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Alzheimer ainda não tem cura, mas pesquisas avançam em várias frentes

12 de janeiro de 2013

Diagnóstico precoce, identificação de fatores de risco e novos medicamentos que reduzam a perda cognitiva e os sintomas dos pacientes afetados estão entre as prioridades de médicos e cientistas.

Foto: Neurologen und Psychiater im Netz

Quase um quarto das pessoas com mais de 85 anos sofre de perdas de memória relacionadas ao mal de Alzheimer, conforme mostram dados da Organização Mundial de Saúde (OMS). A estimativa apontada pelo relatório a Doença de Alzheimer no Mundo, publicado pela Alzheimer's Disease International (ADI), indica que em 2010 cerca de 35,6 milhões de pessoas viviam com algum grau de demência. A previsão é de que o número duplique em 20 anos e chegue a 115,4 milhões em 2050. Dois terços dos casos de demência são relacionados a esse mal.

O Futurando desta semana mostrou uma pesquisa de ponta que pretende ajudar pacientes com o mal. Os médicos apresentados na reportagem trabalham na busca de um diagnóstico precoce, antes que a doença provoque lesões visíveis no tecido nervoso. Os pesquisadores querem reconhecer a presença da doença antes que seus sintomas – marcadamente a perda progressiva da memória, compreensão e linguagem do paciente – se agravem, interferindo na capacidade cognitiva e de convívio social.

O conjunto de sintomas que caracteriza o mal de Alzheimer – ou Doença de Alzheimer (DA), como é tratada na literatura médica – foi enumerado pela primeira vez em 1906 por um médico alemão. Alois Alzheimer descreveu os sintomas de sua paciente Auguste Deter e criou um referencial para futuros diagnósticos. Mas, apesar de ser amplamente estudada, a doença ainda não tem cura.

Atualmente, o FDA norte-americano, que regulamenta a distribuição de medicamentos naquele país, tem cinco drogas aprovadas para o tratamento dos sintomas em diferentes estágios da doença. Mas os pesquisadores estão em busca de outras armas.

Dois estudos simultâneos, apresentados recentemente em uma conferência sobre neurologia em Boston, nos Estados Unidos, trouxeram algum alento a quem já desenvolveu a DA. Eles confirmam resultados positivos em 34% de pacientes nos testes de uma nova droga: a solanezumab tenta limpar os depósitos de placas que interferem no funcionamento do cérebro dos pacientes.

Cientistas querem identificar a doença antes que ela provoque danos no cérebroFoto: DW

Diagnóstico

No final do ano passado, cientistas da Universidade americana de Columbia identificaram alterações na densidade da massa cinzenta de indivíduos entre 18 e 26 anos pertencentes a um grupo populacional específico que teria uma predisposição para desenvolver uma forma rara da DA, ligada a fatores genéticos.

Nos pacientes com a mutação, os cientistas também encontraram no líquor altos níveis de uma proteína chamada Beta-amilóide, que aparece na formação das placas senis encontradas no cérebro dos doentes. “As descobertas sugerem que as mudanças neurodegenerativas ocorrem mais de 20 anos antes dos primeiro sintomas e antes ainda do que sugeriam pesquisas anteriores”, comentou Nick Fox, do Centro de Pesquisa sobre a Demência da Universidade College de Londres.

Um grupo de 80 cientistas liderados pela mesma universidade apresentou outro avanço. Eles encontraram uma ocorrência maior de um gene em particular – o R47H – em quantidades significativamente elevadas em um grupo de pacientes com Alzheimer em relação a um grupo de controle. A coordenadora da pesquisa, Rita Guerreiro, explica que se trata de uma variante muito rara, presente em apenas 0,2% da população e que, embora não seja a causadora da doença, é um fator de risco.

"Esta é uma das descobertas mais influentes dos últimos 20 anos porque é um gene novo que tem uma variante com um risco médio ou forte. Isto vai permitir estudar novos genes, novas proteínas, novas moléculas que vão interagir com este gene", resumiu Rita Guerreiro.

Já outra equipe de pesquisadores, do centro de CODE Genetics, na Islândia, estudou o genoma completo de 1.795 pessoas do país e identificou uma mutação de um gene, o APP, que seria responsável pela redução em até 40% da formação da proteína amilóide em idosos saudáveis. O estudo mostrou que a função cognitiva estava mais preservada nos idosos entre 80 e 100 anos que possuem o tal gene do que em outros que não possuem.

O coordenador da equipe, Kari Stefansson, disse tratar-se “do primeiro exemplo de uma alteração genética que confere proteção forte contra a doença de Alzheimer”. Na avaliação dos especialistas, essa mutação genética tem o poder de bloquear a deterioração cognitiva dos idosos e pode ser um novo ponto de partida para o desenvolvimento de fármacos mais eficazes contra a doença.

IE/afp/lusa/ap
Revisão: Mariana Santos