América Latina falha no combate ao casamento infantil
3 de maio de 2023
Matrimônios com menores de idade diminuíram no mundo, mas situação latino-americana pouco mudou nos últimos 25 anos. Brasil é o sexto país do mundo em número de casamentos de meninas com menos de 18 anos.
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Todos os anos, 12 milhões de meninas em todo o mundo são obrigadas a se casar antes de completar 18 anos. O combate ao matrimônio infantil anda em ritmo lento e, se continuar assim, essa prática só será erradicada em 300 anos, advertiu o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) em relatório publicado nesta quarta-feira (03/05).
O fim do matrimônio infantil até 2030 está entre as metas dos Objetivos do Milênio, no entanto, apesar dos progressos em algumas regiões, principalmente na Ásia, o combate ao casamento de menores de idade permanece praticamente estagnado nos últimos 25 anos em vários locais. Para alcançar a meta, o Unicef estima que os progressos no combate a essa prática deveriam ocorrer a uma velocidade 20 vezes mais rápida.
Globalmente, a porcentagem de matrimônios forçados caiu de 21% para 19% nos últimos anos. Mas ainda há cerca de 640 milhões de mulheres e meninas vivendo mundo afora após se casarem, em uniões formais ou informais, antes de completar 18 anos.
"Múltiplas crises destroem as esperanças e sonhos de crianças em todo o mundo, especialmente de meninas, que deveriam estar estudando, e não se casando", afirmou a diretora-executiva do Unicef Catherine Russell, durante a apresentação do relatório.
Estagnação na América Latina
A Ásia foi a região que mais conseguiu reduzir o número de matrimônios infantis. A possibilidade de uma menina se casar caiu de 46% para 26% nos últimos anos. O Unicef estima que a região deve erradicar essa prática em até 55 anos, se continuar no ritmo atual. O fenômeno também recuou no Oriente Médio.
De acordo com o relatório, a América Latina é uma das regiões do mundo onde a luta contra o matrimônio infantil menos avançou nos últimos 25 anos, ficando apenas atrás da África Subsaariana. A persistência do fenômeno na região não é homogênea e mostra grandes diferenças se forem levadas em conta as diferenças sociais.
"As tendências mostram uma divisão persistente entre ricos e pobres: o casamento precoce é raro nos segmentos mais ricos, enquanto há resistência a mudanças entre os mais pobres", destaca o relatório.
O documento mostra que houve uma diminuição da prática entre as camadas sociais mais abastadas da América Latina, no entanto, entre os mais pobres, houve um aumento de casos. Esse fenômeno só repete na África.
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Brasil em sexto lugar em casos de matrimônios infantis
A Índia é o país do mundo que mais concentra casamentos de menores de idades e registra um terço dos casos do mundo (216 milhões). Em segundo e terceiro lugares, estão Bangladesh e China, respectivamente
O Brasil é o sexto país do mundo em relação a casos de matrimônio infantil (21,5 milhões). Ao lado do México, que está em nono lugar, são os dois únicos países da América Latina a figurar entre os dez primeiros da lista. Os dez países que seguem a Índia concentram mais um terço dos casos do mundo.
O relatório destaca que o matrimônio infantil "é uma prática que afeta toda a vida: o casamento precoce interrompe a educação de uma menina, sufoca suas oportunidades e a isola no contexto de uma relação adulta na qual ela não pode reivindicar seus direitos".
O documento lamenta ainda que "essa violação do direito das crianças seja vista por muitas famílias como uma medida de proteção para meninas, que recebem com o casamento proteção financeira, social e física". De acordo com o Unicef, essa visão ajuda a explicar a prevalência do fenômeno, apesar das campanhas para sua erradicação.
cn/lf (EFE, DPA, EPD, KNA, ots)
As promessas não cumpridas para a infância
Em muitos países os direitos mais fundamentais das crianças não são respeitados e elas estão sujeitas à pobreza, ao trabalho infantil, à prostituição, ao tráfico de pessoas e à escravidão.
Foto: Mustafiz Mamun
Cotidiano de trabalho infantil
Como este menino, mais de 4,5 milhões de crianças precisam trabalhar em Bangladesh – muitas vezes em empregos perigosos e recebendo baixos salários. A separação de lixo ou de trapos é muitas vezes vista como um trabalho razoavelmente bom.
Foto: Mustafiz Mamun
Trabalhar em vez de brincar
Enquanto milhões de crianças frequentam a escola e têm tempo para brincar, outras, como esta menina em Bangladesh, podem apenas sonhar com isso. Em vez de brincar, ela tem que carregar pedras todos os dias, sofrendo com todas as consequências negativas para sua saúde e seu desenvolvimento.
Foto: Mustafiz Mamun
Trabalhar, comemorar – ou lutar?
O objetivo do Dia Mundial da Criança é conscientizar o público sobre questões como a proteção e direitos das crianças. Alguns países lembram a data em 1º de junho, e a Alemanha, em 20 de setembro. Já a ONU celebra em 20 de novembro, o dia que, no ano de 1989, a Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos das Crianças foi adotada.
Foto: Mustafiz Mamun
Sob a ameaça de uma máquina
Nem mesmo no Dia Mundial da Criança há tempo para jogos e brincadeiras: esta criança de 11 anos opera uma máquina numa fábrica de telas contra mosquitos no sul da Índia. Muitas vezes, em tais fábricas, as medidas de segurança são insuficientes, gerando riscos consideráveis para a integridades física e também para a vida.
Foto: picture-alliance/imageBROKER
Comovente
Anil, de 27 anos e que trabalhava em canais de drenagem, morreu após um acidente em Déli, deixando um filho. O repórter Shiv Sunny publicou a foto do menino, de 11 anos, chorando junto ao corpo do pai. A imagem levou muitos a lágrimas e doações, que chegaram ao equivalente a 37.500 euros.
Foto: Twitter/Shiv Sunny
Crianças-soldados
O recrutamento de crianças-soldados é considerado uma das formas mais brutais de exploração de menores de idade. Este jovem combatente da milícia somali Al Shabaab mostra que teve ferimentos em uma das mãos. Não melhor do que ele estão outras milhares de crianças que têm que trabalhar como prostitutas, traficantes de drogas ou escravas.
Foto: Getty Images/AFP/M. Dahir
Muros e fronteiras
Mas não apenas o trabalho infantil é um problema: o então presidente dos EUA, Donald Trump, mostrou mais uma vez sua insensibilidade ao mandar separar crianças de pais que cruzassem a fronteira dos EUA ilegalmente. Foi necessário um clamor internacional para que ele mudasse de ideia.
Foto: Reuters/J. Luis Gonzalez
Em busca de um recomeço
Longe dos pais, dois jovens buscam um recomeço na Alemanha. Eles preparam suas refeições na cozinha de um lar para refugiados no mosteiro Lehnin, no estado de Brandemburgo. Os refugiados menores de idade, em especial os desacompanhados, dependem de ajuda para recomeçar suas vidas.
Foto: picture alliance/dpa/B. Settnik
Depósito de lixo? Não, moradia
Este menino vive e trabalha num aterro de lixo localizado nas proximidades do rio Bhagmati, em Kathmandu, capital do Nepal. Sem qualquer proteção, ele procura por objetos que possam ser úteis.
Foto: picture-alliance/imageBROKER
Índios "chineses"
Estes jovens chineses celebram o Dia Mundial da Criança num jardim de infância em Yiyuan. "Crianças precisam de espaços livres", que é o lema do Dia Mundial da Criança de 2018, parece ter sido ao menos parcialmente implantado aqui.
Foto: picture-alliance/dpa/Xinhua/Z. Dongshan
"Eu tenho um sonho!"
Esta menina em Bangladesh mostra um desenho que fez para o Dia Internacional da Criança: nele, jovens brincam despreocupadas num dia de sol.
Foto: p-cture alliance/Pacific Press/M. Hasan
Liberdade limitada
Três meninas paquistanesas se divertem num passeio de carruagem, uma brincadeira que muitas crianças, sejam ricas ou pobres, também gostariam de fazer. Mas será que elas terão essa liberdade por muito mais tempo numa sociedade patriarcal?