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América Latina espera um Papa mais próximo da realidade local

1 de março de 2013

Bento 16 não conquistou os corações dos latino-americanos na mesma medida que o antecessor, João Paulo 2º. Do próximo Papa, eles esperam sobretudo mais proximidade com o maior continente católico do mundo.

Foto: REUTERS

Quase metade do total de 1,1 bilhão de católicos do mundo vive na América Latina. Em nenhum outro continente a parcela de católicos entre a população é tão alta, chegando a cerca de 80%. Enquanto João Paulo 2º é até hoje adorado como um santo, do México até o Chile, seu sucessor Bento 16 permaneceu distante, dono de uma personalidade mais fria, europeia e dogmática.

O Sumo Pontífice visitou a América Latina duas vezes. A primeira viagem foi ao Brasil, o maior país católico do mundo. A Igreja Católica perde influência entre os brasileiros, que abandonam cada vez mais o catolicismo em favor das igrejas evangélicas. A resposta de Bento 16 à concorrência religiosa foi um apelo aos padres brasileiros para que disseminem a crença e a esperança com uma dedicação "verdadeiramente missionária".

Hoje, "apenas" 75% dos brasileiros se dizem católicos. Há 20 anos, eram 90%. As posturas dogmáticas e rígidas de Roma sobre a sexualidade, o controle de natalidade e o aborto têm pouco a ver com a realidade dos brasileiros.

No México, maior país católico de língua espanhola do mundo, onde a Igreja é mais respeitada que qualquer outra instituição, Bento 16 esteve somente em 2012, ou seja, no sétimo e penúltimo ano de seu pontificado.

A visita foi, contudo, ofuscada pelas discussões sobre os escândalos de abuso sexual dentro da Igreja Católica. O Papa não quis se encontrar com as vítimas. Elas o acusam de ter evitado o esclarecimento de muitos casos ainda nos tempos em que era o cardeal Joseph Ratzinger, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé.

Apesar de serem a maioria dos católicos, latino-americanos tem poucos representantes no conclaveFoto: THOMAS COEX/AFP/Getty Images

Quando ainda era cardeal e exercia essa função, Ratzinger contribuiu decisivamente, desde os anos 1970, para calar os defensores da Teologia da Libertação – algo que a América Latina não esqueceu até hoje. No Conselho Episcopal Latino-Americano foram colocados teólogos em parte próximos à ultraconservadora organização Opus Dei. A "opção pelos pobres" foi declarada oficialmente como uma inversão de cunho marxista da fé e centenas de teólogos foram proibidos de pregar e ensinar.

Dos 115 cardeais que vão escolher o novo Papa, 19 são latino-americanos. É, contudo, pouco provável que um deles venha a herdar o posto de Bento 16, mesmo que o arcebispo de São Paulo, cardeal Odilo Pedro Scherer, seja considerado favorito, ao menos na América Latina.

Scherer pertence à ala conservadora da Igreja e tem bons contatos no Vaticano. Em julho próximo, acontece no Brasil a Jornada Mundial da Juventude; em 2014, a Copa do Mundo; e em 2016 as Olimpíadas no Rio de Janeiro. Um Papa brasileiro seria visto como mais uma conquista para o país, embora os católicos em toda a América Latina anseiem sobretudo por um pontífice que se mantenha próximo à realidade de suas vidas cotidianas.

Autora: Mirjam Gehrke (sv)
Revisão: Alexandre Schossler

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