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Alta velocidade e sistema de segurança antigo entre causas de acidente

26 de julho de 2013

Condutor do trem que descarrilou na Galícia admite que estava a 190 km/h, mais do que o dobro do permitido. Especialistas afirmam que ausência de sistema de segurança moderno pode ter sido determinante para a tragédia.

Foto: picture-alliance/dpa

A polícia espanhola mantém sob custódia o condutor Francisco José Garzón, de 52 anos, que estava no comando do trem de alta velocidade que descarrilou nesta quarta-feira (24/07), matando 80 pessoas nas proximidades de Santiago de Compostela. Segundo as autoridades, tudo leva a crer que o trem corria a 190 km/h, mais do que o dobro dos 80 km/h permitidos para fazer a perigosa curva.

O juiz apontado para comandar as investigações sobre o acidente já pediu à polícia que interrogue Garzón, que se encontra hospitalizado, sobre a noite daquela quarta-feira. O juiz também solicitou as caixas pretas do trem, assim como o recolhimento de vários documentos essenciais para o inquérito.

Tanto a companhia ferroviária Renfe quanto a empresa Adif, que administra as estruturas ferroviárias no país, também abriram investigações para descobrir as causas da tragédia.

Segundo a imprensa espanhola, ao chamar o serviço de resgate por telefone, o condutor teria admitido que "deveria estar a 80 km/h, mas estava a 190 km/h". Um passageiro norte-americano contou à agência de notícias AP que o monitor do trem mostrava que ele corria a 194 km/h pouco antes do acidente.

Ao entrar rápido na curva, o condutor acabou perdendo o controle do trem de oito vagões, com 247 pessoas a bordo, que se chocou contra um muro. Partes do veículo capotaram e foram parar numa rua próxima, que fica cinco metros acima do local do acidente.

Vídeo mostra que trem entrou rápido demais na curva, por isso descarrilouFoto: picture-alliance/dpa

Investigadores tentam descobrir se houve falha do condutor, que tem mais de dez anos de experiência no comando de trens, ou do sistema de alerta e regulação de alta velocidade. Segundo especialistas, uma dessas falhas, ou mesmo as duas combinadas, é a explicação mais provável da tragédia.

Sistema de segurança defasado

Um vídeo gravado pelas câmaras de vigilância do local mostra claramente que o trem entrou muito rápido na curva. Logo depois os vagões, e não a locomotiva, saem antes dos trilhos.

O porta-voz dos maquinistas da confederação sindical Comisiones Obreras, Manuel Nicolás, diz que não se deve tirar conclusões precipitadas. Segundo ele, mesmo que o condutor tenha confessado estar em alta velocidade, isso não implica reconhecimento de culpa. Os sistemas de seguranças excluem a possibilidade de que apenas uma falha possa causar uma tragédia dessa dimensão, argumenta. Apenas as caixas pretas poderão fornecer mais informações para as investigações, conclui.

Nicolás ressalta ainda que o trem que descarrilou contava com um sistema de segurança ultramoderno, mas este não estava instalado nos trilhos da curva onde aconteceu o acidente, apesar de os trens precisarem reduzir drasticamente a velocidade no local.

Transponder do ERTMS: sistema não estava instalado no local do acidenteFoto: cc/by-sa-Halász István

O Sistema Europeu de Gestão do Tráfego Ferroviário (ERTMS, sigla em inglês) poderia acionar o freio automaticamente, ressalta Nicolás. No entanto, o sistema de controle instalado nos trilhos deste local é antigo e pode apenas emitir sinais de alerta, como confirmaram dois especialistas ouvidos pela agência de notícias Reuters.

O uso do ERTMS em toda a malha ferroviária europeia foi determinado em 2005 pela Comissão Europeia, com prazo de 12 anos para a instalação.

Segundo a empresa Adif, que controla a malha ferroviária espanhola, 1.786 quilômetros de trilhos na Espanha são controlados pelo ERTMS, mais do que em qualquer outro país europeu. A empresa não quis se pronunciar, porém, sobre a ausência do sistema exatamente no ponto em que ocorreu o acidente.

Este é o terceiro pior acidente de trem da história da Espanha. Em 1944, mais de cem pessoas morreram após um trem de passageiros ter colidido contra um túnel em León. Na época, o regime de Franco tentou ocultar informações sobre o acidente e confirmou apenas 78 mortes. Já em 1972, 86 pessoas morreram no trajeto Sevilla-Cádiz.

As estatísticas dizem que o sistema ferroviário espanhol é mais seguro do que a média europeia. Entre 2008 e 2011, aconteceram 218 acidentes no país, bem menos do que a média europeia no período, de 426.

MSB/rtr/ap/dw

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