iniciativa de privatização, motivo pelo qual permaneceu altamente impopular na Rússia.
Muitos russos o culpam por permitir que um pequeno grupo de magnatas, chamados de oligarcas, enriquecesse às custas das privatizações, enquanto milhões de russos padeciam na pobreza, em meio ao colapso e à crise econômica. Ao contrário de alguns outros liberais, Chubais continuou trabalhando para o governo durante a era Putin.
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Cargos de prestígio
Chubais liderou um monopólio estatal de energia e, depois, foi presidente do Rusnano, grupo estabelecido pela Rússia para desenvolver a nanotecnologia. Em dezembro de 2020, foi nomeado enviado especial da presidência para organizações internacionais, trabalhando no desenvolvimento sustentável.
Nos últimos anos, continuou a pedir reformas econômicas e foi um dos liberais mais destacados associados ao governo russo. Em 2010, alertou que a ascensão do fascismo era a maior ameaça da Rússia e poderia destruir o país.
Postagens no Facebook
Recentemente, Chubais postou no Facebook uma foto do político de oposição Boris Nemtsov, assassinado do lado de fora dos muros do Kremlin em 2015.
Em 19 de março, postou uma imagem de Yegor Gaidar, um colega reformista liberal que morreu em 2009. "Eu não concordei com ele em nossos argumentos sobre o futuro da Rússia. Mas parece que Gaidar entendeu melhor os riscos estratégicos do que eu – e eu estava errado", escreveu na postagem.
Chubais é casado com a apresentadora de televisão e cineasta Avdotya Smirnova. A agência de notícias RBK informou, citando fontes ligadas a Chubais, que o casal viajou para Istambul.
Sinal positivo
Um interlocutor ocidental disse à Reuters que a renúncia de Chubais devido à invasão russa da Ucrânia é encorajadora, mas é improvável que abale Putin.
Para ele, foi um ato significativo, mas acrescentou que Chubais estava "relativamente no topo da lista" de pessoas que poderiam dar esse passo.
"Acho encorajador que existam membros seniores da classe política russa fazendo essas coisas, mas não me leva a concluir que isso esteja de alguma forma minando a segurança de Putin e seu regime, devido à mão de ferro com que ele mantém aqueles que estão no centro de seu poder", disse o funcionário, sob condição de anonimato.
le (Reuters, AFP)
Sanções do Ocidente atingem círculo íntimo de Putin
Em reação à invasão da Ucrânia, UE, EUA e outros países ocidentais impuseram sanções severas à economia russa e aos associados do presidente Vladimir Putin. Quem são os bilionários atingidos?
Foto: Christian Charisius/dpa/picture alliance
Igor Sechin
Sechin é ex-primeiro-ministro da Rússia e diretor executivo da estatal petroleira Rosneft. No documento da União Europeia relativo às sanções, ele é descrito como "um dos assessores mais próximos e amigo pessoal" de Vladimir Putin. Além disso, apoia a consolidação da anexação ilegal da Crimeia à Rússia, sobretudo com o envolvimento da Rosneft no fornecimento de combustível à península.
Foto: Alexei Nikolsky/Russian Presidential Press and Information Office/TASS/picture alliance
Alisher Usmanov
Nascido no Uzbesquistão, Usmanov é magnata de metais e telecomunicação. A UE o cita como um dos oligarcas favoritos de Putin, tendo pago milhões a um de seus principais assessores, hospedado o presidente russo em sua luxuosa residência pessoal, além de atuar em sua "linha de frente" e "resolver seus problemas de negócios". Os EUA e o Reino Unido também o acrescentaram a suas listas negras.
Foto: Alexei Nikolsky/Kremlin/Sputnik/REUTERS
Mikhail Fridman e Petr Aven
A UE descreveu Fridman (c.) como "importante financiador e facilitador do círculo íntimo de Putin". Ele e seu parceiro de longa data Aven (dir.) lucraram bilhões de dólares com petróleo, transações bancárias e comércio de varejo, segundo a agência de notícias Reuters. A UE acrescenta que Aven é um dos homens de negócios russos ricos que se reúnem regularmente com Putin no Kremlin.
Foto: Mikhail Metzel/ITAR-TASS/imago
Negando conexões com Putin e o Kremlin
Numa coletiva de imprensa após o anúncio pela UE, tanto Fridman quanto Aven (dir.) negaram ter qualquer "relação financeira ou política com o presidente ou o Kremlin" e prometeram combater as punições, supostamente sem base, "com todos os meios à disposição". Nascido no oeste da Ucrânia, Fridman é um dos poucos russos submetidos a sanções que se pronunciou publicamente contra a guerra.
Foto: Alexander Nenenov, Pool/AP/picture alliance
Boris e Igor Rotenberg
A família Rotenberg é notória por seus laços estreitos com Putin. Boris é coproprietário do SMP Bank, associado à petroleira Gazprom. Seu irmão Arkady, já sob sanções da UE e dos EUA, praticava judô com Putin desde adolescente. Igor, filho de Arkady, controla a campanha de perfuração Gazprom Bureniye. Após a invasão russa, Boris e Igor entraram para as listas britânica e americana de sancionados.
Foto: Sergey Dolzhenko/epa/dpa/picture-alliance
Gennady Timchenko
Timchenko é um importante acionista do Rossiya Bank – definido no documento da UE como o banco pessoal das autoridades russas, investindo nas emissoras de televisão que apoiam ativamente as medidas do governo russo para desestabilizar a Ucrânia. Além disso, o Rossiya teria aberto sucursais na Crimeia, apoiando sua anexação ilegal.
Foto: Sergei Karpukhin/AFP/Getty Images
Alexei Mordashov
Mordashov investiu seriamente no National Media Group, o maior holding particular de mídia da Rússia, que apoia as medidas estatais de desestabilização da Ucrânia, afirma a UE. Em comunicado, o bilionário asseverou que não tem "nada a ver com a emergência da atual tensão geopolítica" e definiu essa guerra como uma "tragédia de dois povos fraternos".
Foto: Tass Zhukov/TASS/dpa/picture-alliance
Iates confiscados
As novas sanções incluem o congelamento de bens e restrições a viagens. Desde sua imposição, diversos iates de luxo pertencentes à elite russa foram confiscados na Itália, França e Reino Unido. Entre seus proprietários estão Sechin, Usmanov e Timchenko.