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Alzheimer: memórias perdidas podem ser recuperáveis

18 de março de 2016

Estudo publicado pela revista "Nature" sugere que pacientes com o mal degenerativo podem ser capazes de formar novas lembranças. Pesquisadores chegaram à conclusão após estimular áreas específicas do cérebro de ratos.

Foto: Colourbox

Uma pesquisa divulgada nesta semana pela revista científica Nature aponta que os portadores da doença de Alzheimer talvez não tenham "perdido" a memória. Em vez disso, eles podem simplesmente ter dificuldades de acessá-la.

Segundo a revista científica, o estudo contradiz a noção de que o mal de Alzheimer impede o cérebro de produzir novas lembranças. A pesquisa também sugere que a estimulação cerebral pode fomentar, temporariamente, as memórias dos pacientes nos primeiros estágios da doença, diz a Nature.

O estudo se baseia em trabalhos anteriores realizados por seu principal autor, o neurocientista e Prêmio Nobel de Medicina Susumu Tonegawa, e seus colegas do Instituto de Tecnologia de Massachussetts. Eles já haviam demonstrado que, em certos tipos de amnésia, as memórias estavam armazenadas, mas não podiam ser recuperadas.

Os cientistas questionam há anos se a amnésia provocada por um traumatismo craniano, estresse ou doenças como o Alzheimer resulta de danos em células cerebrais específicas, o que tornaria impossível recuperar as memórias, ou se o problema está no acesso a essas lembranças.

Tonegawa disse que pesquisas em ratos mostraram que estimulando áreas específicas do cérebro com luz azul, os cientistas conseguiram fazer com que os animais recuperassem memórias que de outra forma teriam permanecido inacessíveis.

Susumu Tonegawa: "É uma boa notícia para os pacientes"Foto: tonegawalab.org

"Assim como os seres humanos, os ratos tendem a ter um princípio comum em termos de memória. Nossas descobertas sugerem que os pacientes com a doença de Alzheimer podem manter suas lembranças no cérebro, ao menos nos primeiros estágios, o que aponta para a possibilidade de uma cura", afirmou o neurocientista.

Memórias reativadas

A equipe de Tonegawa utilizou ratos geneticamente modificados para exibir sintomas similares àqueles de humanos que sofrem do mal de Alzheimer – doença degenerativa que afeta milhões de adultos em todo o mundo.

Os animais foram colocados numa caixa por cujo fundo passava uma corrente elétrica de baixo nível – o que lhes fazia sentir um choque elétrico desagradável nos pés, mas não perigoso.

Um rato não afetado pela modificação genética foi colocado de volta na mesma caixa 24 horas depois e tremeu de medo, antecipando a mesma sensação desagradável. Os animais com deficiência de memória semelhante ao mal de Alzheimer não demonstraram temor, sugerindo não ter nenhuma lembrança da experiência.

No entanto, quando os pesquisadores estimularam áreas específicas do cérebro dos animais – as chamadas "células de engramas" associadas à memória – com uma luz azul, os ratos se lembraram aparentemente do choque.

O mesmo resultado foi observado ao colocar os animais numa caixa diferente, sugerindo que a memória que havia sido retida estava sendo reativada.

Esperança na fase inicial

Ao examinar a estrutura física do cérebro dos ratos, os pesquisadores notaram que aqueles afetados por condições semelhantes à doença de Alzheimer tinham menos canais pelos quais são formadas as conexões sinápticas.

Através de repetidos estímulos luminosos, os cientistas puderam aumentar o número desses canais para níveis comparáveis a animais saudáveis. Em determinado ponto, não foi mais necessário estimulá-los artificialmente para suscitar a reação de medo diante da caixa.

"As memórias dos ratos foram recuperadas através de uma cura natural", disse Tonegawa. Isso significaria que os sintomas da doença de Alzheimer foram curados, ao menos em seus estágios iniciais, segundo o neurocientista.

"É uma boa notícia para os pacientes", afirmou o Nobel da Medicina. "Pacientes numa fase inicial da doença podem vir a ser curados no futuro, desde que se desenvolva uma nova tecnologia em acordo com requisitos éticos e de segurança", ponderou.

Os investigadores estimam, no entanto, que a técnica só funcione durante alguns meses nos ratos, ou durante dois ou três anos nas pessoas, até a doença avançar de tal forma que elimine todos os possíveis ganhos.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) avalia em 47,5 milhões o número de pessoas no mundo afetadas por demências, sendo de 60% a 70% atingidas pela doença de Alzheimer, que por enquanto é incurável.

CA/afp/lusa/ots

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